Crítica: 6 Balões (6 Balloons) | 2018

Mais uma produção exibida no Festival SXSW deste ano, o drama 6 Balões (6 Balloons, EUA, 2018), foi adquirido pela Netflix, que agora distribuirá o filme em seu sistema de streaming. Uma decisão mais do que acertada por parte desta potência do entretenimento, que adquiriu uma produção tocante, forte e que aborda o triste mundo das drogas de maneira honesta e realista, protagonizada por uma dupla de intérpretes acostumados a fazer humor, mas que aqui, despem-se da faceta humorística para dar vida e profundidade à seus personagens.

Dirigido pela estreante em longas Marja-Lewis Ryan, 6 Balões é um sóbrio drama indie, que mostra a luta desesperada de uma irmã para conseguir internar seu irmão viciado em heroína em uma clínica de reabilitação, e assim tentar livrá-lo do vício de uma vez por todas. Quanto dano emocional uma pessoa é capaz de suportar até tomar a dolorosa decisão de cortar os laços com alguém que ama? Como é possível salvar alguém que não pode ajudar a si mesmo? Estas são algumas das questões levantadas pelo filme, que por vezes até soa um pouco didático, mas que sempre mantém o espectador ansioso, graças à sua claustrofóbica filmagem capturada quase toda em câmera de mão, onde Ryan filma uma jornada infernal durante uma noite da cidade de Los Angeles.

Na véspera de uma festa de aniversário surpresa para o namorado, a vida de Katie (Abbi Jacobson, da comédia Vizinhos 2), mais uma vez é afetada por uma questão familiar. O problema não é seu pai ou sua mãe, mas sim Seth (Dave Franco, de Artista do Desastre, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), a catástrofe ambulante que é seu irmão. Vivendo em um constante estado de preocupação, Katie sofre enquanto assiste seu irmão alternar seu estado entre a sobriedade e a paranoia causada pela droga. Para piorar, Seth precisa conseguir, de alguma forma, cuidar de sua filha de 4 anos aos finais de semana, o que faz com que Katie sinta-se ainda mais angustiada com toda a situação, já que a criança encontra-se sob os cuidados de um homem indefeso, desorientado, e é claro, perigoso.

Correndo o risco de perder a festa, Katie, que realmente se importa com seu irmão, está determinada a levá-lo naquela mesma noite à um centro de desintoxicação, mas questões envolvendo o plano de saúde, a brutal abstinência de Seth e suas manipulações motivadas pela falta da droga, transformam a noite de ambos em uma jornada digna de pesadelo. Todo esse martírio fica ainda mais pesado pelo fato de que a filha de Seth acompanha tudo do banco traseiro do carro, assistindo o completo colapso de seu pai. Confusa, a inocente criança mal sabe o que realmente está acontecendo, enquanto assiste seu pai escorregar rapidamente para o fundo do poço.

Mais conhecido por suas participações em diversas comédias, Franco perdeu uma significativa quantidade de peso para o filme, e o nível de investimento do ator em seu papel é inédito em sua carreira. No papel de seu agitado personagem, ele transmite com perfeição as alterações de humor e maneirismos corporais que só uma pessoa com problemas relacionados à narcóticos costuma apresentar. Jacobson também sai significativamente de sua zona de conforto em seu papel, e também performa incrivelmente bem. Internalizando as agruras emocionais de sua Katie, a atriz também faz de sua habilidosa linguagem corporal um perfeito transmissor dramático, que prova que seu talento vai muito além de suas qualidades como humorista. Gostaria de vê-la em mais dramas, daqui pra frente.

Por mais impactantes que sejam as interpretações de sua dupla central, 6 Balões não está isento de problemas. Sua paupérrima duração de 74 minutos não mergulha tão fundo na textura emocional de sua história como deveria, e o filme por vezes soa frágil demais. Alguns artifícios narrativos também não funcionam, como a cena em que Katie encontra tempo para escutar um áudio de auto-ajuda no carro, ou mesmo o furtivo sentimento que toma conta do público quando Katie acaba cedendo para seu irmão, como se ela fosse de certa forma uma facilitadora do comportamento auto-destrutivo de Seth. O filme insinua que ela já cedeu aos impropérios do irmão várias vezes ao longo dos anos, já que seus pais não querem mais saber do filho, o que deixa claro que esta não é a primeira jornada dela para “salvar” o irmão. As concessões que ela permite à Seth apenas agravam este sentimento ambíguo no espectador, ao invés de gerar alguma simpatia do público pelos personagens.

Entretanto, a abordagem minimalista e sem maquiagem empregada pela estreante diretora, faz de 6 Balões uma angustiante experiência, ainda que não corresponda totalmente às expectativas. Ryan claramente tem talento, falta apenas formá-lo completamente, já que seu filme nem sempre funciona, principalmente por sua citada fragilidade. Mas pelo menos, 6 Balões consegue ser capaz de deixar seu público abalado e ponderando, mais uma vez, sobre o poder excruciante e devastador das drogas.

6 Balões estreia no catálogo da Netflix no próximo dia 06 de abril.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Compartilhe esta notícia

Mais postagens