Poesia no concreto

O pequeno caule veio cheirar o mundo!

Abriu seus olhos,

Rompeu com o breu sob a terra,

Anunciou suas folhas, sua singular existência…

Nasceu, no brotar mais improvável.

Olhando de pertinho …

Ele é frágil, não há como negar.

À luz do sol experimenta o poder da vida e se conecta com tudo o que há debaixo do céu.

Ontem choveu.

Da sacada do apartamento, Manu olhava para a calçada atenta e curiosamente.

Teria, aquela pequena planta, sobrevivido à ventania? À chuva impiedosa? À tanta gente apressada passando por ela, carregadas por urgências?

E se não a tivessem notado?

E se tivessem pisoteado aquela pequena anunciação de vida?

Ela sabia que o caule havia conquistado uma fresta para desabrochar… Pensava no processo…no tempo de privação, em seu caminho embrionário, até romper as limitações e surgir.

Esgueirou-se o máximo que podia para olhar por entre as pernas dos passantes que iam e vinham na hora do almoço.

Num sobressalto de alegria ela identificou o caule.

Ele estava mais firme e vistoso do que nunca.

Havia ganhado um botão vermelho fogo! Esplendorosa rosa…rosa nascida no chão, em um vão, rodeada por concreto.

Manu inundou-se de felicidade!

Naquele instante compreendeu uma coisa tão verdadeira: quando é para ser, quando a gente quer de fato, a vida dá um jeito de acontecer.

Que a gente possa ser Vida brotando todos os dias.

Que a gente seja flor e semente que germina quando a manhã chega, mesmo que em árido sertão.

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Mara Raboni

 

 

 

 

 

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