Crítica: Wolves (2017)

Depois de um 2016 recheado de atuações, onde esteve em dez (sim, DEZ!) produções, entre elas o interessante suspense Complete Unknown, a mediana sci-fi Destino Especial (Midnight Special), e os ótimos dramas Loving e Animais Noturnos (Nocturnal Animals), ambas produções premiadas e indicadas ao Globo de Ouro e ao Oscar, e cujas críticas você também pode conferir aqui no Portal do Andreoli, o workaholic e excelente Michael Shannon esteve também em outra produção menor, que chegou aos cinemas americanos somente agora em 2017. Trata-se do drama Wolves (EUA, 2017), produção que apesar de não trazer Shannon como o protagonista propriamente dito, traz mais uma grande atuação do ator, como de costume.

O protagonista em questão é o jovem Anthony (Taylor John Smith, de alguns episódios da série American Crime), que aos 18 anos de idade, é a sensação do basquete universitário. Prestes a ser recrutado pela Universidade de Cornell, um dos berços de grandes nomes do basquete nos EUA, Anthony parece ter tudo sob controle: É popular, tem uma namorada apaixonada por ele, e o apoio da família. Bem, em partes. Já que seu pai, o professor universitário e apostador inveterado Lee (Shannon), começa a se complicar cada vez mais com suas dívidas de jogo, e passa a colocar o próprio futuro esportivo e acadêmico do filho em risco.

Escrito e dirigido por Bart Freundlich (da comédia romântica Novidades no Amor, 2009), Wolves é uma típica produção pequena do cinema independente norte-americano, discreta mas relevante. A produção explora de maneira eficiente a complicada mecânica envolvendo a família do protagonista, que além do citado Shannon no papel do pai viciado em jogo, conta ainda com as presenças da bela Carla Gugino (Watchmen, 2009), no papel da mãe, e de Chris Bauer (8MM: Oito Milímetros, 1999), no papel do tio do garoto. O filme também explora de maneira realista e interessante os bastidores do basquete universitário americano, que já serviu e continua servindo como vitrine para diversos grandes nomes do esporte.

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A produção, contudo, derrapa em alguns aspectos da narrativa, como por exemplo, a maneira superficial com que trata a relação entre Anthony e sua namorada, Victoria (a encantadora Zazie Beetz, que estará no aguardado Deadpool 2), especialmente em uma questão específica que passa a ameaçar a carreira do jovem jogador. E também em sua conclusão um tanto desnecessariamente melodramática demais, além de moralmente discutível.

Porém, a produção carrega passagens bem interessantes, como por exemplo a relação de aprendizado que surge entre Anthony e um veterano jogador de street basketball, interpretado por um ótimo John Douglas Thompson (O Legado Bourne, 2012), que acaba agindo como um mentor para o jovem, que se encontra cada vez mais confuso com os rompantes de seu imprevisível pai, que carrega consigo, além dos demônios do vício, uma perigosa tendência para a violência e uma injustificada inveja do sucesso do próprio filho. Tanto as sequências envolvendo Anthony e o velho jogador, como as que envolvem o jovem e seu pai, são disparado as melhores qualidades do filme.

Apesar do resultado irregular, Wolves justifica sua existência, graças especialmente à seu elenco bem acima da média, principalmente o incansável e cada vez melhor Michael Shannon, que mesmo em uma produção menor e de escopo limitado como esta, atua como se não houvesse amanhã, sempre em seu intenso limite e com visceral construção de personagem. Shannon sempre vale o ingresso.

Wolves não tem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, e deve chegar diretamente ao mercado de streaming e home-video.

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