Crítica: Nightmare Cinema (2018)

Nightmare Cinema

Nada como uma boa antologia de horror, não é verdade? Em minhas críticas dos filmes XX e Ghost Stories disponíveis aqui mesmo no Portal do Andreoli, eu falo bastante deste subgênero muito amado pelos fãs do terror em geral. Trata-se de uma vertente que geralmente não prima pelo equilíbrio (sempre alguns segmentos são muito superiores ou inferiores à outros), mas que ao mesmo tempo permite que cineastas tenham mais liberdade para trabalhar, sem a pressão dos filmes de grande orçamento e dos desafios narrativos de um longa-metragem.

O principal nome em torno deste novo exemplar do subgênero é o produtor Mick Garris, que digamos, conhece um pouquinho sobre o tema. Garris esteve envolvido na excelente antologia em forma de série dos anos oitenta Amazing Stories, e na década passada, foi o responsável por outra, a boa Masters of Horror, que reunia grandes nomes do cinema de horror dirigindo e/ou escrevendo algum segmento do gênero. Muito parecido com a proposta deste Nightmare Cinema (EUA, 2018), filme que reúne cinco novos (e outros já veteranos) mestres do horror em um forte e estiloso conjunto de curtas que só não entra na galeria das melhores antologias do gênero devido à alguns problemas na narrativa, que desfavorece o conjunto e ressalta demais os segmentos mais fracos da produção.

O filme é estruturado em torno do velho e tradicional Rialto Theater, conhecido como o Nightmare Cinema do título, onde cinco estranhos chegam, um de cada vez, após verem seus nomes expostos na marquise do local, num exercício metalinguístico bem legal por parte da produção. Uma vez lá, eles se encontram com uma misteriosa figura conhecida apenas como “O Projecionista” (um sub-utilizado Mickey Rourke), que apresenta um novo cenário de pesadelo para cada um dos novos convidados.

O pontapé inicial do filme é dos bons: “The Thing in the Woods“, um slasher movie com pitadas sci-fi dirigido pelo argentino Alejandro Brugués (Juan dos Mortos, 2011). Não quero entregar nenhum spoiler e estragar as reviravoltas do segmento, mas posso dizer que o episódio tem início como um típico slasher movie – onde um assassino mascarado portando um lança-chamas (!) persegue uma garota bonita pela floresta – e de repente evolui para algo muito mais engraçado e interessante. É facilmente o melhor segmento do filme e infelizmente acaba determinando um padrão que os outros curtas não conseguem alcançar.

Mas isso não quer dizer que os outros segmentos não tenham alguns agrados aos fãs do horror. O segundo conto chega pelas mãos da lenda do horror Joe Dante (Gremlins, Grito de Horror), que oferece uma clássica homenagem à série Além da Imaginação (The Twilight Zone), enraizada no terror psicológico. Em “Mirari“, uma bela mulher com uma significativa cicatriz em seu rosto é manipulada por seu noivo a fazer uma plástica. Pouco depois, ela está sedada na mesa de cirurgia, e Dante entrega um verdadeiro pesadelo do horror cirúrgico. O final previsível desaponta um pouco, mas Dante cria um clima de tensão e desconforto bem ao seu estilo. O diretor não revela nada de novo, mas trata-se de um segmento bastante divertido.

As coisas ficam um pouco malucas no curta seguinte, o extremo exercício de horror sobre possessão “Matshit“, dirigido pelo nipônico Ryûhey Kitamura (do eficiente horror O Trem da Morte e do sangrento thriller Downrange, cuja crítica você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli). O segmento oferece um verdadeiro banho de sangue e vísceras ao mostrar uma força satânica arrasando uma igreja católica (e as crianças que nela se encontram) com uma selvagem pitada de humor. Os ousados elementos cômicos não se alinham totalmente com os momentos mais sombrios de Matshit, mas Kitamura consegue equilibrar as coisas na conclusão, tornando o curta um insano e engraçado rompante do gênero.

Em seguida, Nightmare Cinema pega bem, BEM pesado com o silencioso segmento em preto e branco “This Way to Egress“, do diretor David Slade (do violento 30 Dias de Noite, da série American Gods e do recente e polêmico Black Mirror: Bandersnatch). Slade apresenta uma verdadeira jornada ao inferno onde Elizabeth Reaser (da série da Netflix A Maldição da Residência Hill), entrega a melhor performance do filme no papel de Helen, uma mulher presa em um pesadelo alucinatório onde o mundo ao seu redor parece estar decaindo para um decrépito estado de desordem. Desesperada para encontrar ajuda, ela procura respostas com um psicólogo, mas cada novo passo em direção à verdade apenas parece aprofundar ainda mais seu tormento. Slade entrega um trabalho matador, conjurando uma vibe genuinamente perturbadora, que deixa o espectador precisando de um banho e um bom abraço.

Finalmente, chegamos ao segmento final, “Dead“, uma emocional e contida história de fantasmas dirigida por Mick Garris, que infelizmente não tem a mesma energia e intensidade das histórias anteriores. A ideia central do curta tinha tudo para funcionar, mas o conjunto parece um tanto instável, sem o humor ou o estilo visual dos melhores momentos deste Nightmare Cinema.

Garris também é o responsável pela história paralela que permeia e amarra os segmentos em um pacote final, que acaba soando vaga demais e não costura o filme como deveria. O que afinal é o cinema? Quem é o projecionista? Porquê ele atraiu estas pessoas? O Rialto pode ser um portal para o inferno ou uma espécie de casa assombrada, mas fica difícil afirmar o que é, e sem uma linha narrativa coesa para amarrar tudo, as disparidades de tons entre um segmento e outro conflitam muito mais do que deveriam. Fica no ar também a impressão de que o nível de intensidade do horror do filme diminui a cada novo segmento, o que faz com que o público comece o filme à mil por hora e termine puxando o freio de mão. Um pouco de reestruturação narrativa teria feito maravilhas ao filme.

Entretanto, Nightmare Cinema ainda consegue se classificar como uma antologia de horror acima da média, com ótimas passagens que valem a pena serem apreciadas pelos fãs do gênero. “The Thing in the Woods” e “This Way to Egress“, especialmente, são dois verdadeiros torpedos desta vertente.

Nightmare Cinema não tem previsão de estreia no Brasil, e deve chegar ao país através de sistemas de streaming e VOD.

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