Crítica: Midsommar: O Mal não Espera a Noite (Midsommar) |2019

Midsommar

Em meados do ano passado, o então estreante diretor e roteirista Ari Aster entrou na indústria com os dois pés na porta. Sob o selo da infalível produtora A24, Aster lançou uma das maiores pedradas do cinema naquele ano, o horror Hereditário (Hereditary, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli). Misturando horror gráfico com drama psicológico, Aster entregou um trabalho primoroso e inesquecível dentro do gênero, e obviamente, fez todo mundo aguardar com água na boca o que ele faria a seguir. A resposta chega com este Midsommar: O Mal não Espera a Noite (Midsommar, EUA, 2019), onde o visionário cineasta mais uma vez constroi um diabólico “conto de fadas” ensopado de muito pavor, onde um mundo de escuridão surge em plena luz do dia. Sem dúvidas Midsommar mostra uma nova faceta de Aster, que conjura um mundo de dor e sofrimento físico e emocional que não precisa das trevas para incomodar o seu público. Filmado no idílico cenário ensolarado da Suécia, o filme é o mais belo e aterrorizante pesadelo a chegar às telas nos últimos tempos.

Dani (Florence Pugh, de Legítimo Rei, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), e Christian (Jack Reynor, de Free Fire: O Tiroteio), é um casal americano cujo casamento está prestes a acabar, até que uma tragédia pessoal acaba os aproximando novamente, ainda que pelos motivos errados. O remendado relacionamento do casal passa a ser testado ainda mais quando Dani insiste em ir junto em uma viagem que Christian havia planejado há muito tempo junto de seus amigos, cujo destino é uma remota Ilha da Suécia onde os cidadãos estão celebrando um festival de verão que ocorre apenas uma vez a cada 95 anos. E o que começa como um agradável feriado de verão sem preocupações em um local onde o sol brilha eternamente, logo se transforma em uma sinistra jornada onde os moradores da ilha convidam seus hóspedes a participar das festividades mais ativamente, o que transforma o paraíso pastoral em algo cada vez mais desesperador e visceralmente perturbador.

Midsommar consiste em um filme de horror que funciona como diferentes tipos de alegoria. Trata-se essencialmente de um filme sobre as dores da separação e do luto (assim como Hereditário), ao mesmo tempo em que funciona como um filme de culto, ao estilo do clássico O Homem de Palha (The Wicker Man, 1973) e do recente The Endless, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli. Segundo as palavras do próprio Aster, seu Midsommar é um filme sobre tragédia familiar, mas ao mesmo tempo uma espécie de “O Mágico de Oz para pervertidos”. Coitada da pequena Dorothy…

A verdade é que assim como acontece com o filme anterior de Aster, falar qualquer coisa a mais sobre a trama e sobre os acontecimentos deste Midsommar diminuiria sensivelmente a profundamente incômoda experiência de se assistir ao filme. E quando eu digo profundamente incômoda, me refiro tanto ao físico quanto ao mental e o emocional. Midsommar é uma experiência excruciante, que consome o seu espectador. O curioso, é que graças à natureza idílica de seu filme, Aster acaba por construir um verdadeiro pesadelo banhado incessantemente por um céu azul anil, mostrando que não são preciso trevas para conceber um tremendo filme de horror.

Longo (2h20min.), e capturado com aterrorizante beleza pelo diretor de fotografia Pawel Pogorzelski (também de Hereditário), Midsommar tem a mesma atmosfera macabra do primeiro trabalho de Aster, mas carrega um punch totalmente diferente. O fato de grande parte de sua narrativa ser situada em pleno campo aberto não torna o filme menos claustrofóbico, pelo contrário, o público passa a temer a vastidão, as inúmeras possibilidades de horror que pairam sorrateiras em cada centímetro do filme. Aster cria um novo patamar de pavor, uma vez que o ato final de seu filme traz algumas das mais repugnantes e dantescas imagens as quais tive o prazer (ou desprazer) de acompanhar no cinema recente.

Do alto de seus 31 anos de idade e em seu segundo filme apenas, Aster já crava seu nome como um dos expoentes do horror de todos os tempos. Junto de seu contemporâneo Jordan Peele (que inclusive elogiou o filme de Aster efusivamente), e que também traz duas porradas no currículo como diretor (os excepcionais thrillers Corra! e Nós, cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli), o jovem cineasta faz das profundezas do emocional humano o combustível para massacrar seu público sem dó nem piedade, oferecendo um novo e original cinema de horror onde o pavor parece não ter fim e muito menos um limite. Sempre que se falar de Peele e Aster atrás das câmeras, preparem-se porque a pancada vai ser forte.

Midsommar estreia nos cinemas brasileiros no dia 25 de julho de 2019.

10 respostas

  1. Ótima crítica amigo. Só não vou comentar e compartilhar no face pq tomei um Block (linda democracia) por causa de uma capa de cd, hehehe. Abs

    1. Eita… Eu percebi que você tinha sumido do Face… Essa política deles é ridicula.
      Valeu pelos comments, meu amigo! Tamo junto!!

    1. Não tem trauma é uma relação desgastada em que o homem quer sair da relação, mas é um covarde e comodista e preguiçoso que não tem coragem de terminar com a Dani e o tema principal do filme é exatamente a relação dos dois.

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