Crítica: Vivarium (2019)

A vida doméstica suburbana é literalmente uma armadilha neste Vivarium (IRL/BEL/DIN, 2019), um modesto porém intrigante thriller de ficção-científica cujos óbvios temas existenciais são bem servidos graças a uma execução esperta e confiante, que encontra novas maneiras de explorar as agruras da paternidade, dos compromissos que nos prendem e do envelhecimento.

Ainda que o filme se encontre diversas vezes em um processo de auto-indulgência com sua própria premissa diabólica, este segundo trabalho do diretor irlandês Lorcan Finnegan (do suspense sobrenatural Without Name, 2016), carrega virtudes como seu fascinante design de produção e as inspiradas performances de sua dupla de protagonistas, Jesse Eisenberg (A Rede Social, Zumbilândia) e Imogen Poots (Sala Verde, Doce Virgínia), que interpretam um casal que descobre o quão perigoso pode ser investir na moradia errada.

Uma das estreias mais inesperadamente comentadas no Festival de Cannes 2019, Vivarium se beneficia acima de tudo do valor de mercado de seus intérpretes centrais. O filme, porém, também funciona com os fãs de pequenas e inteligentes ficções-científicas de orçamento limitado, e a produção atrai comparações a trabalhos recentes como Complicações do Amor (The One I Love, 2014) e Marjorie Prime (2017). Deliciosamente estranho, este retrato nada convencional e sinistro do casamento tem tudo para atingir o status de cult.

Poots interpreta Gemma, uma professora que ao lado de seu namorado, Tom (Eisenberg), está à procura de uma casa. O feliz casal é convidado para visitar uma open house em um promissor novo condomínio chamado Yonder, cujas várias casas são todas idênticas. A comunidade, que parece não ter residentes no momento, deixa o casal um tanto quanto incomodado, porém quando eles tentam sair do local, eles se perdem em um labirinto. Frustrados, assustados e sem gasolina, eles se abrigam em uma das casas na esperança de descobrirem uma saída. Entretanto, não demora muito para as coisas se complicarem de vez para o casal, já que pouco tempo depois os dois recebem um pacote na porta da frente, contendo um bebê recém-nascido.

Trabalhando novamente com o roteirista de Without Name, Garret Shanley, Finnegan constrói um mistério surreal o qual Gemma e Tom tentam entender e solucionar. Começando por quem estaria por trás do estranho esquema no condomínio. O título do filme até dá uma ideia do que está por vir, e inicialmente a preocupação é que Finnegan e seu elenco entreguem uma estilosa porém previsível crítica ao consumismo e à escravidão suburbana.

Mas após o início um pouco lento, Vivarium começa a estabelecer seu ritmo e tom, que é calculado e despretensiosamente assustador (o ansioso score musical de Kristian Eidnes Andersen ajuda a aumentar o clima incômodo da produção). Não existem sustos na narrativa, assim como não há derramamento de sangue, mas ainda assim o filme transpira paranoia à medida em que Gemma e Tom precisam assumir seus respectivos papéis de esposa/mãe e marido/pai, performando deveres aos quais eles nunca se candidataram. O público rapidamente consegue identificar quais convenções sociais estão sendo satirizadas, mas a precisão do ritmo que Finnegan impõe em seu filme e a incerteza com relação ao que realmente está acontecendo, mantém o espectador em suspense constante. Mais importante, Vivarium evolui utilizando-se de uma curta duração, deixando surpresas pelo caminho e revelando novas camadas em sua história.

Dito isso, o fardo da narrativa recai nas duas estrelas do filme, que não precisam apenas agregar um ar de veracidade à produção, mas também cuidadosamente navegar na crescente imersão de seus personagens no “convidativo” conforto anti-séptico do Yonder.

