Crítica: An Evening With Beverly Luff Linn (2018)

An Evening With Beverly Luff Linn

Em 2016, tive a oportunidade de vivenciar uma das mais insanas, inusitadas, incômodas e absurdamente repugnantes experiências cinematográficas da minha vida. O filme em questão era The Greasy Strangler, que aqui em alguns círculos chegou a receber o título de O Estrangulador Seboso, uma verdadeira patifaria dirigida pelo provocador cineasta indie Jim Hosking, e cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli. The Greasy Strangler é algo tão meticulosamente canalha e visualmente mesmerizante, que me peguei pensando em que diabos deveria se passar na cabeça de Hosking, um diretor que provavelmente deve ter construído seu estilo depois de assistir às filmografias completas de diretores como John Waters e Jared Hess, enquanto consumia uma severa quantidade de ácido.

Agora, Hosking retorna às telas com este An Evening With Beverly Luff Linn (EUA/UK, 2018), filme que continua a tendência do cinema desagradável do jovem diretor. Deliberadamente lacônico, o novo filme de Hosking testa a paciência de sua plateia e frustra as expectativas de seu público com cenários nada engraçados e uma galeria de personagens incômodos e nervosos, fazendo coisas nada agradáveis. Mesmo com nomes bastante conhecidos do humor americano, como Aubrey Plaza (da comédia Ingrid Goes West, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), e Craig Robinson (de É o Fim e Segurando as Pontas), An Evening With Beverly Luff Linn é uma irritante anti-comédia comprometida apenas com um pequeno e peculiar nicho do público.

Ambientado em uma versão mais feia dos anos setenta, dominada por uma paleta de cores repleta de marrons, violetas e amarelos, a história começa no Bob’s Restaurant, onde a garçonete Lulu (Plaza), é casada com seu maldoso gerente, Shane Danger (um cartunesco Emile Hirsch, da comédia All Nighter e do terror A Autópsia de Jane Doe, cujas críticas você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli). Quando Shane tenta afanar uma grana do primo de Lulu, ela própria acaba roubando o dinheiro com a ajuda de Colin (o ótimo Jemaine Clement, de O Que Fazemos nas Sombras), um misterioso estranho que passava pela cidade e que teria ele próprio sido contratado para roubar o tal dinheiro.

Pouco depois, Lulu leva Colin ao Hotel Morehouse, na esperança de reencontrar seu amor perdido, o Beverly Luff Linn do título (Robinson), a estrela do show “An Evening With Beverly Luff Linn For One Magical Night Only”, patrocinado pelo hotel. Quando Lulu e Colin cruzam o caminho de Luff Linn e seu parceiro, um escocês barbudo chamado Rodney (Matt Berry, do recente Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível), fica evidente que Lulu e Luff Linn tem uma história romântica não resolvida, ao mesmo tempo em que Colin parece se apaixonar por Lulu. Começa então uma jornada de ciúmes, coquetéis grotescos, mensagens secretas e visitas à piscina.

De longe, a melhor coisa do filme é Jemaine Clement. O ator neo-zeolandês consegue o impossível, ao conceder paixão a seu personagem dentro do universo geralmente misantrópico de Hosking. Com seus gigantescos óculos amarelos, cabelo desgrenhado e um figurino dominado por todos os tipos de marrons possíveis e imagináveis, Clement está quase irreconhecível à primeira vista. Contudo, sua sensibilidade e talento brilham em cenas realmente divertidas, onde seu personagem tenta ganhar a afeição de Lulu. A cena em que Colin faz uma confissão sobre sua infância envolvendo os termos “doce” e “cocô” é particularmente memorável. A talentosa Aubrey Plaza apenas segue o material, em sintonia com a estranheza da história e com a obsessão de sua personagem pelo tal Beverly Luff Linn. Já Craig Robinson, um de meus atores cômicos preferidos, é desperdiçado aqui, passando a maior parte do filme inexplicavelmente grunhindo como Frankenstein e sofrendo com gases estomacais.

Com pitadas do citado John Waters e de David Lynch (Mas sem as implicações políticas ou filosóficas), o filme despeja estranheza em cima de estranheza no colo do público sem razão aparente. Juro que fiquei me perguntando se deveria rir das estranhas criaturas humanas do filme, num questionamento que não precisei fazer enquanto assistia à The Greasy Strangler, por exemplo. Me fiz outros questionamentos, como o quê é tão engraçado sobre tossir incontrolavelmente ou sobre sexo entre pessoas acima do peso? Trata-se de um filme que é absurdo apenas por ser, sem chegar à lugar nenhum. Sem defender nenhum propósito.

Não há dúvida que Hosking entregou mais um produto visualmente intrigante e único, em cada detalhe, assim como fez em seu Greasy Strangler. Desde os padrões de cor até às perucas ridículas e trajes de poliéster, passando pelo score musical sintetizado ao estilo anos setenta (coisa que funcionou muito bem em seu filme anterior), tudo serve ao propósito de criar um mundo estranho e por vezes indecifrável. Entretanto, Hosking também parece não fazer esforço nenhum para evitar que seu público não se frustre com este An Evening With Beverly Luff Linn, uma comédia onde o humor não é nem sequer elemento coadjuvante.

An Evening With Beverly Luff Linn não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

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