Crítica: Depois do Apocalipse (Hostile) | 2017

Acho que nunca falei tanto do cinema de horror francês como fiz nas últimas semanas aqui mesmo no Portal do Andreoli. As críticas do violento Vingança (Revenge), do inteligente Les Affamés, do remake de A Invasora (este uma refilmagem do brutal filme francês homônimo), e do excelente Incident in a Ghost Land (Ghostland), estão todas disponíveis aqui no Portal, e dão uma ideia da força e ousadia do gênero em terras francesas. E a tendência continua, já que hoje eu apresento para vocês mais um exemplar do cinema de horror francês, ainda que tenha de admitir que de todos os citados acima, este Depois do Apocalipse (Hostile, FRA, 2017) é o mais fraco.

Num futuro próximo e apocalíptico, Juliette (Brittany Ashworth, do horror The Crucifixion, 2017), vaga por uma paisagem de desolação à bordo de uma van detonada, sempre à procura de suprimentos e combustível. Numa de suas tentativas em um posto de gasolina abandonado, algo acontece, e Juliette sofre um grave acidente, capotando sua van várias vezes na estrada deserta. Quando ela desperta algum tempo depois, descobre que uma de suas pernas está quebrada, sua arma está fora de seu alcance, e que já escureceu. Não demora muito para Juliette começar a ouvir estranhos sons inumanos ao redor da van, e enquanto ela luta para superar a dor e conseguir escapar de qualquer que seja o perigo que a cerca, ela experimenta as lembranças de sua vida antes do apocalipse; seu vício, seu amante (Grégory Fitoussi, da série American Odyssey), e o começo do fim.

Pela sinopse acima, já dá para perceber que Depois do Apocalipse apoia-se completamente em sua protagonista, a esforçada Brittany Ashworth, que se sai melhor nas cenas que demandam sua performance física. Com sua Juliette ferida logo no início do filme, ela precisa resistir contra seu ferimento por todo o restante da produção, enquanto os perigos a cercam por todos os lados. Sua dor e sua frustração são entregues com veracidade por Ashworth, o que garante alguns pontos para o filme.

Vale ressaltar também a presença do “body actorJavier Botet (It: A Coisa, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli), o equivalente espanhol do body actor americano (e mais famoso) Doug Jones, colaborador habitual do mexicano Guillermo Del Toro. Para quem não conhece, Jones é a criatura aquática do ganhador do Oscar A Forma da Água (cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli). Com suas características físicas peculiares (dedos e membros alongados), Botet geralmente é escalado para interpretar criaturas de outro mundo, sempre sob pesada maquiagem. Papel que ele mais uma vez repete com eficiência aqui.

Contudo, Depois do Apocalipse tem diversos problemas, começando pela fraca conexão entre os personagens centrais de Juliette e seu amante, o que enfraquece o conjunto da obra. A química entre Ashworth e Fitoussi nos flashbacks da história é inexistente. A estrutura do filme também tem problemas, já que o incessante vai-e-vem da narrativa detona o ritmo da produção. As cenas que relembram o passado de Juliette flertam com o melodrama e tampouco funcionam. Os flashbacks do filme se passam em Nova York, enquanto que os eventos do futuro próximo acontecem em uma terra devastada e desértica. Onde fica exatamente esta terra devastada? Porque se não for NY, fica difícil pedir para o público engolir essa. E tem mais; não há explicação nenhuma (além de um duvidoso ataque químico terrorista) para explicar a origem das criaturas mutantes da produção, nem mesmo quanto tempo se passou desde que foi tudo pro vinagre.

Em compensação, os valores de produção são ótimos. Os cenários apocalípticos são críveis, impactantes e extremamente bem elaborados, não devendo nada a nenhum exemplar da franquia Mad Max, por exemplo. O trabalho de maquiagem da criatura interpretada por Botet também é muito bom, e remete aos personagens interpretados pelo próprio ator na franquia de horror [REC]. O filme também tem alguns sustos bem elaborados, e um deles em particular é de gelar a medula do espectador, e é de longe o momento mais memorável do filme.

Com fortes valores de produção, mas com uma estrutura narrativa que não desenvolve-se como deveria, Depois do Apocalipse acaba sendo uma experiência cinematográfica mediana, especialmente para os padrões franceses de se fazer cinema de horror. Para os fãs mais ardorosos do gênero, entretanto, é só estourar a pipoca que a diversão está garantida.

Depois do Apocalipse não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

UPDATE 12/08: Depois do Apocalipse será lançado em DVD no Brasil pela A2 Filmes em Setembro/2018.

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