Crítica: Contato Visceral (Wounds) | 2019

Wounds

Um dos destaques da mostra Midnight do Festival de Sundance deste ano, este Contato Visceral (Wounds, UK, 2019), garante alguns pontos graças a presença de dois grandes nomes do cinema americano da atualidade: o bonitão Armie Hammer (do cult Me Chame Pelo seu Nome), e a gatíssima Dakota Johnson (dos recentes Maus Momentos no Hotel Royale e o remake de Suspiria, cuja crítica campeã de acessos também está disponível aqui no Portal do Andreoli). Entretanto, é justamente a presença da dupla o único elemento que valoriza um pouco esta produção, ainda que a premissa sobre um smartphone maligno seja suculenta o suficiente para atrair os fãs do gênero.

Hammer interpreta Will, um bartender de Nova Orleans com uma bela e inteligente namorada, Carrie (Johnson), e um emprego que permite a ele passar um tempo com sua amiga, a sensual Alicia (Zazie Beetz, de Deadpool 2 e High Flying Bird, cujas críticas também estão disponíveis aqui no Portal do Andreoli), que costuma frequentar o local agora ao lado de seu novo namorado, Jeffrey (Karl Glusman, de Love 3D e Animais Noturnos, cuja crítica também está disponível aqui no Portal). Numa noite, depois que uma briga acontece no bar, Will esbarra em um celular deixado para trás por um cliente não-identificado. Ele então decide levar o telefone para casa, e após ser vencido pela curiosidade e decidir vasculhar o aparelho, ele descobre perturbadoras fotos de corpos espalhados e cabeças decapitadas.

A origem destas fotos sinistras, e as razões pelas quais o celular começa a perturbar a mente de Will, são os mistérios centrais de Contato Visceral, enquanto que seu diretor, o iraniano Babak Anvari (do aclamado horror Sob a Sombra, cuja crítica também está disponível aqui no Portal), tenta equilibrar o horror psicológico com um estudo de personagem que nunca alcança todo seu potencial. A mistura destes elementos é até interessante, mas Anvari nunca consegue fazer a narrativa funcionar, resultando em um filme onde os choques soam tão arbitrários que a história é quase nula em envolvimento emocional.

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Armie Hammer faz o seu melhor para trazer intensidade à produção, mas esta estreia de Anvari no cinema fora de seu país de origem nunca realmente consegue fazer o espectador se importar com seus personagens ou com as estranhas ocorrências que começam a acontecer uma vez que seu protagonista encontra o famigerado celular do capeta. Conhecido por interpretar personagens sofisticados, aqui Hammer se sai bem ao incorporar um cara comum, que parece não estar numa fase muito boa (ao longo do filme, descobrimos que Will tem uma queda pela bebida e enfrenta um problema de visão).

E para piorar (e muito) sua situação, ele passa a receber perturbadores textos no telefone abandonado e em seguida começa e ter visões horripilantes, que conspiram para que ele perca sua sanidade. O progressivo terror experimentado por seu personagem passa a exigir que Hammer torne-se cada vez mais desequilibrado, e ainda que ele consiga canalizar a urgência da situação, o roteiro de Anvari (baseado no livro The Visible Filth, do escritor Nathan Ballingrud), é tão nonsense que o lento colapso mental de Will parece mais como um esforçado exercício de atuação do que uma genuína expressão do trauma interno do personagem.

Também é frustrante o fato de que Contato Visceral falha em estabelecer com sucesso os parâmetros para o horror que visita Will e Carrie. Sem revelar as reviravoltas da trama, posso dizer que o telefone está conectado a terrores mais profundos e antigos, porém nenhum deles tem a ressonância esperada (a imagem mais potente do filme mais parece uma releitura de O Chamado). E ainda que o espectador possa intuir que tais horrores são na realidade um comentário sobre a deteriorada escuridão por baixo da amável conduta de Will, eles não são específicos ou assustadores o suficiente para realmente parecerem com acusações de seu caráter pessoal. Consequentemente, o público acaba tendo que aturar um sem-número de jump scares e surtos sem sentido.

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Não resta muito para Johnson fazer no papel da namorada de Will, enquanto que a Alicia de Beetz carrega uma sexy empatia por ele que acaba tendo um importante papel no filme. A atração entre os dois surge justamente pelo fato de que ambos sabem que têm alguém esperando por eles em casa, mas toda vez que alguém do elenco começa a revelar a verdadeira natureza de seus personagens, Anvari nos traz de volta à sua nada inspirada narrativa de horror, acumulando histrionices e sustos pouco convincentes.

Inicialmente um intrigante filme de horror, mas que aos poucos descamba para a bobeira, Contato Visceral é o tipo de filme onde baratas rastejam em todo lugar, estranhas erupções cutâneas dão as caras nos lugares mais inesperados, e portais para reinos sinistros se tornam prenúncios hipnóticos de perdição. Contudo, não há nada mais aterrorizante em Contato Visceral do que a quantidade de talento criativo desperdiçado em um material completamente medíocre.

Contato Visceral estreia no catálogo da Netflix no dia 18 de Outubro.

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