Priscilla Ávila conta outra história daquelas: Como sorrir?

Arte: Priscilla Ávila

 

São onze itens. Mas a fila de 10 unidades estava quase vazia. Carla resolveu avançar, qualquer coisa abandonaria uma das coisas,ou todas. Ela mesma já se sentia abandonada. “Se nem um ser humano era preciso, por que mais um objeto seria necessário? ”

Calma! Por favor, um segundo para diminuir o excesso de drama!

A novela de sua vida ainda nem tinha começado, mas é que tudo realmente estava caro e ela tinha sido demitida. Só pensava nos menos 100 reais na sua conta, que já tinha saído dos 3 dígitos. “Ainda bem que tenho chocolate para me acalmar. Na verdade, que AINDA tenho porque toda semana um real de aumento, não está fácil! Mas, como viver sem chocolate? Como sorrir? ”

Na TV de notícias do mercado, aparecia 11,8% de desemprego. Carla sorriu. Não estava sozinha. A próxima reportagem exibia um casal famoso em viagem para Bali. Carla entristeceu-se. Estava sozinha.

Os dias de Carla se resumiam a fazer comida e ficar em suas redes sociais. A cada coraçãozinho que derramava pelas fotos dos outros em seu Instagram era como se um pedacinho do seu coração realmente saísse. “Olha essas viagens, esse lugar, essa roupa, tudo tão lindo, que sorte a dela, que sorte a dele, que sorte, que sorte, que sorte… E a minha sorte? Cadê meu jantar, minha viagem, meu emprego, meu boy magia?”.

O chocolate acabara, sobrou o desespero. Ela já não conseguia segurar suas lágrimas. O Facebook lhe perguntava como estava se sentindo; era o suficiente para mais uma loção de lágrimas lavar as espinhas de sua pele, cada dia mais oleosa com os resultados da batalha entre cortisol e chocolate.

Estava chovendo, a luz caiu, a internet já era, a bateria do celular exaurida pelo excesso de likes. Carla não soube o que fazer. Resolveu sair do seu quarto. Lembrou que há dias não falava com seu colega de apartamento. Ou seria um mês? “Os horários dele eram loucos! ”. A verdade é que ela não se recordava mais de horários, rotinas, nenhum detalhe de uma vida socialmente e economicamente ‘adequada’. Num impulso, causado mais pela sua abstinência de açúcar que pela curiosidade, abriu a porta dele. Não reconheceu aquele corpo deitado na cama.

“Olá! ”. E naquele quarto não houve nenhum movimento além da reverberação das pequenas ondas de som de sua voz insegura e amedrontada.

Carla took the winding road by despair

The route of hope was there

She didn’t see

The route of love was there

She missed again

Despair was too fast for turns

Unemployment

Misery

Envy

These are the traffic signs now

She wants to brake

She needs to stop

She could it… She can…

Life is the fuel that loves new vehicles

But Carla begs for a new driver

Continua…

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