É curioso falar sobre a carreira do ator australiano Sam Worthington. Mesmo ainda um tanto desconhecido por parte do grande público, Worthington foi presença garantida em diversos sucessos massivos de bilheteria. Foi protagonista de Avatar (James Cameron, 2009), uma das maiores bilheterias de todos os tempos, e da franquia Fúria de Titãs, além de um dos personagens-chave do bom O Exterminador do Futuro: A Salvação (McG, 2009). Ano passado, esteve no drama de guerra indicado ao Oscar Até o Último Homem (Mel Gibson, 2016), e este ano mesmo, está em outro enorme sucesso de bilheteria, o drama espiritual A Cabana (The Shack), baseado no best-seller homônimo.
É curioso também, falar sobre a carreira do diretor e roteirista Jonathan Mostow, que surgiu com força na cena cinematográfica em 1997, com o excelente thriller Breakdown: Implacável Perseguição, protagonizado por Kurt Russell. Graças ao ótimo resultado do filme junto à crítica e ao público, Mostow ganhou a grande chance de sua carreira em 2003, quando dirigiu o aguardado O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas (Terminator 3: Rise of the Machines), filme que marcou a volta de Arnold Schwarzenegger ao personagem que o consagrou. E aí começam os problemas na carreira do diretor, que ganhou fama de encrenqueiro devido à diversas discussões com produtores e elenco no set de filmagens. A suposta teimosia de Mostow custou-lhe seu lugar em Hollywood, e desde então, Mostow dirigiu apenas um filme em quinze anos, o thriller sci-fi Substitutos (Surrogates, 2009), protagonizado por Bruce Willis.
Este The Hunter’s Prayer (Alemanha, 2017), reúne estes dois nomes do cinema americano, que no momento, encontram-se em polos opostos na esfera hollywoodiana. E após conferir o filme, tem-se a nítida impressão de que Worthington, que também é produtor-executivo do filme, bancou a empreitada para tentar dar um up na carreira de Mostow. O resultado, entretanto, dificilmente servirá para resgatar a carreira do diretor, já que The Hunter’s Prayer é um thriller de ação de dar sono.
Baseado em um romance escrito por um tal Kevin Wignall, The Hunter’s Prayer traz Worthington no papel de Stephen Lucas, um atormentado matador de aluguel e veterano de guerra, incumbido da missão de assassinar a jovem Ella (a gracinha Odeya Rush, de O Doador de Memórias e Somos o Que Somos), após esta sobreviver à um atentado contra seus pais, mortos no ataque. Contudo, na hora H, Lucas acaba indo contra a ordem de seus superiores, e decide poupar a vida da garota, colocando tanto matador quanto vítima, na mira de um perigoso grupo de assassinos.
De premissa rasa e execução rasteira, The Hunter’s Prayer em alguns momentos parece não ter passado da etapa de pós-produção. A concepção do filme transpira um incômodo amadorismo e pobreza (o fato da produção ser ambientada na Europa também não ajuda), que não condiz com o status dos nomes dos envolvidos na produção. O roteiro, escrito pela dupla de roteiristas John Brancato e Michael Ferris, colaboradores habituais do diretor Mostow e especialistas do gênero, apenas recicla uma infinidade de clichês, além de apresentar personagens mal-desenvolvidos e caricatos.
Mostow ainda se mostra afiado na direção de sequências de ação e luta, único quesito que se salva na produção, além do carisma de Worthington e da beleza de Rush. Worthington visivelmente se esforça para dar alguma nova dimensão ao personagem, mas seus esforços não são suficientes para salvar a produção de um extremo lugar comum.
Resumindo, The Hunter’s Prayer funciona apenas como um mediano veículo para a carreira de Worthington, mas que nada fará pela carreira de Mostow. Além de ser um thriller feito especialmente para estimular aquele gostoso cochilo de um sábado à tarde.
The Hunter’s Prayer não tem previsão de estrear nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao sistema de streaming ou VOD.