Fabio Abate: A vida nos trilhos ou nas trilhas

Faz um tempo que durante uma conversa com um sobrinho, para explicar um momento difícil de sentimentos confusos e ele me falou a seguinte frase: “Sabe quando o trem sai dos trilhos? Minha vida está assim!”. Naquele momento entendi como a forma possível dele expressar que estava sofrendo por algo que não entendia muito bem, ou simplesmente não tinha palavra para expressar.

Durante toda nossa jornada somos orientados a “entrar no eixo”, permanecer no caminho, encontrar o jeito “certo” das coisas. Será? Será que existe um jeito certo para se realizar as coisas, será que o melhor a certo feito é ficar no eixo? Será que a melhor forma de se viver a vida é andando nos trilhos?

Atualmente, venho pensando sobre essa questão do caminho que percorremos para realizar nossos sonhos e construir nossa história, percebo que por diversas vezes precisamos alinhar a rota. Partimos numa perspectiva de direção e vamos aprumando o rumo durante o percurso, assim aproveitamos a experiência do próprio caminho para um “destino” ainda melhor, e coloco destino entre aspas por que aqui se trata de algo a ser construído e não que já está pronto.

Na minha perspectiva os trilhos vêm se tornando cada vez mais obsoletos, entendo que houve um tempo onde era importante definir o mais rápido possível o que se queria ser e fazer para permanecer neste caminho e construir, talvez, uma carreira sólida. Mas veja, muitas vezes olho pra traz a refletindo sobre o caminho nem mesmo ele permanece o mesmo, vivo ressignificando minha trajetória e percebendo que até então tudo não passou de uma perspectiva momentânea dentro das possibilidades que vivi até ali, e que agora não se sustentam mais diante das novas experiências.

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Quando penso em trilhos, vejo muito além de um caminho, vejo limites, e uma vida cheia de limites é uma vida pequena, e como diz Cortella “Uma vida é curta demais pra ser pequena”. Ou seja, se voltarmos nossa atenção a origem dessa metáfora dos trilhos e pensarmos na perspectiva de trens, um trem faz o mesmo caminho a vida inteira, e só realiza pequenas mudanças quando alguém vira a alavanca, e pior, esse alguém nem sempre é o maquinista.

Por isso, eu prefiro as trilhas do que os trilhos. Eu prefiro a aventura de percorrer caminhos novos, mudar as direções, escolher novas paisagens, me arriscar em caminhos mais desafiadores e ter a chance de me surpreender com paisagens exuberantes do ficar travado num caminho único, e você, o que prefere?

Sei que as trilhas, como nos contos de fadas, podem nos levar a florestas desconhecidas, mas que podem guardar experiências extraordinárias.

Preste atenção nos trilhos que você mesmo vem construindo, muitas vezes eles vêm disfarçados de crenças absolutas, que te travam numa forma única de pensar e agir e te impedem de construir novas e até mesmo melhores possibilidades.

Escolha as trilhas aos trilhos, confronte com frequência suas crenças e caminhos, veja se eles ainda fazem sentido e se permita momentos de mudanças, assim você poderá viver trilhas incríveis, se aventurando por possibilidades até então inimagináveis.

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