Em algum momento de nossas vidas, geralmente na fase adulta, somos obrigados a mergulhar para dentro e entender nossos próprios mistérios. A vida moderna nos esmaga o tempo. Somos para ontem, “urgenciamos” tudo. Essa pressa exagerada de viver de qualquer forma, custe o que custar, nos massacra de tal jeito que acabamos sem tempo pra sonhar. Perdemos a percepção das coisas, olhamos a superfície de tudo e vivemos de forma superficial. Muitas vezes, aquilo que realmente era importante, ao que devíamos ter dado total atenção passa…como coisa comum. Estamos vivendo a era da modernidade que reprime o experimentar, o degustar dos momentos, a delícia da vida. Parece que a competitividade profissional, a carência afetiva, a luta desenfreada por bens materiais nos tornou robôs dirigidos pela nossa própria ânsia e impulsividade. A clareza nos falta. Muitas vezes perdemos a objetividade, o foco, e vamos levando dia após dia, como uma somatória de acontecimentos. E é exatamente aí, que o lixo acumulado em nosso subconsciente passa a reger tudo.
Nos esquecemos dos amigos porque as contas estão vencendo, dormimos mal porque o tempo nos falta. Comemos qualquer coisa que nos apareça à frente, de preferência fast-food porque é fast. Nos fins de semana estamos tão cansados que o esgotamento nos impossibilita de desfrutar do que de fato interessa: o sol que nasce esplêndido todos os dias, os passarinhos, os filhos crescendo, a natureza gritando por ajuda… Os momentos de amor…Sim! Porque também o amor está fora de moda. Essa tal de modernidade nos cegou a tal ponto que ser cordial, honesto, puro de sentimentos, romântico, leal, virou estigma de loucura ou nos soa falso… O que era simples, vital para o emocional humano virou artigo de luxo. Diante disso, quando nos deparamos com a essência das coisas e pessoas, quando alguém nos desperta de fato para a mágica da vida estranhamos tanto que repudiamos. Ou pior, desconfiamos de sua veracidade. Portanto, se ainda há autocrítica em nós, devemos nos analisar duramente: Onde estão nossos sentidos e sentimentos primários? Para onde estamos indo e o quê estamos buscando?
Será que não estamos vivendo na inércia dos dias, sem propósitos, sem missões reais, sem estímulos, crença, sem fé nem identidade? Será que devemos agir, pensar e viver a vida coletivamente, sem nossa marca e realidade? A única verdade que temos é que esta existência é finita e pode estar sendo vivida aos trancos, atropelada pela vaidade excessiva, pela intolerância, pela incompreensão… pela falta de atributos morais fundamentais para a lucidez e consciência que este novo tempo nos pede. O “custe o que custar” de nossos dias atuais ainda há de nos custar. E muito.
Roberta de Moraes
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Respostas de 2
Quanta sensibilidade para traduzir esses “tempos líquidos” em que vivemos. Obrigado, Roberta!
Amei!!!!
Ameiiii o texto,é isso mesmo uma urgência em tudo, e no final nos perguntamos pra quê tamanha pressa? O Ter em razão do SER, amores “Líquidos” segundo o Filósofo Zigmunt Bauman,um “correr” louco,e no final as coisas mais simples e Belas da Vida passam despercebidas total,Você consegue no seu texto falar sobre uma sociedade adoecida, um SER Humano totalmente perdido no seu próprio Tempo.
Parabéns pelo texto!!!!
Sucesso!!!!
Adriana Oliveira (Psicóloga)