Crítica: Dig Two Graves (2017)

Mais uma pequena produção independente que tive a oportunidade de conferir recentemente, o suspense dramático Dig Two Graves (EUA, 2017), à princípio não parece que conseguirá tirar algo interessante de sua primeira metade excessivamente confusa e fragmentada. Surpreendentemente, o diretor e roteirista estreante Hunter Adams, contando com a colaboração do roteirista Jeremy Phillips (do recente drama 1/1), consegue amarrar com propriedade sua história, que acaba por se definir como um estranhamente belo conto sobre a vingança e suas atemporais consequências.

O filme, ambientado no ano de 1977 em uma pequena cidade do interior do estado de Illinois, conta a história de Jake (Samantha Isler, do ótimo Capitão Fantástico, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), uma adolescente que após um perder seu irmão mais velho em um acidente ao qual ela mesma presenciou, decide fazer um pacto com um estranho grupo de ciganos, que propõem à menina uma maneira de trazer seu amado irmão de volta, em troca de um pérfido favor. Ao aceitar a macabra proposta, a desesperada Jake nem sequer imagina que automaticamente, está trazendo de volta à tona um perigoso segredo escondido há mais de trinta anos por seu avô, o xerife Waterhouse (o sensacional Ted Levine, de O Silêncio dos Inocentes).

Extremamente climático, Dig Two Graves evidencia uma estreia repleta de potencial por parte de seu jovem diretor. A mórbida e triste fotografia do filme, à cargo de Eric Maddison (da sci-fi Synchronicity, 2015) é uma atração à parte, e carrega consigo o tom de tragédia iminente que está presente com força total na narrativa do filme. Narrativa esta que, apesar de muito confusa e um tanto travada na primeira metade da produção, deslancha bastante na reta final, empolgando o espectador e fazendo-o tentar adivinhar o que realmente está acontecendo. E quando as peças finalmente se encaixam, e as trajetórias de Jake e seu avô finalmente se conectam, o resultado final da produção não decepciona.

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O motor da produção no entanto, é a maneira completamente eficiente com que Adams administra a relação entre avô (Levine) e neta (Isler) dentro de sua narrativa. O relacionamento de amor fraternal entre estes dois personagens tão diferentes e ao mesmo tempo, tão tragicamente iguais, diferencia e muito o filme do pool dos thrillers de pequeno orçamento que surgem aos montes no mercado, além de enriquecer o roteiro da produção com camadas extras de um subtexto sobre o valor da família e o peso eterno da morte.

Uma produção simplista mas dotada de um texto com valiosa profundidade, Dig Two Graves é uma grata surpresa do gênero. Cinema executado com qualidade e capricho, tanto visual quanto narrativo, e que escancara como poucas a velha e inexorável máxima popular: A de que quando trata-se de vingança, é melhor sempre cavar duas covas.

Dig Two Graves não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar diretamente ao mercado de streaming e home-video.

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