Daquilo que vi

É outono.

A clara luz da manhã no azul cortante do céu anuncia um novo dia.

Olho para a multidão que transita apressada pelas ruas e penso sobre as tantas  histórias que carregam. Imagino os sonhos, os desafios, os amores, as desilusões…Com as cores que se vestem e revestem suas cascas imagino o estado de espírito…Sem julgamentos.

Somos parte da grande teia entrelaçada. Nossos registros digitais e únicos nos diferem. Nossas cores, origens, credo, caráter. Personalidades das mais diversas… Cada batimento cardíaco, cada inspiração, cada ritmo.

Instrumentos da grande orquestra da vida. Peças assimétricas e tão complementares de uma só engrenagem.

Observo um senhor que arrasta levemente uma das pernas em seu terno impecável… A alegria da menina ao avistar a mãe na saída da escola.

Nos carros, nos coletivos e nas motocicletas milhares de pessoas se cruzam a cada segundo ziguezagueando no frenético trânsito da cidade que não para mas, quase ninguém se conhece.

Vivemos tanto e conectamos tão pouco.

Na saída dos edifícios vejo a formação de alguns grupos na hora do almoço.

Células da grande colmeia a ilustrar as esquinas.

Os vendedores “ de quase tudo” ocupam as calçadas.

A trilha sonora da vida real por aqui é uma mistura ensurdecedora e excêntrica de buzinas, risadas, sirenes e vozes… Do canto da moça, das bandejas dos garçons, do motor dos automóveis.

Para onde quer que eu olhe e minha vista alcance há uma obra nascendo: britadeiras, caminhões e o martelar estridente das estacas.

Meu olfato reconhece a pluralidade das fragrâncias, cheiros e aromas… Das panelas fumegantes ao óleo diesel…

Das perfumarias ao cheiro de toda a gente.

É incrível como a vida se anuncia por debaixo do vestido azul da mulher de negros cabelos negros e pés inchados…No aperto de mãos e abraços de amigos à mesa de um bar…no beijo longo do casal na saída do cinema.

Enquanto observo e escrevo estas linhas o tempo escorre nos relógios da avenida principal.

O pequenino de uniforme escolar e chupeta passa por mim, mãos dadas com uma senhora, mas gira o rosto para me olhar nos olhos. Eu sorrio para ele e ele sorri largo de volta.

Suspiro.

Há uma sensação genuína de pertencimento em mim.

Meus olhos estão repletos de imagens enquanto minha mente registra as sensações que me permito perceber.

É hora de partir.

Sinto que, na fenda de tempo que abri para transcrever essa história, viajei milhares de quilômetros em minutos. Tantos endereços Brasil adentro!

É de fato mágico observar … A gente torna visível o que nos passa despercebido na urgência da rotina moderna e exercita a humanidade em nós, a empatia e pode agradecer com a mais intensa verdade, a oportunidade e a benção de estar Vivo!

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Imagem: Freepik

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