O diretor francês Alexandre Aja surgiu com um estrondo entre os anos de 1999 e 2003. Seus potentes primeiros filmes, Furia (1999) e principalmente Alta Tensão (Haute Tension, 2003), imediatamente o transformaram na mais nova promessa do horror, e seu Alta Tensão passou a figurar na galeria do New French Extremity, movimento do cinema francês iniciado na década de noventa, conhecido por escancarar sem dó nem piedade a violência extrema da qual o ser-humano é capaz. Falei um pouquinho sobre este movimento nas minha críticas dos filmes A Invasora (Inside), Vingança (Revenge), Incident in a Ghost Land e Clímax, também disponíveis aqui no Portal do Andreoli.
Aja também passou a integrar o “Splat Pack“, nome pelo qual ficou conhecido o grupo de jovens cineastas independentes contemporâneos que dirigiram, escreveram e produziram exemplares do cinema de horror censura +18, reconhecidos por sua violência extrema. Do grupo também fazem parte os diretores Darren Lynn Bousman (Jogos Mortais II e III); Neil Marshall (Abismo do Medo e do recente remake de Hellboy, cuja crítica está disponível aqui no Portal); Greg McLean (franquia Wolf Creek: Viagem ao Inferno); Eli Roth (franquia O Albergue); Robert Rodriguez (Um Drink no Inferno, Planeta Terror); James Wan e Leigh Whannell (franquias Invocação do Mal e Sobrenatural), e Rob Zombie (Rejeitados pelo Diabo, A Casa dos 1000 Corpos).
Como já era de se esperar, Aja passou a ser cobiçado por Hollywood, e já em 2006, o diretor lançou a pedrada Viagem Maldita (The Hills Have Eyes), remake superior ao terror B original lançado pelo mestre Wes Craven em 1977. À partir de 2008, entretanto, a pegada de Aja perdeu consideravelmente seu impacto. No referido ano ele lançou o terror Espelhos do Medo (Mirrors), filme que apesar de ser um correto exemplar do gênero, ficou longe de causar um impacto significativo. Seus filmes seguintes, Piranha 3D (2010), Amaldiçoado (Horns, 2013), e A Nona Vida de Louis Drax (The 9th Life of Louis Drax, 2016), também não empolgaram os fãs do horror (apesar de Piranha 3D ser bem divertido), e o nome de Aja passou de promessa do gênero a apenas mais um dentro da cena Hollywoodiana.
Mas Aja continua um cineasta extremamente competente, não há como negar isso. O homem sabe construir thrillers eficientes, como no caso deste Predadores Assassinos (Crawl, EUA, 2019), e se em Piranha 3D o diretor abordou peixes assassinos um tanto difíceis de se acreditar, aqui Aja decide abordar outro tipo de predador aquático (e terrestre): os “alligators” (crocodilos) da Flórida. Os tubarões definitivamente já tiveram seu momento como estrelas de Hollywood, mas e quanto aos outros predadores? Eu diria que já passou da hora dos crocodilos ganharem seu lugar ao sol, e assistir à um pai e sua filha lutarem contra eles para sobreviver, sem dúvida é divertido.
Quando um massivo furacão atinge uma cidade costeira da Flórida, Haley (a bela Kaya Scodelario, de Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), ignora as ordens de evacuação para procurar por seu pai desaparecido (Barry Pepper, de O Resgate do Soldado Ryan). Ela o encontra gravemente ferido no porão da casa da família, bem no instante em que as águas de uma violenta inundação atingem o local. Com o tempo se esgotando para que ambos consigam escapar da tempestade cada vez mais forte, Haley e seu pai descobrem que o aumento do nível da água é a menor de suas preocupações, uma vez que um grupo de crocodilos os encurrala na propriedade quase toda submersa.
Produzido por Sam Raimi, nome forte do horror e do suspense com títulos como Evil Dead: A Morte do Demônio, O Dom da Premonição e Arraste-me Para o Inferno no currículo, o filme vende bem o horror sem se levar muito a sério. Ao mesmo tempo, o filme não exagera na goiabeira como o absurdo thriller Águas Rasas (The Shallows, 2016), por exemplo, onde a estonteante Blake Lively enfrenta um tubarão sedento por seu sangue. Neste aspecto, Predadores Assassinos é mais pé no chão, o que torna as situações de perigo do filme mais reais e algumas bastante agoniantes. Aja também utiliza bem o elemento da catástrofe natural, que funciona como uma terrível armadilha que transforma os protagonistas em iscas humanas para os temíveis crocodilos que os cercam. E com relação aos crocodilos, há uma excelente mescla de utilização de animais reais com efeitos-visuais competentes que tornam a assustadora ameaça réptil quase que uma barreira intransponível.
Como um ligeiro exercício de tensão e cinema de entretenimento, Predadores Assassinos funciona como uma sessão extremamente divertida, valorizada ainda pela beleza de Scodelario e pelo carisma do sumido Barry Pepper, que se esforçam para dar ao material um pouco mais de profundidade e verossimilhança. Como veículo para Aja, entretanto, Predadores Assassinos passa longe de ser o filme que colocaria o diretor de volta no posto de mestre do horror. Quem sabe na próxima.
Predadores Assassinos estreia nos cinemas brasileiros no dia 11 de julho.