Silene Silva – Homem e cão: como tudo começou

Para estrear a coluna, a prosa vai ser sobre o bichinho que já faz parte das nossas vidas: o cão!

 

Tão querido pelo ser humano e não vive sem nós, nem nós sem ele!

Para que este relacionamento atingisse o ponto de amizade e carinho que atualmente temos com nossos cãezinhos, foram necessárias muitas evoluções dos antepassados do que hoje conhecemos como o canis família Canis lupus familiaris, ou seja, nosso popularmente conhecido totó. Apesar de ser descendente dos lobos, o cão nunca voltará a viver em estado selvagem como seus ancestrais.

 

Muito se discute sobre como o peludo se aproximou do ser humano e acabou sendo domesticado e adaptado ao convívio social em uma relação de co-dependência (afetiva por nossa parte e de sobrevivência por parte deles).

 

Para entender melhor, no ano de 2014, conversei sobre este tema com João Quartim de Moraes, escritor e docente do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade de Campinas (Unicamp). O professor me explicou que não existiam na natureza os cães que convivemos atualmente. O homem “selecionou” a espécie, escolhendo os animais que mais atendiam suas necessidades de companhia e proteção. Foi, então, que o canis lupus, a geração de canídeos mais primitiva na natureza, deu origem ao nosso cão doméstico. “Há dez mil anos, mais ou menos, o homem começou a se aproximar dos cães. Um processo evolutivo induzido pelos humanos, e não propriamente da natureza”, diz Moraes.

 

Nesse processo de seleção evolutiva, o que se sabe é que a relação se originou no interesse mútuo: por um lado lobos perceberam que ao lado do homem era mais fácil conseguir alimento e, por outro, o homem sentia-se mais protegido. Com isso, a amizade se consolidou. No decorrer dos séculos, os filhotes começaram a enxergar o homem como a única fonte de alimentação, não havia, portanto, mais necessidade de caçar.

 

Há algum tempo, fui alertada que havia uma matilha nas dependências da Universidade de São Paulo (USP), considerada selvagem pelos estudantes do Campus. De acordo com Ricardo Augusto Dias, docente do Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da USP, que monitorou por três anos esses cães errantes no Campus, mesmo que o cachorro seja abandonado ou que tenha nascido diretamente nas ruas, sempre será dependente dos humanos.

 

Os cães carregam em seu gene herança de seus ancestrais que marcam o comportamento indomável, arisco (o que gera a ideia de que são selvagens), mas ainda assim possuem a capacidade de adaptação ao seu meio. Devido a isso, eles ocupam um espaço importante em nossa vida social e familiar por companhia e proteção. Sua espécie é a que melhor compreende atitudes, feições e pode estabelecer comunicação não-verbal com as pessoas de forma surpreendente e apaixonante. A única razão que os leva a viver em bando em situação de abandono está relacionada a sua própria proteção.

 

Eles podem até caçar, mas esta ação não é essencial para sua sobrevivência, são seus instintos aflorados em razão da necessidade, ou distração.

 

Aliás, quando falamos em alimentação, cabe salientar também que a ansiedade para comer – que muitos donos afirmam estar presente em seus filhotes peludos – foi herdada dos ancestrais que ficavam sem se alimentar por longos períodos e, quando encontravam alguma refeição, comiam como se fosse a última vez para garantir sua reserva energética nos “tempos de vacas magras”.

 

Levando todo esse histórico de relacionamento entre o homem e o cachorro, podemos dizer que esse laço de tornou-se indispensável para ambos. Não é difícil encontrar casais que, por opção, escolheram adotar filhotes de cachorro como membros de suas famílias.

 

Esse laço de amizade é tão profundo que famílias escolhem se mudar de residência para garantir o bem-estar de seu pet.

 

Pensando nessa relação de amizade e amor, é importante também discutir essa questão: a decisão de se ter um cão em casa deve ser muito bem avaliada.

 

Profissionais ligados a saúde e bem estar dos pets como o médico veterinário Ricardo, salientam que os cães mantidos em residências e deixados sozinhos o dia todo podem sofrer grande nível de estresse crônico e, com o tempo, ter comprometimento imunológico e ficar sujeitos a uma série de doenças.

 

A evolução canina gerou um laço de amor e respeito entre o homem e seu pet e, com ela, assumimos nossa carga de responsabilidade acerca de cuidados, respeito e proteção com nossos amigos de quatro patas. Essa trajetória foi longa, mas bem sucedida e se resume a uma história de amor iniciada há mais de 100 mil anos que, por sorte, não tem data pra acabar! Esse amor entre as espécies é considerado um dos mais honestos do mundo, o que podemos fazer é proteger nossos amigos que abdicaram tanto de sua liberdade para nos fazer companhia e dar amor infinito.

Espero que tenham gostado do nosso papo. Na semana que vem tem mais! Até lá!

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