Crítica: A Dark Song (2017)

Confesso que este horror irlandês A Dark Song (Irlanda/Reino Unido, 2017) à princípio não me agradou. Já faz um tempinho que conferi o filme, e a vontade de escrever sobre ele foi diminuindo, até quase cair no meu esquecimento. Contudo, algo com relação à minha percepção do filme não se encaixava, e então resolvi dar uma segunda chance para esta pequena produção do gênero. E honestamente, não me arrependo. A Dark Song é uma produção que existe paciência e principalmente certa tolerância do espectador, que quando finalmente compreende a profundidade do escopo do filme, com certeza sente-se estranhamente recompensado.

Escrito e dirigido pelo estreante Liam Gavin, A Dark Song apresenta um verdadeiro embate repleto de tensão, entre a determinada Sophia (a bela Catherine Howard, de Casa Comigo?), e o instável Joseph (o esquisitão Steve Oram, da comédia de humor-negro Turistas). Joseph é um ocultista, contratado por Sophia para que com seu conhecimento sobre o oculto, possa ajudá-la a ter seu principal desejo realizado. O próprio Joseph também tem suas ambições, e juntos, trancados em uma enorme casa em uma região isolada na Irlanda, Sophia e Joseph arriscarão suas vidas para realizar um perigoso ritual, onde esperam ter suas vontades atendidas.

Com um desenrolar bastante intrincado, A Dark Song é na realidade um conto dark sobre luto e perdão, cuja vertente do terror encontra seu viés em um ritual de magia literalmente infernal. Ao mesmo tempo em que o ritual pode garantir à sofrida dupla de protagonistas a realização de seus desejos mais profundos, a cerimônia pode também condenar suas almas para sempre.

O diretor Gavin trata o elemento “mágico” da narrativa como algo doloroso, rigoroso e complexo, à medida em que a improvável dupla trancafia-se na remota mansão para um ritual de seis meses de duração, que demandará, literalmente, o sangue, o suor e as lágrimas de ambos os personagens, especialmente Sophia, que é interminavelmente testada, e cuja determinação só não é maior do que sua total consciência do tamanho do sacrifício que terá de fazer para ter o que quer. Sem falar no fato de que o próprio Joseph não é uma pessoa fácil de se conviver, especialmente sob as circunstâncias expostas pela produção.

A forte dinâmica entre Walker e Oram (e por consequência a de seus personagens), e a maneira com que ambos passam a desprezar e depender um do outro durante sua enlouquecedora jornada espiritual, fazem do núcleo do filme uma fascinante subversão dos thrillers sobre ocultismo, e mesmo que sua conclusão exija certa tolerância do espectador com relação ao “exagerado” alcance de seus desdobramentos, de certa forma também estabelece A Dark Song como um dos mais originais e imprevisíveis filmes de horror em minha memória recente.

A Dark Song não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente em serviços de streaming e VOD.

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