Prontos para desbravarmos mais um segmento sobre o extraordinário trabalho dos Aderecistas na Produção de Arte e Cenografia? Nas duas últimas colunas, vimos o papel como matéria-prima principal do Adereço, adquirindo forma e volume e se tornando tridimensional através de dobraduras e com simples ferramentas como tesoura, estilete, cola e fita adesiva. Hoje, e nas próximas colunas, veremos como o adereço se desprende do papel, agrega outros materiais e transmuta-se em objeto de cena e decoração do cenário, se não o cenário em si.
Um dos atrativos mais encantadores da televisão é sua capacidade de nos transportar para um mundo onírico e fantástico. E o adereço é um dos principais recursos utilizados para tornar possível e palpável, este universo do “faz-de-conta”.
Um belo exemplo desta materialização da fantasia é uma prova do programa “Tamanho Família” da temporada de 2016. Como na brincadeira da “Forca”, os participantes tinham que adivinhar palavras por meio de palpites de consoantes e vogais. A cada erro, perdiam um membro do corpo do seu bonequinho. Só que neste caso, a pedido dos autores e diretores do programa, o bonequinho seria um grande biscoito, com membros e cabeças que se desprendessem, e que ainda tivessem partes comestíveis!
A solução encontrada pela Produção de Arte e por um competente Atelier de Adereços foi bastante criativa e divertida. Inspirado no famoso “gingerbread man” americano, o corpo e cabeça do boneco-biscoito foram feitos com peças de isopor moldadas, cobertas com massa e pintadas com uma textura que se assemelhava a um biscoito de canela. Pequenos super imãs se incumbiam de unir as partes desmembradas ao corpo principal do boneco. As emendas foram disfarçadas por um biscuit branco idêntico ao glacê dos biscoitos verdadeiros decorados com o bico de confeitar. Já para as partes comestíveis, jujubas, biscoitos de diversos formatos, balas e pães de mel aplicados com cola de açúcar, serviram como adornos deliciosos.
Falando assim, parece até simples, não? Mas a realidade foi outra. Inúmeros testes foram realizados para que os imãs estivessem na potência correta. O participante não podia (ou poderia) encontrar dificuldade em (ou ao) retirar um braço ou perninha do boneco, mas ao mesmo tempo, imãs muito fracos poderiam desprender as partes do corpo antes da hora, principalmente a cabeça, que era a mais pesada. Para completar, a cola de açúcar é bastante frágil e suscetível a mudanças de temperatura. O transporte dos bonecos montados na Copa dos Estúdios para o interior do palco foi bastante tenso. Pequenas trepidações poderiam desmontar as balas e confeitos e colocar tudo a perder. Como a cola de açúcar demora aproximadamente 8 horas para secar, não havia possibilidade de retoque.
Mas todo o esforço valeu a pena. A brincadeira foi um sucesso, e a Juliana Paes e a Bruna Marquezine com suas famílias se divertiram e se deliciaram comendo as jujubas e palmiers dos cabelos enrolados da bonequinha. O sucesso foi tanto, que a prova teve um bis e se repetiu no episódio com as famílias da Cláudia Leite e Isis Valverde.
E já que estamos nesse mundo da fantasia, por que não observar a criativa saída para tornar realidade o clipe “Superfantástico” da “Turma do Balão Mágico” em uma prova do quadro “Lata Velha” do programa “Caldeirão do Huck”?
No clipe original, os brinquedos do quarto da “Turma do Balão” ganham vida e, juntamente com cópias em miniatura dos cantores, embarcam dentro de um zepelim com base em formato de foguete. Com a ajuda dos efeitos visuais, o dirigível mágico sobrevoa o Rio de Janeiro enquanto a turminha entoa a canção que virou parada de sucesso das crianças dos anos 80.
O clipe foi adaptado para o palco do “Caldeirão” com algumas licenças poéticas criativas. As miniaturas dos cantores foram substituídas por puppets feitos por aderecistas com roupas idênticas às dos cantores infantis. O zepelim de brinquedo foi todo feito em isopor forrado com tecido, e subia com os puppets encaixados no seu interior para o teto do estúdio. Para o gran finale, o diretor pediu à cenografia que as crianças voltassem ao palco a bordo de um outro zepelim-fantástico, construído em maior escala. Um banana boat serviu de assento, e um inflável oval substituiu o dirigível. As duas cabeças de cabelo verde na ponta dos dois zepelins também foram confeccionadas por aderecistas. Para decorar o cenário, vários mini balões de ar quente cenográficos, feitos manualmente com redes, bolas e cestos, pendiam do teto do palco. A prova foi emocionante.
E já que estamos falando de adereços voadores, que tal apreciarmos esta linda cegonha feita para o piloto do “Tamanho Família” em 2016? Sua função era sobrevoar o palco para introduzir a prova na qual os participantes tinham que adivinhar dentre um grupo de mães, quais delas correspondiam aos filhos que estavam no centro do palco. O pássaro foi todo feito em isopor, forrado com plumagem, pelúcia e penas longas cortadas em pvc branco flexível. Todo o material precisava ser resistente a chamas, para não ocorrerem acidentes com os refletores do grid do estúdio.
No mesmo slide, a linda asa feita para abrir o programa “Amor & Sexo” sobre autoestima, nesta temporada de 2017, feita pelo mesmo ateliê da cegonha do “Tamanho Família”. Em um estilo steampunk, as penas das asas receberam uma pintura em bronze.
Também na linguagem “steampunk” foi feita a traquitana de “transmissão de pensamento” para uma brincadeira do programa “Adnight” em 2016.
O aderecista decorou duas cartolas do acervo de figurino com elementos retro-industriais e mecânicos, aplicou uma textura acobreada, e as uniu com uma tubulação iluminada por leds. A traquitana descia do teto do palco ao início da brincadeira. A linguagem encontrada pela Cenografia, Arte e Adereço se encaixou perfeitamente ao “DNA” do programa, aproveitando as palavras dos próprios diretores.
Encerramos hoje por aqui, mas na semana que vem voltamos com mais curiosidades sobre este universo fantástico. Até lá!