Há um sentimento que cochicha comigo. Acho que habita as minhas entranhas; um beco que ignoro a existência ou o inexorável baú da minha mente. Não sei.
Em dias de frio, como hoje, ele acorda comigo. Me cutuca, remexe, revira. Vaza pelos meus olhos, inquieto e sorrateiro, sem aviso prévio.
Ô peste!
Achei, por inocência ou ironia, que tivesse partido no último trem para os confins do mundo mas não. Debocha do tempo, dos anos que se passaram e esfrega-lhe a cara que ainda está vivo. E avisa que vai ficar.
Às vezes, ele brinca comigo: me joga para o passado, de um lado para o outro, flertando com meu futuro.
O que ele quer de mim é paciência.
Noite dessas me inundou. vestiu -se do meu corpo e saiu por aí, frases bonitas na boca, olhar de derreter gelo, malandro que só. Ele sabe que tem força. E o que ele quer de mim é coragem. Não sei se para assumi-lo de vez como parte minha ou por puro capricho, vaidoso que é.
Manhas de manhã de sol, bronze na pele, esse atrevido sentimento me quer sua…ah, quer! Publica suas vontades em praça pública nos arredores de mim, e retruca se o enfrento querendo que vá para dentro de novo. “Se fecha, peste. Não te dei ordens para sair e se espalhar na minha nova estrada. “
Dá de ombros e gargalha!!!
Desinfeliz! ou seria abarrotado de felicidade e é por isso que me vence? Me põe a sonhar com ele, traz sorriso a minha boca, me aquece o corpo feito fogueira de São João.
Qualquer dia desses eu pego de jeito esse diacho e boto pra falar com Deus. Ou com algum enviado se o Maior estiver muito ocupado. Mas, pego!
Assim como ele faz comigo, desavisado, me enfeita de amor, me põe minha cabeça a vacilar em seu nome…
Seja como for ele está aqui e eu, tão dona de mim, estou com ele. Para navegar por onde corra seu mar, por onde minhas águas façam cachoeiras.
Ah esse tal de amor… não há quem possa com ele.
Nem vida inteira vivida, nem 1000 anos de ausência.
Quando ele quer, todo ponto é apenas uma vírgula!
