As Tops do Kacic: Crítica – The Lodgers (2017)

De clima sombrio e ambientação luxuosa, este The Lodgers (Irlanda, 2017), é um horror que prioriza sua estética em detrimento da compreensão de sua narrativa por parte do público. Falando em público, o espectador em geral aprecia o horror gótico mais pela atmosfera do que propriamente pela narrativa, isso é fato. E The Lodgers certamente não tem em seu roteiro sua maior qualidade. Entretanto, este segundo filme do diretor irlandês Brian O’Malley (do eficiente Let Us Prey, 2014), capricha no climão sombrio, e com certeza vai agradar aos fãs de outras produções semelhantes do gênero, como o hit britânico A Mulher de Preto (James Watkins, 2012) ou o recente Marrowbone (Sérgio G. Sanchez, 2017), cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli.

No filme, os gêmeos órfãos Rachel (a bela Charlotte Vega, do recente O Assassino: O Primeiro Alvo) e Edward (Bill Milner, do thriller Operação Anthropoid), vivem afastados da população de uma pequena vila irlandesa, que fica próxima da impressionante e decadente mansão onde residem, e que pertence à sua família há gerações. Este afastamento se estabeleceu numa espécie de acordo tácito entre os gêmeos e o povo do vilarejo, já que todos (incluindo os gêmeos) acreditam que Rachel e Edward são amaldiçoados, e que tal maldição exige que a dupla viva isolada na mansão, não permitindo a entrada de estranhos no local. Os espíritos que supostamente habitam o subterrâneo da propriedade onde vivem parecem mais inquietos, agora que os jovens completaram dezoito anos de idade, o que sugere que eles também encontrarão em breve o mesmo destino de seus pais e seus avós: afogarem-se no lago do bosque da propriedade.

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Edward se tornou um homem mórbido, macabro e temeroso, que não pisa fora da casa desde que encontrou os corpos de seus pais há alguns anos atrás. Já Rachel não está contente em resignar a si mesma à um destino fatal, e em uma se suas raras idas ao vilarejo – afinal, alguém precisa comprar comida para ambos – ela encontra o bem-apessoado Sean (Eugene Simon, da série Game of Thrones), que acabou de retornar da Primeira Guerra Mundial com uma perna prostética. Seu sacrifício é pouco apreciado pelos locais, que dizem que o rapaz “lutava pelos ingleses”, e o amargo retorno do rapaz parece mudar quando seu olhar se cruza com o olhar de Rachel.

A entrada em cena de Sean desperta o desejo em Rachel, que até então não tinha outra opção para saciá-lo, a não ser recorrer à auto-satisfação ou à seu irmão, sendo que no que depender de Edward, não haveria problemas em consumar os aspectos mais incestuosos da “maldição”. Enquanto este perverso conflito triangular se desenvolve, outro conflito surge na figura de Mr. Bermingham (o veterano David Bradley, da franquia Harry Potter e da série The Strain), o representante legal da família, que chega para informar Rachel e Edward que suas finanças estão exauridas e que eles devem vender a casa. Estaria Bermingham dizendo a verdade? Ou estariam os irmãos sendo enganados pelo homem?

O roteiro à cargo do estreante David Turpin é adequado mas estreito, com algumas poucas complicações e uma mitologia que quando finalmente revelada, mostra-se bastante limitada. Curiosamente, estes aspectos negativos não atrapalham tanto assim o filme do diretor O’Malley, já que ele agrega tanto clima e encantamento visual à produção, que seu conto gótico acaba por ser hipnotizante para o espectador, o que inclui um clímax um tanto molhado que também não explica muita coisa. Contudo, talvez explicar demais as coisas não fosse mesmo o intuito de O’Malley e Turpin. (Quem são exatamente os “lodgers” ou “inquilinos” do título, afinal de contas?)

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Não acaba importando muito também a gama de interpretação por parte do elenco, que no geral entrega performances um tanto estáticas. Afinal, os atores não estão interpretando personagens completamente dimensionais, e sim figuras genéricas do gênero do horror gótico. As verdadeiras estrelas aqui, são a belíssima fotografia em widescreen à cargo de Richard Kendrick, e o soberbamente detalhado design de produção de Joe Fallover, ambas as vertentes cuidadas na ponta dos dedos pelo diretor O’Malley. Tanto Kendrick quanto Fallover aproveitam-se das requintadas locações irlandesas do Condado de Wexford, e da supostamente assombrada Mansão Loftus (que celebrou seu 666° aniversário em 2016). Como já deu para perceber, The Lodgers carece em força narrativa, mas compensa em clima e composição, se justificando como um bom novo exemplar do horror gótico.

The Lodgers não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente em serviços de streaming e VOD.

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Uma resposta

  1. Gosto de ler as críticas desse gajo para escolher o que assistir! Esse filme, por exemplo, não verei: uma vez que tudo o que ele elogia é ruim e tudo para o qual faz birrinha acaba sendo bom!

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