Roberta de Moraes: Um dia

Um dia, quando a tempestade cessar a fúria dos sem-lei e a nova era trouxer uma nova gente faremos um mundo novo. Longe das cicatrizes da fome, dos miseráveis, dos excluídos… longe do passado absurdo dos sem-nome, dos sem teto, das crianças sem rosto e sem identidade.

Faremos o recomeço: um tempo de esperanças, da paz do que temos fome, da alegria de viver dia após dia, acordar, dormir, simplesmente. Criaremos a linguagem dos iguais: negros, pardos, brancos, catiços… os índios descerão de suas aldeias porque não precisarão mais esconder-se, a liberdade será de todos.

Um único pássaro a sobrevoar nosso mundo. Nenhuma dor, punição, raiva ou ressentimento poderá nos assolar porque seremos felizes de fato. Pularemos as poças d’água esquecidas pela dureza da vida adulta, falaremos sem censura… voaremos em nossas imaginações perdidas.

Nas asas do grande pássaro, flutuaremos e conheceremos todos os mundos que estão além de nós. Quebraremos os muros, as divisorias, as paredes… dormiremos todos sob o mesmo teto fitando o grande cosmos. A vida respirará como no princípio, livre do tóxico vapor da modernidade. Povoaremos o mundo: crianças nascerão uma após outra e falarão todas as línguas, unificadas pelo amor maior.

Seremos férteis vidas porque teremos nos semeado de boas novas. E quando enfim formos comtemplados pela luz suprema entenderemos o que somos, para que viemos para onde iremos, e tudo se esclarecerá. Mesmo diante das terras perdidas, das avalanches, dos maremotos… sobreviveremos!

E quando este dia chegar poderemos testemunhar a renascença, a descoberta e a verdade. E a grande mãe, nos tomará em seus braços e nos guiará ao caminho do Pai que tudo sabe e conhece. Espiaremos nossas cascas sem rejeição ou estranheza, entenderemos as razões e todas as perguntas cessarão porque voltaremos pra casa carregados de lições e ensinamentos.

Entenderemos o Sr do tempo, a origem e a passagem. Neste dia, o sol nascerá mais cedo e mais forte e a nós cegará a loucura do mundo terreno. Compreenderemos a fragilidade que fomos e nossos espíritos saltarão no mais belo voo em busca do imortal. E quando aterrisarmos teremos concluído o ciclo e estaremos inteiros . Senhores de uma era que descobriu o impensável, amou o simples e alcançou o inimaginável.

Assim, diante da evidência da continuidade, nos perdoaremos. Porque já termos sentido o gosto incomparável de sermos filhos e então, poderemos nos doar experimentando a doçura de sermos pais de nós mesmos. Quando este dia chegar teremos encontrado o topo da existência humana. E seremos um longínquo ponto de luz a dançar para sempre, junto as estrelas….

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