Na semana passada, equivocadamente, dei por concluída a série de colunas sobre o Design Gráfico e a Produção de Arte. Mas devemos “pegar carona” neste assunto novamente para falarmos também da importância da programação visual dos veículos de cena, parte imprescindível na composição cênica. O Design acompanha a alma do veículo, atribuindo a ele propriedade, de acordo com a estória e personagem.
Imagine o comboio de carros de circo acima, sem a sua identidade visual aplicada.A escolha dos veículos, da tipografia, do layout e suas cores, corresponde à mensagem que a Produção de Arte e Designer desejavam transmitir ao telespectador: O Gran Circo Tenório, formado por uma pequena trupe, tinha características de um modesto circo brasileiro, do interior, com toques nostálgicos dos grandes espetáculos do passado (“Araguaia”, 2011).
Do mesmo modo, notem como as interferências de Design contribuem para o dressing indiano destes veículos da foto abaixo, como um todo. O entendimento e a percepção de que o telespectador está na Índia são claros. O resultado é harmonioso e condizente com o panorama da cidade cenográfica de “Caminho das Índias”, 2009.
Tuk-tuks de “Caminho das Índias”, 2009.
Ônibus da cidade cenográfica de “Caminho das Índias”, 2009.
A interferência do Design é a ainda mais evidente quando comparamos dois veículos do mesmo tipo, utilizados para fins e novelas diferentes. É o caso da comparação do caminhão da cidade cenográfica de “Caminho das Índias”, 2009 e o caminhão de mudanças dirigido por Apolo (Malvino Salvador) na novela “Haja Coração”, 2016.
Caminhão de Apolo, “Haja Coração”, 2016 e caminhão da cidade cenográfica de “Caminho das Índias”, 2009
Parece óbvio, mas raramente nos deslocamos da estória para compreendermos o Design Gráfico como ferramenta de identificação tão poderosa. As diferenças de programação visual dos dois veículos acima são gritantes. Um outro exemplo segue abaixo:
Ônibus de “Malhação” 2015, “Mister Brau” 2015, “Cheias de Charme” 2012 e “Conexão Xuxa” 2007
Três roupagens diferentes caracterizam os ônibus. A primeira, à esquerda, define um ônibus comum de linha do sistema de transporte público brasileiro (“Malhação, Seu Lugar no Mundo” 2015). Já ao estilo dos superluxuosos do show-business,temos dois ônibus de “pop-star” para as Empreguetes(“Cheias de Charme” 2012) e “MisterBrau” 2015, respectivamente). Por último, a foto mostra um ônibus-academia decorado para o programa “Conexão Xuxa” 2007, que rodou pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro, enquanto os competidores corriam em esteiras ergométricas em seu interior.
No caso de veículos de órgãos públicos, oficiais e corporativos, o Design Gráfico deve sempre respeitar os padrões estabelecidos pelas normas vigentes, conferindo assim, superior realismo ao produto final, mesmo que usando marcas e números fictícios. É o caso dos carros de Polícia (Civil, Federal e Militar), Ambulâncias, Forças Especiais, Táxis, Carros de Bombeiro, entre outros, sempre correspondendo à cidade e ao país de origem.
O Design obedece ao layout, padronagem de cores, símbolos e numeração oficiais, com poucas liberdades criativas. A autoridade do veículo depende desses fatores. Alguns exemplos abaixo:
Três Ambulâncias de países diferentes (Istambul, Brasil e Espanha), novela “Salve Jorge”, 2013
Carros das Polícias Militar, Civil e Federal (a única com logomarca verdadeira, por autorização especial) da novela “Salve Jorge” 2013, incluindo um de Istambul (segundo, da primeira fila). Apelidado de “Baratinha”, fusca utilizado pela Polícia Militar entre 1963 e 1987, “Os Dias Eram Assim”, 2017 (primeiro, à esquerda)
Forças Especiais DARCO (Divisão de Combate às Ações Criminosas Organizadas), “A Regra do Jogo” 2016, e Forças Especiais de Istambul, “Salve Jorge”, 2013
Mix (da esquerda para direita): helicóptero “Conexão Xuxa” 2007, Bote de Resgate de Bombeiros “Malhação, Seu Lugar No Mundo”2015, YellowCab “América” 2005, Jipe de Turismo da Capadócia, Táxi de Madri, Carro de Bombeiros de Istambul, “Salve Jorge”2013.
Seguindo a mesma linha do realismo no Design dos veículos corporativos, tal approach também é feito para carros de corrida e esportivos, apesar de desfrutarem de muito maior liberdade de criação. As cores, logomarcas dos patrocinadores, números, e layout impactantes, convencem os telespectadores de que realmente estão nesse ambiente de corrida e campeonato. Vejam os exemplos abaixo:
“Haja Coração” 2016, carros de rally de Tamara (Cléo Pires) e Apolo (Malvino Salvador)aja Ha
Como já apresentado em coluna anterior, “stock car” de Gerson Gouveia (Marcello Antony), “Passione”, 2011
Já quando o esporte é diversão, as possibilidades são infinitas, mas o objetivo é o mesmo: instruir o telespectador.
Buggies nas cores dos times do programa “Conexão Xuxa”2007
Até os carrinhos elétricos usados nos Estúdios Globos não escapam das mãos dos Designers, e muitas vezes saem dos bastidores para serem usados em cena.
Da esquerda para a direita: carrinho para o Programa “Adnight”2016, “Esquenta”2015, e para a Campanha de Natal da Coca-Cola, “Adnight”2016.
Carrinhos para o “Vídeo Show” de 2016 e para o “Mais Você” de 2010 e 2012
Na semana que vem, partiremos do Design para mais curiosidades e bastidores. Até breve!