O Impacto Positivo do Tempo nas Experiências de Famílias Atípicas

Levar crianças com autismo à praia pode ser uma tarefa estilo missão impossível.

São muitas variáveis e várias coisas podem sair erradas. Os desafios começam com a hiperatividade e as dificuldades sensoriais. Claro que não há o mesmo impacto em todos nem na mesma intensidade, mas a textura da areia sob os pés, o som das ondas e a luminosidade forte do sol, a agitação e aglomeração podem ser estímulos esmagadores.

Aqui viagens já causavam ansiedade desde a primeira ideia sobre elas. A hiperatividade do meu filho tornava a praia particularmente difícil. Ele corria sem parar, sem perceber os perigos ao seu redor, aumentando o risco de acidentes. Esse comportamento, comum em crianças com Transtorno do Espectro Autista, aumentava o medo de perdê-lo na multidão ou perto da água.

 

A maioria de nós se isola e deixa de sair de casa, pois a ansiedade e medo são demais.

Mas como deixar de ir à praia? Não era possível desistir. Em busca de soluções, com o passar dos anos, decidimos procurar praias mais afastadas e desertas. A busca na internet: “praias desertas e seguras para crianças”. Foi assim que acabamos na Bahia

Chegamos à Praia do Espelho. Quem conhece aquela região sabe é um sonho: Espelho, Caraíva, praias com natureza intocada, imensas e praticamente vazias.

Logo no primeiro dia, tive uma das maiores alegrias da vida: Eu acostumada a brigar pelos espaços nas praias do litoral paulista, cheguei ao hotel beira mar e vi a praia deserta. Meu filho, então com 8 anos, correu e eu não precisei perseguir… foram 50, 100, 200, 300 metros. Ele parava um pouco e olhava para trás, acho que pensando: ué, ninguém vem atrás?

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Nada o impedia e, pela primeira vez, não havia perigo iminente. Eu chorei de alegria ao ver essa liberdade. A tranquilidade da praia permitiu que ele explorasse e eu não tive medo. Pela primeira vez, conseguimos ficar mais de 40 minutos na praia sem crises ou estresse.

Depois dessa experiencia, que durou uma semana, passei a procurar sempre por locais pouco frequentados em que ele pudesse simplesmente curtir a praia.

Progresso e Esperança

Com o tempo, nossas idas à praia foram se tornando menos tensas e durante a adolescência, notamos uma mudança significativa nas experiências. Passamos a conseguir ficar embaixo do guarda-sol sentadinhos por algum tempo e até exploramos um pouco as praias de São Paulo um pouco.

Na última semana, fizemos uma pequena viagem à praia para encerrar as férias e foi surpreendentemente mágico. Sem corridas, sem estresse por causa do sorvete, sem mergulhos intermináveis na água gelada. Apenas ficamos sentados ouvindo música e vendo o mar por algumas horas.

Não posso explicar o sentimento de gratidão que experimentei por ficar olhando o mar com ele, sem me preocupar com os perigos, sem ficar em alerta para impedir que ele se machucasse. Pudemos fazer um passeio em família. Ah, como é lindo o mar. Há tempos eu não apreciava assim a vista.

Se você tem uma criança com autismo, considere experimentar fazer passeios assim. Acredite: eu sei que não é fácil, mas também saiba que o tempo pode trazer surpresas e melhoras inesperadas, por isso mesmo que vocês tenham uma experiência péssima e estressante, depois de se recuperar, tente outra viagem. Jamais desista.

Estratégias de Suporte

  1. Planejamento Antecipado: Optar por praias menos frequentadas e horários menos movimentados. Esses locais reduzem a exposição a estímulos sensoriais excessivos e oferecem um ambiente mais controlado.
  2. Equipamentos de Segurança: Usar coletes salva-vidas e pulseiras de identificação aumenta a segurança.
  3. Supervisão Constante: A presença constante de adultos para supervisionar e intervir quando necessário.
  4. Comunicação e Sinalização: Ensine constantemente a importância de permanecer próximo aos adultos e use sinais visuais para indicar áreas seguras.
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Apesar dos desafios, acredite que com o tempo pode ficar mais agradável e até prazeroso para toda a família.

Tenha fé no amadurecimento e tenha esperança por dias melhores. O progresso é possível, e cada pequeno passo conta. Ver meu filho, que antes não conseguia ficar mais de 40 minutos na praia, agora desfrutar de horas de calma e contentamento, é uma vitória que nos enche de gratidão. Não tem preço!

Para finalizar, lembre-se que aqui é um lugar para você se sentir acolhida! Me escreva sobre suas dúvidas ou compartilhe algum desafio se desejar. Será uma honra conhecer você melhor!

Um beijo e até a próxima quarta-feira.

Juçara Baleki, @querotratamento

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Respostas de 2

  1. Que relato emocionante, Doutora!
    Precisei pausar a leitura e esperar as lágrimas passarem!
    Sabemos o preço e o valor dessa vitória!
    Parabéns por nunca desistir!

  2. “Que vitória incrível! Superar os desafios e aproveitar um momento tão especial é realmente emocionante. Parabéns a vocês por essa conquista e por fazerem da ida à praia uma experiência positiva e memorável. Que esse seja apenas o começo de muitas aventuras juntos!”
    Me debulho em lágrimas por cada vitória de vocês.

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