Imperfeições em solo fecundo. Fios de água vermelha a circular, fluidos.
Nos meus terrenos irregulares, saliências do tempo. Pequenas erosões mapeiam as laterais das coxas em resposta ao acúmulo dos anos. Nos fios dos meus cabelos o engrossar de mechas brancas ganha espaço. Há penugens loiras que permanecem em toda a superfície de pele e imortalizam a ascendência. Longas mãos com seus dedos esguios donde saltam veias… no colo, pequenas sardas ressurgem alimentadas pelo astro rei . De meu abdômen a força muscular que ainda se vê e, sobre o ventre, um minúsculo raio se vê, acima do umbigo, perpetuando a vida que abriguei.
Meus olhos translúcidos abrigam traços das tantas experiências que vivi. O contar das horas, a passagem dos ventos por sobre meu rosto.
Olhos feito janelas comunicam-me com o mundo e com tudo o que é vivo.
É fato que o tecido que reveste minha alma já sofre algum desgaste por tanto chão percorrido… Escorrega gradualmente, mas é guardião da história da mulher que me tornei. E isso me basta.
Todos os meus órgãos estão afinados como os instrumentos da mais bela orquestra. Do ar que respiro límpido ao que solto sem receios expelindo dores, angústias, mazelas.
E quanto mais meus pés caminham por solos que traço mais vida ganho, terras novas conquisto, e braços abertos, voo em novos ares.
Meu corpo imperfeito vibra saudável e forte. Parte do todo. Célula por célula. E me preenche de alegria e serenidade ao descobrir- se diante do espelho. Porque embora ali, exista apenas a imagem refletida, sei a quem representa e o quanto de vida explode em looping infinito.
De amor me inundo. Sou mulher de vastos universos a povoar o meu país interior.
**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.
Imagens: Fotografo Fabio Bae- Estudio Vosh
Uma resposta
Fui procurar a que você anunciou e não achei. Mas achei essa, fantástica. Gosto da sua humildade injusta. Beijo.