Crítica: Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman) | 2018

BlacKkKlansman

Vamos falar um pouco sobre festivais? Como cinéfilo de carteirinha, uma das coisas que eu mais gosto é de garimpar novos títulos nos festivais de cinema que acontecem ao longo do ano. Ainda que seja uma honra para um cineasta ter seu filme escolhido para a concorrida lista do garboso Festival de Cannes, o cinema vive uma era onde posicionar filmes para a temporada do Oscar se transformou em uma verdadeira guerra. Afinal, qualquer cineasta agarraria com unhas e dentes a oportunidade de exibir um filme em Cannes.

Mas a realidade cada vez mais comum, é que mesmo que um filme esteja pronto para o maior festival de cinema do ano, um produtor pode escolher segurar a produção mais um pouco, e exibi-la em festivais que acontecem mais para o final do ano, como o festival de Veneza ou o TIFF, o festival de Toronto. Tomar esta atitude encurta o tempo entre a premiere de um filme e aquele momento dourado em que a Academia começa a pensar sobre a entrega dos Oscars.

Eu, particularmente, não acredito no Oscar e nem utilizo a premiação para destacar um filme ou outro. Mas caso você seja um destes tipos que adoram um prognóstico sobre os futuros indicados à premiação, amador ou profissional, vou dar uma dica para vocês. E a dica é a de colocar um asterisco ao lado deste Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman, EUA, 2018), o mais novo trabalho do polêmico cineasta Spike Lee, exibido na mostra de competição em Cannes deste ano. No final, não foi o filme vencedor, mas com certeza era um dos que mereciam vencer.

Ao longo de sua carreira, Lee já dirigiu grandes filmes, como o meu favorito pessoal, o drama A Última Noite (The 25th Hour, 2002), outros ousados e memoráveis, como Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing, 1989) e Malcolm X (1992), e outros esquecíveis, como Milagre em Sta. Anna (Miracle at St. Anna, 2008) e o terrível remake do thriller Oldboy (2013). Cineasta prolífico (e político), Lee sempre tenta algo diferente na carreira. E esta coragem que garantiu à sua filmografia um estilo único e uma maneira própria de dizer as coisas, fez dele um dos mais valiosos cineastas da América e do mundo. Lee sempre tem algo a dizer, e ele também continua a amadurecer visualmente.

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Infiltrado na Klan é baseado na história verídica de Ron Stallworth, um oficial de polícia negro da cidade de Colorado Springs que no final dos anos setenta, se infiltrou na Ku Klux Klan. Lee reconhece a maluquice da premissa, e a utiliza da melhor maneira: A história de Stallworth é tão insana que chega até a ser difícil acreditar nela. Infiltrado na Klan é tão engraçado quanto direto e alarmista. Trata-se de um filme nervoso, mas que consegue a façanha de ser ao mesmo tempo extremamente divertido, do qual Lee tem o ritmo e tom completamente sob controle.

Stallworth é interpretado por John David Washington (da série Ballers), que empresta veracidade à história do tira negro que ao apanhar um jornal e ver um anúncio de recrutamento da KKK, decide ligar respondendo ao anúncio, porém, é claro, se passando por um homem branco, e destilando xingamentos contra negros e judeus. Seu falso derramamento de ódio encanta o homem no outro lado da linha, Walter Breachway (Ryan Eggold, da série Lista Negra), que convida Stallworth para conhecer a organização e seus responsáveis. O tira, por motivos óbvios, não pode ir, e então ele recruta seu colega de profissão Flip Zimmerman (Adam Driver, o vilão Kylo Ren da franquia Star Wars ), para ir em seu lugar. Entretanto, Ron continua a lidar com Breachway e outros membros da “organização” por telefone.

Eventualmente (e inesperadamente), ele entra em contato com David Duke, o “Diretor Nacional” da dita “organização”, onde ninguém utiliza oficialmente as palavras que começam com a letra K, já que o grupo está lutando para se tornar uma legítima força do governo. Ainda que ninguém tenha restrição nenhuma em vestir os capuzes e queimar cruzes pela cidade. Duke é interpretado com venenoso charme por Topher Grace (de War Machine e Under the Silver Lake, cujas críticas estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli), mas todas as performances aqui estão excelentes: Washington e Driver interpretam um ao outro com uma certa energia espinhosa camaradagem mútua. Numa sequência do filme, Stallworth envia Zimmerman (que está usando uma escuta), para uma reunião com um esquentadinho da Klan. Quando este começa a armar um teste com um detector de mentiras “à prova de judeus” o qual Stallworth sabe que Zimmerman falhará, ele entra em ação, numa sequência engraçada e ao mesmo tempo chocante, que evidencia o talento de todos do elenco envolvidos na cena.

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O ponto de Lee é claro: se grupos de ódio como a Klan já eram perigosos em 1970, imaginem só agora, especialmente considerando o momento da nação americana sob a administração Trump. É notável como Infiltrado na Klan é inclusivo e atual. Um outro personagem do filme, um policial racista interpretado por Frederick Weller, é tratado como uma exceção pelo diretor. Lee aponta o dedo somente para quem realmente merece, deixando nítido que ele não tem tempo ou energia para desperdiçar com mais ninguém.

Fotografado por Chayse Irvin (do drama Hannah, 2017), Infiltrado na Klan é também visualmente maravilhoso. A sequência em que Stallworth caminha através de um vasto campo, recolhendo do chão as cápsulas onde a Klan praticava tiro ao alvo, é uma das mais arrepiantes e poéticas tomadas que vi no cinema nos últimos anos. E o soberbo score musical do colaborador habitual de Lee, Terence Blanchard, repleto de R&B dos anos setenta e inspiradas melodias sinfônicas, fala ao coração do espectador.

Lee definitivamente sabia onde queria chegar com seu filme. A penúltima imagem da produção é uma fotografia de Heather Heyer, a mulher morta em agosto do ano passado em Charlottesville, quando um carro passou por cima de um grupo que protestava contra uma minoria defensora da supremacia branca. Tal imagem captura a ideia central do filme, a de que o racismo não é apenas uma luta de pessoas negras, mas de todos. E a imagem derradeira da produção, que obviamente eu não vou spoilar aqui, afirma quão difíceis as circunstâncias atuais em torno do tema são. Para sentir-se de coração partido por seu país, é preciso amá-lo primeiro. Infiltrado na Klan é a angustiada mensagem de amor de Spike Lee por seu país.

Infiltrado na Klan estreia nos cinemas brasileiros no dia 22 de novembro.

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Uma resposta

  1. Adam Driver é um ótimo ator, é muito talentoso e bonito, não há filme que não me surpreenda. O último que eu vi foi em um dos top filmes de comedia chamado Lucky Logan Roubo em Família, na minha opinião, foi um dos melhores filmes de comédia. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção, um filme que se converteu em um dos meus preferidos. Sem dúvida o veria novamente! É uma boa opção para uma tarde de filmes.

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