Crítica: Sleepless (2017)

Um dos grandes méritos do bom cinema policial, é sua habilidade em contar uma história fictícia, mas completamente embebida na dura realidade das ruas e do combate ao crime, em tempos caóticos como os que vivemos hoje. E é justamente aí que reside o maior problema deste movimentado Sleepless (EUA, 2017), novo veículo para o astro vencedor do Oscar Jamie Foxx (Ray, Django Livre). Apesar de manter um bom ritmo, Sleepless padece terrivelmente de uma completa ausência de veracidade em sua trama, abandonando suas origens de uma interessante trama policial urbana, e adentrando uma triste categoria, onde reside o decepcionante pool dos filmes policiais comuns.

Sleepless é na realidade um remake do filme francês Pura Adrenalina (Nuit Blanche/Sleepless Night), dirigido por Frédéric Jardin em 2011, o que já é um motivo de desconfiança para o espectador, cada vez mais cheio de uma infinidade de remakes desnecessários. Até aí, a obra-prima do gênero Os Infiltrados (The Departed), dirigido pelo mestre Martin Scorsese também é um remake, contudo, o diretor suiço Baran bo Odar (do obscuro thriller Invasores: Nenhum Sistema Está Salvo, 2014), pouco carrega da genialidade de Scorsese, e seu filme acaba por ser uma decepção. Mesmo que ele não seja o principal culpado pelos problemas do filme.

O filme apresenta ao público o policial corrupto Vincent (Foxx), que ao lado de seu parceiro, acaba de roubar uma tremenda bolada em um assalto. Não demora muito entretanto, para Vincent descobrir que na realidade, o dinheiro que roubou pertence à uma perigosíssima família criminosa da cidade de Las Vegas. Agora, Vincent se tornou alvo dos criminosos, e também da corregedoria da polícia de Nevada, que na figura da obstinada oficial Bryant (a bela Michelle Monaghan, de Missão Impossível III), quer capturá-lo a qualquer custo.

Desenrolando-se praticamente todo durante uma agitada noite da cidade de Los Angeles, mais precisamente dentro de um cassino, Sleepless até elabora um interessante jogo de gato e rato entre Vincent, os criminosos e a polícia, que estão em seu encalço. A trama ainda envolve o filho adolescente do protagonista, que surge em meio ao alvoroço e traz mais um problema para o tira corrupto. A ação é eficiente e o ritmo da produção incessante, contudo, é no roteiro da experiente Andrea Berloff (dos ótimos Straight Outta Compton: A História do N.W.A. e Herança de Sangue) que a produção desanda bastante.

Insistindo em ser inverossímil, o roteiro de Sleepless tem mais buracos do que um queijo suíço. Os absurdos da trama atrapalham demais o desenvolvimento do filme, que em seu terço final, também esbarra em diversos clichês do gênero. É realmente uma pena, já que a produção desperdiça um excelente elenco, que além do sempre eficiente e carismático Jamie Foxx, conta ainda com a boa presença de Michelle Monaghan, do cada vez mais conhecido David Harbour (o xerife Hopper da série Stranger Things), e uma interpretação sensacional do ainda injustamente desconhecido Scoot McNairy (de Argo e O Homem da Máfia), dono do filme no papel de um criminoso barra-pesada.

Não aproveitando seu bom cenário urbano, que traz a sempre interessante trama sobre os limites da corrupção policial, tema que rende maravilhas para o gênero, suas qualidade técnicas e um elenco diferenciado, Sleepless infelizmente não se justifica, principalmente pelo fato de ser um remake. A produção até deixa as portas abertas para uma sequência, mas creio que assim como eu, poucos estão interessados no que estaria por vir.

Sleepless ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros.

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