Parece que tudo deu errado. Será?

Eu já vivi muito momentos de fúria, muita fúria, porque o que eu havia planejado não saiu como eu queria. Tenho uma lembrança muito remota, dos meus 9 ou 10 anos, que estava prestes a dar um passeio de Jeep, bem na hora do almoço, e quando voltei as pessoas já tinham saído, fiquei extremamente frustrado e arrependido. Mas o pior como se eu tivesse sido traído de alguma maneira por aquelas pessoas que tinham prometido me esperar e não esperaram. Talvez elas nem imaginassem o quanto eu desejava aquele passeio e na época eu não entendi o porquê daquilo tudo aqui aconteceu. Mas hoje quase 40 anos depois, começa a fazer algum sentido.

Sabe que ao longo desses anos eu passei por várias situações como essa, sempre fui uma pessoa intensa na minha vida, sempre vivi minhas emoções de forma muito visceral e quando algo acontecia diferente do que eu imaginava, da mesma forma que eu subia minha energia para realizar, eu descia ladeira a baixa para dentro de uma emoção avassaladora.

Sempre tive um espírito livre e aventureiro, então novas jornadas me faziam vibrar e desejar muito que elas acontecessem, porém tudo tinha que dar certo, do jeito que imaginei.

Esse “meu jeitão de ser” foi intenso em relacionamentos, projetos profissionais e tomadas de decisões que impactaram radicalmente minha trajetória de vida. Me entregava de corpo e alma aos meus relacionamentos pessoais e quando as pessoas não correspondiam a minha entrega, simplesmente era o fim daquele relacionamento, não importava mais nada; era o fim, e foi o fim até hoje, nunca voltei a me relacionar com pessoas que não tiveram a mesma relação comigo. Em outro momento tive um projeto profissional em família, novamente me entreguei de corpo, alma e toda a energia que era possível estava ali, tive planos, criei alta expectativa, acreditei que tudo estava dando certo até falirmos, e aí o vazio tomou conta do meu peito por alguns meses, a depressão veio e me derrubou e até hoje cuido para que ela não se aproxime, decide que nunca mais viverei algo assim, não sei até quando. O último exemplo foi minha viagem a França com a intensão de ficar por lá e quando tudo dentro de mim deu errado e eu não tinha a quem culpar, foi ainda pior, voltei para o Brasil e por ano mal conseguia falar sobre o assunto.

As vezes, eu mesmo me pergunto onde tudo isso me levou, e é exatamente nesse ponto que quero chegar.

Por muito tempo sofri, realmente sofri muito, carreguei por anos a finco lembranças e sentimento ruins sobre momentos, pessoas e lugares. Claro que ainda hoje vivo reflexos das minhas emoções, são muito mais brandos do que antigamente, até porque, mesmo não sabendo explicar como isso acontece, mas eu tenho menos expectativas sobre as coisas hoje.

Tenho menos expectativas sobre as pessoas, crio menos interesse inclusive sobre certas situações. De algum jeito vivo friamente alguns momentos, o que me ajuda a lidar quando não dão certo, só que quando dão certo também sinto que podia ter aproveitado mais. Então nada no seu extremo é bom.

Bom, preciso agora retomar o título desse texto “Parece que tudo deu errado. Será? ”. Afinal de contas onde quero chegar? Quero chegar na minha última viagem, coloquei a minha família inteira num carro e fomos ao nosso destino, um hotel na serra da Mantiqueira, ao chegar, eu tinha me esquecido de confirmar a reserva. Meu Deus, que desespero. Encontramos outro hotel mais simples, mas que tinham vaga. Logo na chegada encontramos dois gatinhos recém-nascidos e rejeitados pela mãe, quase sem vida, decidimos cuidar deles, parecia que tudo ia vingar, na segunda noite os dois não resistiram. E assim as coisas foram acontecendo completamente fora do meu controle. Em minhas orações, eu só buscava sentido para tudo aquilo. Nas refeições minha filha mais nova, com pouco mais de 1 ano, não se alimentava direito, a mais velha de 9 que quer ser veterinária, chorava compulsivamente pelos gatinhos.

Parecia que tudo estava dando errado. Até que nos demos conta de todo aprendizado. Nesse momento ficamos juntos, fortes e apoiando os sentimentos um dos outros. Clara, de 9 anos, me consolou quanto esqueci a reserve, me disse “todo mundo erra papai”. Nós a acolhemos quando os gatinhos não resistiram e falamos “estamos orgulhosos de você, por não ter desistido deles até o final”. Foi triste, mas um grande aprendizado para ela. E quando chegamos em casa a Isa, de 1 ano, se alimentou bem, parecia apenas sentir saudades de casa, um bom sinal para uma família.

Assim termino minha reflexão de hoje com a minha mente disponível aos acontecimentos. Não posso prometer nem para mim mesmo, que não vou me decepcionar ou frustrar, mas tentarei firmemente dar conta de lidar com as situações adversas, aproveitando ao máximo cada lição e melhorando a cada dia como lido com a minha vida e como quero impactar a vida das pessoas que comigo convivem ou conviverem, mesmo que por pouco tempo.

 

 

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Imagem: Freepik

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