Crítica: VFW (2020)

Produzido sob o banner da produtora Fangoria, este VFW (EUA, 2019), traz tudo aquilo que você espera de algo produzido pelo legendário selo, que há mais de 40 anos é referência quando o assunto é horror, gore, violência e, ah, mais gore. O novo filme do diretor Joe Begos (do podreira The Mind’s Eye e do recente Bliss), é o mais novo ultrage da Fangoria e cia, e acreditem, o filme entrega o que promete. Isso pode ser um fator positivo ou negativo, dependendo de que aspecto cinematográfico você está procurando, mas já chegaremos lá. Como introdução, basta compreender que VFW é pura anarquia grotesca e violenta, onde não faltam corpos mutilados e cabeças explodidas. Pense em VFW como uma daquelas sessões da meia-noite proibida para maiores que seus pais nunca quiseram que você assistisse quando era menor, mas que quando saía em VHS, você dava um jeito de assistir na miúda enquanto eles dormiam. Ah, saudade desse tempo…

Fred (o ótimo Stephen Lang, de Avatar e O Homem nas Trevas), é o líder de um grupo de militares veteranos casca-grossa (que conta com figurinhas carimbadas como William Sadler e Fred Williamson), que se vêem frente à frente com uma horda de “zumbis” que estão sob o efeito de uma nova droga chamada “Hype” (sim, a mesma droga na qual todos ficamos viciados quando tem algum novo filme que preste na praça). Os velhacos linha-dura já sobreviveram ao Vietnã, Coréia e Afeganistão, e agora eles precisam encontrar um meio de sair de um bar decadente de Los Angeles em meio à uma verdadeira guerra de gangues que está prestes a sair do controle.

Esta é a primeira vez que Begos trabalha com um roteiro que não seja dele (aqui as honras são dos estreantes Max Brallier e Matthew McArdle), mas não há nada que fuja do que estamos acostumados a ver no cinema do diretor. VFW é um festival de cabeças explodindo, membros decepados e outras mortes bastante elaboradas. Os viciados/zumbis chamados de “Hypeheads” que adentram o recinto são massacrados como gado em um abatedouro (ou coisa pior), e tudo é feito com o que há de melhor em efeitos-visuais práticos, bem ao estilo do cinema do mestre John Carpenter nos anos 80.

Este tipo de efeito provoca reações bastante divertidas, uma vez que cadáveres prostéticos explodem como balões de carne quando lançados de sacadas, etc. A dupla responsável pelos efeitos, John e Sierra Russell, se divertem à beça arremessando pedaços de corpos em direção à tela ou transformando a cabeça do ator Graham Skipper em polpa de carne (interessante o fato de que o diretor Begos canonicamente adora mutilar Skipper em seus filmes). VFW promete, VFW entrega, e VFW transforma barbárie em passatempo deliciosamente degradante. Se o que você quer é sangue, então prepare-se para um verdadeiro deleite.

A servil dedicação de Brallier e McArdle em usar e abusar do subgênero da exploitation agrada em cheio quem (assim como eu), simplesmente não aguenta mais o insuportável politicamente correto dos dias de hoje. VFW deita e rola em diálogos repletos de “sutilezas” entre os velhos companheiros, principalmente quando o assunto envolve mulher (as feministas preferem a morte). Me diverti um bocado com algumas das tiradas, principalmente quando as conversas brincam com o fato da turma não se identificar com o mundo atual (confesso que me identifiquei um bocado com eles neste ponto).

O experiente elenco é sem dúvida o maior trunfo de VFW. Sadler (Difícil de Matar, Duro de Matar 2) funciona como o piadista do grupo, enquanto que o mal-encarado Martin Kove (o instrutor Krees da franquia Karatê Kid e da série Cobra Kai) é pura força-bruta, já Williamson praticamente repete seu personagem no parecido Um Drink no Inferno, como o matador chegado numa casa de meretrício e que vê a farra ir para o espaço com a chegada dos Hypeheads do filme. O arco de Lang como o comandante de sua milícia sênior é o melhor explorado, e desde o início fica claro seu instinto para a autoridade (a presença física de Lang sempre foi no mínimo ameaçadora ao longo da carreira). Obviamente, é ele o responsável da vez pelo bordão “I’m too old for this shit” aqui. Ou você realmente achava que um filme sobre matadores na casa dos 60 anos de idade não teria esse bordão disponível?

Sua parceria com Lizard (Sierra McCormick, de The Vast of Night, cuja crítica também está disponível aqui no Portal do Andreoli), uma garota à procura de vingança após a morte da irmã, é um dos melhores elementos narrativos do filme, e dão uma ideia de quem realmente é o Fred de Lang. Begos mantém a pressão aplicada durante toda a narrativa, e você pode sentir o ambiente sujo do bar onde a ação se desenrola, o que garante pontos para o ótimo design de produção. A equipe de Begos trabalha com esmero os detalhes mais realistas e urbanos da produção; luzes de neon com nomes de cervejas e as lâmpadas de um amarelo-vômito dão clima ao filme, enquanto que a ação se desenrola sob um espectro avermelhado que culmina num excelente trabalho de fotografia. Begos compreende o pandemônio que ele está invocando e mergulha seu elenco em muito gore e álcool derramado, e o melhor: faz tudo isso com um orçamento limitado.

VFW pode ser resumido como uma reunião de grandes durões do cinema de ação das décadas passadas, uma espécie de cruzamento infernal entre Os Mercenários com o citado Um Drink no Inferno ou Os Demônios da Noite (aquele longa-metragem da série Tales From the Crypt que traz a melhor performance da carreira do canastrão Billy Zane). Aquele tipo de filme onde qualquer coisa pode ser usada como arma (desde mastros de bandeira até tacos de bilhar), e que estraçalha corpos sem remorso. Joe Begos tem uma pilha de corpos esperando para serem descartados para diversão do seu público, e ainda que para alguns seja algo vil, repugnante e até inumano, para os fãs de um belo exemplar do “Splatterhouse/Grindhouse Cinema“, é puro deleite sangrento.

VFW não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

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