Como incluir pessoas com autismo em eventos sociais

Querida leitora,

A maioria de nós gosta de encontrar familiares ou amigos em eventos sociais. As conversas, as piadas, as risadas, a música e a comilança ficam em nossos pensamentos por vários dias. Essas oportunidades de compartilhar são muito ricas.

E planejar é muito simples: criamos um grupo de WhatsApp ou enviamos mensagens para todos e combinamos os ingredientes ou pratos que cada um levará. Podemos também ratear o custo para que alguém seja responsável pela compra. Pronto. É só chegar na hora combinada que tudo começa.

No entanto, para uma pessoa com autismo e sua família, esse simples evento pode ser um labirinto de desafios.

Começa pela comida. Aquilo que é um prazer e que sempre aparece nas confraternizações pode ser um desafio. Muitas pessoas com autismo têm intolerâncias a alimentos. Então vem a aflição: como ir a uma festa onde a comida que a criança adora, mas não pode comer, está lá à disposição?

Outras crianças têm extrema seletividade alimentar. Isso quer dizer que ela se recusa a experimentar comidas diferentes das que está acostumada. Podem sentir profunda aversão a outros alimentos, seja pela textura, cor, cheiro, gosto ou forma de apresentação.

Depois temos a música e luzes, que são agradáveis para todos, mas podem trazer sobrecarga de estímulos e desregulação para uma pessoa com autismo.

Além disso, a mudança de rotina pode ser muito desafiadora.  As famílias utilizam ferramentas visuais para antecipar eventos diferentes e reduzir a ansiedade das mudanças, mesmo que a alteração seja para um evento festivo. Qualquer imprevisibilidade deixa a criança em estado de alerta ou desregulada.

Essa realidade do dia a dia vai minando as forças e acaba levando ao isolamento dessas famílias. Nem sempre faltam convites ou carinho, mas o medo de que o ambiente possa ser demasiado para a pessoa com autismo leva a um recuo, um isolamento não escolhido, mas imposto pelas circunstâncias.

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Além disso, vem o julgamento dos conhecidos: a família se isolou depois do diagnóstico de autismo. Tem vergonha. Querem colocar a criança numa bolha. São superprotetores.

Nada disso é verdade, não queremos estar isolados, acredite, mas o desgaste as vezes é demais.

Por isso, não desista daquela sua amiga que tem um filho com TEA e faltou a todos as festas que você convidou. No próximo convite, que tal compartilhar com antecedência os detalhes do evento, as comidas e outras coisas que a pessoa pode esperar.

Tente dar oportunidade para que ela compartilhe suas preocupações e necessidades antes do dia e ofereça suporte ou sugestões sobre a alimentação. Eu muitas vezes perguntava qual comida seria servida e tentava levar algo semelhante que meu filho pudesse comer para participar.

Para amenizar os estímulos sensoriais, ofereça um cômodo da casa para descanso da pessoa com TEA, caso fique sobrecarregada. Ela poderá apagar a luz, colocar uma música calma. Ou talvez ela deseje apenas o silêncio. Sugira e permita que eles tragam uma manta ou objeto de conforto para esse momento.

Para reduzir a ansiedade sobre a novidade do evento. Envie uma foto de cômodos da sua casa e da fachada para que a família mostre à pessoa com autismo. Se quiser fazer algo mais maravilhoso: grave um vídeo curto para a criança convidando para sua festa.

Se você perder seu tempo fazendo isso tudo e ela não aparecer, ou ficar só por trinta minutos, não se ressinta. Entenda que o movimento também é desafiador para os pais e eles estão fazendo o melhor que podem.

Eu passei por inúmeras situações desgastantes em festas. Eu não sabia se confraternizava com as pessoas ou se corria atrás do meu filho impedindo que ele se machucasse ou que tomasse um alimento da mão de alguém.

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Em determinado momento, exaurida, deixei de sair. Não foi culpa de ninguém. A solução era ficar em casa com ele para nos poupar de tanta ansiedade. Depois de muito tempo, aos poucos, queridos amigos me resgataram do meu casulo. Fizeram esse passo a passo, me deram a mão. Sentir esse acolhimento e respeito foi maravilhoso.

Meu filho, hoje com 17 anos, tem muitas pessoas queridas que fazem o convite e já avisam que o cantinho dele está preparado com uma manta, caso ele precise. A questão alimentar está melhor, mas ainda utilizamos ferramentas visuais para antecipar locais e pessoas novas que ele conhecerá. As transições e mudanças são tranquilas e ele tem menos ansiedade com as novidades.

A inclusão de pessoas com autismo em nesses pequenos eventos sociais é mais do que uma série de ajustes práticos: é um ato de amor. E melhor: é possível! Nos ajude a divulgar a informação para ajudar mais famílias a tentar fazer esse carinho em alguma mãe atípica.

Sinta-se acolhida aqui! Me escreva sobre suas dúvidas ou compartilhe algum desafio se desejar. Será uma honra conhecer você melhor!

Um beijo e até a próxima quarta-feira.

@querotratamento

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

 

Imagem 01:  Jornalista inclusivo

Imagem 02: Bigstock

Imagem 03: Inclusão social – Batuque dos Autistas

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Uma resposta

  1. Me senti tão representada!
    Quantos julgamentos pelas lancheiras e brinquedos de apoio… quantos “como você é fresca”… ou “deixa a criança”… como se nosso desejo mais forte não fosse poder sentar, confraternizar, tomar uns drinks e só assistir nossos filhotes sendo crianças “livres”.
    Obrigada pelo carinho! Muito bom saber que não estou sozinha!

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