As Tops do Kacic: Crítica: Super Dark Times (2017)

Não se deixe enganar pelo título do filme: o estiloso exemplar indie Super Dark Times (EUA, 2017), filme de estreia do diretor Kevin Phillips, e cuja narrativa é ambientada há duas décadas inteiras atrás, lembra seu público de que os adolescentes daquela época já eram perfeitamente capazes de destruírem a si mesmos e uns aos outros, muito antes do advento da internet, dos celulares e das mídias sociais, que nos dias de hoje apenas auxiliam os jovens a continuarem se destruindo.

Um intermitente e violento estudo sobre amizade, culpa, suspeita e psicose, escrito pelos também estreantes Ben Collins e Lukas Piotrowski, Super Dark Times estreou com elogios no Festival de Rotterdam deste ano, com sua fotografia, edição e score musical impactantes, e performances vívidas e convincentes de seu jovem e talentoso elenco.

Phillips, Collins e Piotrowski trabalharam previamente juntos no curta de 11 minutos exibido no Festival de Cannes 2015, Too Cool For School, que eu após assistir à este Super Dark Times, consegui encontrar e conferir na internet. Aqui, o trio se reúne ao cinematógrafo Eli Born e o editor Ed Yonaitis para contar uma história que, de maneira consciente, ecoa a vibe de obras como Juventude Assassina (Tim Hunter, 1986), e Conta Comigo (Rob Reiner, 1986), em termos de enredo, ao mesmo tempo em que remete aos temas e estilo do cultuado Donnie Darko (Richard Kelly, 2001), além de produções dos mestres John Carpenter e David Cronenberg, especialmente as que tem alguma cidade pequena como cenário da narrativa. Há também uma sutil lufada da aventura Super 8 (J.J. Abrams, 2011) e da série-sensação Stranger Things, mas a produção tem o seu próprio e distinto sabor, o que evita que o filme soe excessivamente referencial ou derivativo.

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À frente da narrativa está Zach (Owen Campbell, da série The Americans), um esperto estudante do colegial que é o melhor amigo de seu vizinho Josh (Charlie Tahan, da série Wayward Pines), por praticamente toda a sua vida. Num dia qualquer, a dupla está de brincadeira em um parque ao lado de dois conhecidos, quando uma combinação de hormônios adolescentes, maconha e uma espada samurai, termina em sangrentas consequências para um dos membros do grupo. Desesperados para esconder a tremenda besteira que fizeram, o grupo coloca seus relacionamentos e amizade em xeque, desconfiados uns dos outros, complicando ainda mais as chances de um romance entre Zach e a boa-moça Allison (Elizabeth Cappuccino, da série da Marvel/Netflix Jessica Jones).

Ainda que Phillips e seus roteiristas, editor e diretor de fotografia sejam estreantes nas telonas, Super Dark Times se beneficia bastante da experiência de veterano dos diretores de casting Susan Shopmaker e Lois J Franklin (Martha Marcy May Marlene, Guerra dos Mundos). A dupla foi incrivelmente eficiente em juntar um forte elenco já com certa experiência e notoriedade em alguns projetos cinematográficos e séries, os mais conhecidos deles sendo Charlie Tahan e Elizabeth Cappuccino, que formam o quase-casal do filme.

O cerne do filme reside em traçar a rápida maneira com que a dinâmica entre os indivíduos envolvidos, todos em seus anos finais do colégio, se altera constantemente. Principalmente pelo fato de todos estarem imersos em uma situação exacerbada pelas extremas e sangrentas circunstâncias, capazes de desequilibrar completamente a condição mental e emocional de todos os personagens centrais. Esta percepção sobre a inconstante dinâmica embebida no grupo de protagonistas, ganha profundidade na atmosférica fotografia em widescreen de Born, toda digital, filmada com lentes 35mm, que retrata a tranquilidade da pequena e não-identificada cidade onde se passa o filme, e o gritante oposto que consiste a situação em que se encontram os personagens centrais. A edição fluente de Yonaitis e o bem modulado score de Frost, só contribuem no resultado final.

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Os detalhes sobre o período em que se passa a história dão um charme extra à produção. O Walkman ainda simbolizava o ápice da tecnologia, e o então presidente Bill Clinton falava na TV, mais precisamente em Dezembro de 1995, a janela de tempo específica em que Super Dark Times se desenrola. Phillips, que era ele próprio um adolescente na época, dirige com mão firme e controlada sua pequena mas eficiente produção. O bom trabalho do diretor é evidente, em um filme que por vezes se arrisca pelo roteiro que insiste em ser mais intrincado do que precisa, que exagera um pouco em algumas desnecessárias sequências de sonho/fantasia, e que perde inspiração em seus momentos finais. Entretanto, há muita coisa interessante acontecendo aqui, o suficiente para colocar o nome de Phillips e de seus colaboradores no mapa da cena indie americana.

Super Dark Times não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país através de serviços de streaming e VOD.

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Uma resposta

  1. Uma grata surpresa.

    Conseguimos ver as influências de outros trabalhos em Super Dark Times, mas como você apontou, ele tem o seu estilo próprio.

    O filme tem bastante simbologia e permite algumas interpretações. Foi interessante notar também a mudança de tom que vai acontecendo. Fui assistir sem saber nada e num primeiro momento parecia estar diante de uma aventura adolescente sem muitos perigos, ledo engano. Aquela cena inicial com o animal agonizando na sala do colégio era uma pista de que as coisas ficariam violentas.

    Ótimo texto.

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