Crítica: Um Gato de Rua Chamado Bob (A Street Cat Named Bob)

O gato. O gato não é o animal de estimação que os donos de primeira viagem esperam. Diferente do cachorro, o gato não corre na direção do dono quando chamado. Nem gosta de brincar sempre que seu dono está disposto, e nem mesmo é muito chegado num afago, na maioria das vezes. Mas o gato, assim como o cachorro e todo animal de estimação que se preze, carrega consigo aquela bela característica que faz dos pets a compania sempre perfeita: Lealdade. E neste bonito Um Gato de Rua Chamado Bob (A Street Cat Named Bob, Reino Unido, 2016), produção inspirada no livro autobiográfico do inglês James Bowen, este aspecto da personalidade dos felinos fica mais do que evidente, e é de vital importância dentro do contexto narrativo do filme.

Bowen (interpretado aqui por Luke Treadaway, o Dr. Frankenstein da ótima série Penny Dreadful), está perdido na vida. Afastado da família, ele sobrevive como músico de rua, tocando seu violão à procura de alguns trocados. O real problema, no entanto, não é a solidão ou a falta de dinheiro, mas sim seu destrutivo vício em heroína. Após sobreviver a uma overdose, James, ajudado por Val (Joanne Froggat, do excepcional drama Uma Vida Comum), uma psicóloga responsável por um programa do governo de reabilitação de viciados, consegue um pequeno apartamento para ajudar na sua recuperação. E é em sua primeira noite no local, que o elemento que mudaria sua vida para sempre, entra em cena: Um gato de rua, que mais tarde será chamado de Bob.

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Dirigido pelo competente e veterano cineasta australiano Roger Spottiswoode (de Atirando Para Matar e Uma Dupla Quase Perfeita, este segundo também um bacana exemplar cinematográfico sobre a amizade entre homem e animal), Um Gato de Rua Chamado Bob retrata exatamente o peso da amizade e da companhia na vida do indivíduo, especialmente aquele em recuperação das mazelas da vida. Ao contrário das produções que contam com cachorros como força motriz de suas narrativas, o filme de Spottiswoode não se apoia nas gracinhas ou peripécias do bichinho para divertir ou mesmo emocionar o público, principalmente pelo fato de que, como mencionei, os gatos não são animais tão espalhafatosos ou mesmo vivazes como os cães. Mas eles tem seu charme, e que charme! Bob, assim como todos os bichanos por aí, é adorável, lindo de se ver. E funciona como o contraponto sóbrio do problemático e sofrido protagonista da produção, que se agarra ao animal sabendo que Bob é provavelmente a única coisa a que se apegar num momento tão difícil.

E é aí que entra o que mencionei lá em cima, no comecinho da crítica. A lealdade e o companheirismo do gatinho são louváveis, literalmente abraçando seu novo dono, no momento em que James mais precisava de carinho, força e afeto. Esta relação de interdependência entre homem e animal, rende momentos maravilhosos e dramaticamente relevantes à produção.

É claro que a produção é, em sua essência, um filme bem agridoce. Não faltam momentos gracinha envolvendo Bob e seu dono, como por exemplo, a adorável sequência em que James toca em uma praça, tendo Bob como companheiro pela primeira vez, ou as caçadas de Bob à um ratinho que vive no apartamento de seu dono. Mas são sempre as sequências de interação entre James e Bob que saltam aos olhos do espectador, especialmente pela ótima performance de Luke Treadaway, que em diversos momentos entrega com perfeição a agonia que percorre seu corpo enquanto luta para se livrar do vício nas drogas. Uma curiosidade bem bacaninha: O gato do filme, um lindo vira-latas cor de laranja, é o próprio Bob do livro de James. E o bichano é bem fotogênico!

Uma produção leve, de tom otimista e familiar, Um Gato de Rua Chamado Bob faz dos tristes clichês da vida real, um adorável instrumento para se falar da amizade mais verdadeira que existe: A amizade entre o homem e seu animal de estimação. E não é preciso ser um entusiasta dos bichanos (como eu) para gostar ou mesmo capturar a verdadeira essência da produção: A de que quando se tem amigos verdadeiros, tudo, absolutamente TUDO é possível. Mesmo que este amigo não saiba (ou precise) proferir uma só palavra. Um miau já basta.

Um Gato de Rua Chamado Bob não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e talvez chegue diretamente ao serviço de streaming e home-video.

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