Eisenberg habilidosamente interpreta outra variação de sua melancólica e intensa presença de cena, porém seu personagem não é particularmente cativante. Isso acontece porque, no final das contas, Vivarium conta a história de Gemma, e Poots está esplêndida como uma delicada professora que descobre o que o mundo realmente espera das mulheres como um todo. O filme por vezes exagera na condução de suas ideias, mas Poots evita que Vivarium seja apenas um tímido e frio exercício intelectual. A atriz adiciona substância e alma àquela que pode ser a mais perturbadora noção exposta pelo filme: a de que de uma forma ou de outra, todos nós nos tornamos prisioneiros de nossas próprias vidas.

Vivarium ainda não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar ao país diretamente através de sistemas de streaming e VOD.

10 respostas

  1. O filme é uma merda e a crítica pior ainda. Crítica de quem nada entendeu pq não tem o que entender. Quem criou deve ter fumado um baseado ou Laís estragado ou com prazo de validade vencido. Enfim, foda-se.

  2. O que mais me impressiona é, depois de terminar o filme, vc ver quantos profissionais trabalharam, empresas envolvidas, enfim… uma infinidade de profissionais, projeto econômico envolvido, um alto investimento, pra se entregar um filme sem um final convincente, que não te leva para o final, mas te deixa no vácuo… triste, do início ao fim. Essa é a verdade!

  3. Bosta! Bosta! Bosta! Jamais assisti filme tão ruim. Incrível como a crítica não tem nada a ver com o filme… Que filme horrível! Sem nexo e sem noção. Começou ruim e terminou péssimo. Não teve enredo nem concretização, sem conceito e mal construído. Seguramente, um dos piores filmes “ficção científica” (oi?!?) que já assisti na minha vida. Desperdicio de talento de ambos os atores protagonistas dessa merda, que chamam de “filme”. Entediante. A gente fica esperando algo acontecer o tempo todo nesse filme e absolutamente NADA acontece! A minha crítica seria 0 com louvor!!!

  4. Se você é daqueles que quer um final mastigado, um filme com ação descabida e que não te faça questionar ou pensar, se filmes da Marvel são a única coisa que te divertem, fuja deste filme.
    É um dos filmes mais intrigantes que vi nos últimos tempos. Uma ficção científica incrível, que tem o seu ritmo resumido na cena em que Gemma parece passar por várias outras casas, um misto de loucura e projeção na vida alheia.
    A crítica é tão boa quanto, ao explicar de maneira simples a metáfora apresentada pela película.
    Nota 10/10

  5. vocês que acharam o filme ruim, com certeza não deveriam assistir a nenhum filme que tenha alguma profundidade além de filmes comerciais. assista a filmes de comédia, ação, aventura, fantasia. não estou dizendo que deixam de ser bons, mas pelo menos você não precisa usar muito sua cabeça pra pensar porque tudo estará mastigadinho pra você 😉 deixem filmes bons pra quem aprecia

  6. O filme é uma tese que não conseguiu antítese nem síntese. Mas a tese foi levada ao extremo. Creio que a maioria não vai entender o verdadeiro próposito da historia. Nem a maioria dos críticos vão entender. Sem falar que a maioria tem o rabo preso com as produtoras. Alguns dirão que se trata de sobrevivência. Por isso mesmo não dá pra levar muito a sério.

  7. A análise foi feita de forma materialista. Esse filme deve ser analisado sob o ponto de vista espiritual. O número 9 tem o significado de ser o final de um ciclo e começo de outro. Este número está associado ao altruísmo, a fraternidade e espiritualidade. … O nove representa a realização total do homem com todas as suas aspirações atendidas e seus desejos satisfeitos. Ele é capaz de dedicar-se ao amor universal, incondicional por tudo e por todos. Ou seja, o a missão dos protagonistas estava explícita pelos espíritos superiores, sendo certo que estariam “released” (liberados) após criarem o “menino”. Não aceitaram o seu destino e tentaram controlar o que é incontrolável, ou seja, a própria vida. Viveram um inferno qdo poderiam ter vivido no paraíso. Essa é a vida. Nós aceitamos o que nos é dado e vivemos bem, ou rejeitamos e vivemos um inferno na terra.

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