Com seu humor inteligente e nem sempre convencional, o diretor e roteirista neo-zeolandês Taika Waititi é o grande nome da comédia a despontar no cenário mundial nos últimos anos. Seu nome começou a chamar a atenção graças ao lançamento da hilariante minissérie Flight Of The Conchords, lançada em 2007, e ganhou os holofotes graças à excepcional comédia O Que Fazemos nas Sombras (What We Do In The Shadows, 2014), um documentário “fake” sobre o dia a dia de um grupo de vampiros tapados. Em minha opinião, o filme é a melhor comédia lançada em pelo menos dez anos, e escancarou o enorme talento de seu realizador.
A projeção do mockumentary foi tão grande, que valeu a Waititi o posto de diretor de um dos projetos mais aguardados do universo cinematográfico da Marvel, Thor: Ragnarok, que chega aos cinemas em 2017. Apenas o fato de Waititi, um diretor de base e portfólio completamente cômicos, ser escalado para dirigir um dos mais aguardados filmes de super-heróis dos últimos anos, por si só já é motivo de assombro. E entre O Que Fazemos Nas Sombras, e o esperado Thor: Ragnarok, Waititi ainda teve tempo de rodar este Hunt for the Wilderpeople (Nova-Zelândia, 2016), uma simpática e bem-intencionada comédia, que se não é tão engraçada ou inovadora quanto sua citada produção vampiresca, ainda assim justifica plenamente sua sessão.
Em Hunt for the Wilderpeople, Waititi conta a história do garoto Ricky (Julian Dennison, de Paper Planes, 2014), um órfão problemático que ganha uma nova chance de ter um lar, quando é adotado pelo casal Bella (Rima Te Wiata) e Hec (o sempre ótimo Sam Neill, de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros). Com um histórico de delinquência, o garoto à princípio não parece gostar nada de ter que abandonar a cidade grande, para viver no meio do mato. Aos poucos, no entanto, o carinho de Bella com o garoto, acaba por amolecer o coração de Ricky. Entretanto, quando Bella vem a falecer, pouco tempo depois, Ricky se vê obrigado a viver com o turrão Hec, que digamos, não morre de amores pelo jovem. É, principalmente, das diferenças entre Ricky e Hec, que Waititi obtém a força-motriz de seu filme, que utiliza o cenário selvagem das florestas da Nova-Zelândia, para colocar seus protagonistas em uma engraçada e divertida corrida pela sobrevivência. Sim, porque além das ameaças naturais, Ricky e Hec tem que tomar cuidado para não matar um ao outro. É claro que aos poucos, a relação entre ambos vai melhorando, e a produção arranca alguns tenros momentos de interação entre a dupla.
Baseado no livro do escritor Barry Crump, também neo-zeolandês, o filme valoriza-se da universalidade dos temas centrais de sua história, como o processo de amadurecimento do jovem adolescente, e as inconstâncias do amor fraternal. Waititi mescla muito bem o humor mais escrachado da produção, com momentos de delicadeza e sutileza narrativa, além é claro, de sua já conhecida pegada não tão convencional para abordar o humor em alguns momentos. Fica nítida também a intenção do diretor em homenagear sua terra natal, não só por situar sua história em seu país, mas também inserindo sutilmente alguns elementos que remetem à cultura e tradição da Nova Zelândia.
Mas é o talentoso elenco a principal qualidade da produção. A revelação Julian Dennison é o dono do filme, com sua figura rechonchuda e desbocada. O ótimo Sam Neill emprega a competência de sempre em um personagem que vai crescendo junto com o filme. E as talentosas atrizes Rima Te Wiata (da ótima comédia de terror Southbound), e Rachel House (da recente série Wolf Creek), também aparecem muito bem na produção, em papéis menores mas não menos importantes. O próprio Waititi faz uma hilariante participação especial, no papel de um padre, digamos, um tanto estranho.
Apesar de alguns clichês e de seu desenrolar um tanto previsível, Hunt for the Wilderpeople é mais uma produção acertada do cada vez melhor Taika Waititi, além de ser uma gostosa e terna produção, que diverte e faz rir, sem esquecer de abordar diversos temas que falam das coisas do coração.
Hunt for the Wilderpeople ainda não tem previsão de estreia no Brasil.