Estamos vivendo um momento importante e preocupante da humanidade, trazendo a luz uma série de questões relevantes sobre a relação que temos com as nossas emoções e quanto essas emoções interferem em nossas relações, sejam elas pessoais ou profissionais. Somos seres complexos e mutáveis e isso leva a uma variável tão inconstante que chego a pensar que nunca estaremos realmente prontos ou 100% preparados para uma vida plena. Como diria Raul Seixas em um de seus clássicos “prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo” e é exatamente como vivo e como entendo que vivem todos os seres humanos disponíveis ao aprendizado. A cada dia que vivo aprendo algo novo e cada algo novo desenvolvo uma nova perspectiva para própria vida, o que transforma minha vida com uma certa frequência, e isso é ao mesmo tempo incrível e desesperador, é como se não houvesse uma fórmula, e talvez não haja mesmo.
Mas, dentro do meu campo de trabalho, ainda vejo alguns equívocos na interpretação das emoções por parte de alguns profissionais e exageradamente pelo senso comum. Esses dias fui conduzir um treinamento para um cliente e como meu trabalho aconteceria na parte da tarde e pela manhã teriam um trabalho com outra consultora eu pedi para acompanhar, para mim traz insights importantes e posso fazer uma amarração com o dia inteiro.
Mas, para minha surpresa a consultora resolveu dar uma dica de como os líderes que ali estavam podiam medir sua própria inteligência emocional, aí veio a “perola”, “Qual o tamanho do seu pavio?”. Naquele momento, para não ser inconveniente resolvi ouvir um pouco mais para ter certeza e sai da sala.
Qual o problema dessa pergunta para medir a inteligência emocional? Nenhuma, se você entender (de forma equivocada) que a única inteligência emocional está baseada na raiva e que a medida é o tamanho do seu pavio, ou seja, o quanto você tem de tempo antes de estourar, porque é disso que se trata a metáfora do pavio, mais longo igual a mais tempo antes de estourar e mais curto menos tempo até estourar.
E é exatamente neste ponto que quero chegar nesse texto que nomeei como os nervos e a retidão, estou pensando e refletindo ao mesmo tempo que escrevo. Será que o maior problema que temos é a raiva? São os nervosinhos? Claro que não estou defendendo as pessoas que perdem a linha, que são agressivas e que acabam ofendendo ou maltratando alguém, não é isso.
Creio sim que o exagero de qualquer forma é um problema, mas não dá para acreditarmos que o nosso único problema são os nervosinhos. Ou que essa é a única forma de classificação de inteligência emocional. Além de um erro grave técnico que a consultor cometeu, trás em si uma problemática de interpretação de comportamentos como se a raiva não fosse uma emoção boa em muitos momentos.
Tem horas que temos que sentir raiva e canalizar nossas ações, da forma correta, para resolver algo. Como, quando nos deparamos com alguma impunidade e precisamos agir, provavelmente foi pela raiva que temos energia para intervir de alguma forma.
Com este exemplo da raiva diante a impunidade chego no meu último ponto deste texto. Falamos muito no dia a dia das pessoas que claramente são ou estão num perfil onde a raiva parece no centro de suas emoções, mas esquecemos as vezes de observar que essas mesmas pessoas são honestas, francas e de bom caráter. Com valores claros, diretas e objetivas no que querem e como querem, onde muitas vezes são mal interpretadas por serem firmes e retas em sua postura e jeito de ser.
Então a minha reflexão neste texto é o quanto estamos preocupados em julgar as pessoas por suas emoções e estamos esquecendo que o caráter e a essência são mais importantes do que as aparecem referenciadas pela emoção. Hoje, prefiro conviver com os nervosinhos que convivo e que são retos em seus valores e comportamentos, do que conviver com gente que parece mansa e que na primeira oportunidade rompem com os combinados, desprezam simplesmente o relacionamento e focam única e exclusivamente em seus interesses.
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