Crítica: Pilgrimage (2017)

Antes de qualquer classificação, este pequeno drama histórico Pilgrimage (Irlanda, 2017), deve ser considerado como um veículo para dois nomes em grande ascensão na cena hollywoodiana atual. O primeiro deles é Tom Holland, o atual Homem-Aranha do universo Marvel nos cinemas, em cartaz no país com o aguardadíssimo Homem-Aranha: De Volta ao Lar. O segundo é Jon Bernthal, que fez certa fama no seriado The Walking Dead, mas que ao longo dos anos vem galgando seu caminho com ótimas participações em produções como Corações de Ferro (Fury, 2014) e O Contador (The Accountant, 2016). Mas cujo real sucesso chegou também com seu nome envolvido em uma produção Marvel, no caso a série Daredevil, da Netflix, em que interpreta o truculento personagem Justiceiro, que está ganhando sua própria série ainda este ano.

Entretanto, para uma produção considerada um veículo, este Pilgrimage tem bastante a oferecer, e confesso que o filme me agradou bastante, com sua ambientação impecável e narrativa cativante, apesar de um tanto previsível. No filme, ambientado na Irlanda do ano 1209, um pequeno grupo de monges inicia uma relutante peregrinação por um país dividido e ameaçado pelo crescente poder de invasores nórdicos. Escoltando uma relíquia cristã, que supostamente teria o poder supremo, os corajosos integrantes do grupo arriscarão suas próprias vidas, e dentre eles, está o jovem Diarmuid (Holland), que nunca viu o mundo fora da ilha onde convive com seus irmãos monges, e um misterioso estranho mudo (Bernthal), que foi acolhido pelo grupo anos atrás. Ambos terão um papel decisivo no destino do grupo e da relíquia que carregam.

Apesar do orçamento visivelmente limitado, em nenhum momento o diretor irlandês Brendan Muldowney (dos obscuros Savage e Love Eternal), deixa de lado o cuidado com a qualidade de sua produção. Maravilhosamente fotografado por Tom Comerford, colaborador habitual do diretor, o filme explora com perfeição o belo e desolador cenário invernal da Irlanda, que garante à produção um clima um tanto opressivo que se encaixa perfeitamente na narrativa. É evidente também o cuidado de Muldowney na concepção de sua obra, que ganha em veracidade por exemplo na utilização de diversos idiomas em sua produção, onde o talentoso elenco profere diálogos em dialetos irlandeses, em francês, entre outras línguas.

O roteiro do estreante Jamie Hannigan, apesar de como mencionado, ser um tanto previsível, explora bem o turbulento momento religioso do período que sua história retrata, dissertando sobre as inconsistências do cristianismo e das vertentes religiosas que o confrontavam. É curioso observar o comportamento dos monges, especialmente do personagem Geraldus (o francês Stanley Weber), com relação à relíquia que ele e seus relutantes companheiros de peregrinação são obrigados a escoltar. Não revelarei aqui qual a relíquia, que com certeza, quando passa a ser do conhecimento do público, suscita discussões sobre o quão possivelmente inútil é a missão dos personagens centrais.

O grande trunfo da produção, no entanto, é mesmo seu competente elenco. Além dos citados Holland, Bernthal e Weber (todos muito bem em suas caracterizações), o filme conta ainda com boas participações de nomes secundários, como o também irlandês John Lynch (do romance De Caso com o Acaso e do bom thriller Morte Negra), e do inglês Richard Armitage (o príncipe anão Thorin da franquia O Hobbit), no papel de um ardiloso antagonista dos monges peregrinos.

Surpreendentemente muito mais do que apenas um veículo para Tom Holland e Jon Bernthal, Pilgrimage é uma produção rica em contexto e executada com bastante competência, que discorre de maneira interessante sobre os desígnios da fé em conflito com as antigas superstições, além do poder da irmandade e da lealdade entre os homens. Independente de suas crenças.

Pilgrimage não previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente em serviços de streaming e VOD.

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