Os estudiosos, os especialistas, os estatísticos do futebol sempre falam em números. Adoram números: tempo de bola rolando, porcentagem de bola parada, minutos de posse de bola do time A, quantidade de faltas do time B, chances de gol no segundo tempo, aproveitamento individual em relação ao primeiro tempo.
Acha chato? Só quer saber de gritar “gol!!!”?
Então, espera. Lembra quando foi que o árbitro passou do estágio acumulado de vilão para estraga-prazer? O jogador sai pra comemorar e, se tira a camisa, quando sobe no alambrado, se demora pra retornar pro campo, toma cartão amarelo ― tá na regra, mas é chato.
E quando o jogador vai bater escanteio e põe a bola 99% fora da marca e o árbitro vai lá conferir se a sombra dela também conta ― regra é regra, mas quem é chato?
Acontece, também, quando vão bater pênalti e a marca parece mais marca d’água que apagou com a chuva, ou está no ‘vale das sombras’, de tão profunda. Nem pra esquerda, nem pra direita, nem pra frente, nem pra trás: tem que trazer um tufo de grama pra preencher o buraco, pelo menos ― ninguém viu antes, nenhum chato viu antes, muito antes de o jogo começar?
Não seja chato. Isso tudo é demodê. Os tempos são outros. O resto é VAR.
Hoje, é tempo de bola rolando, posse de bola do time A, posse de bola do time B, tempo de VAR analisando, tempo de pensar em analisar, tempo de ouvir o que não se viu, tempo de correr até o VAR, tempo de debater com a equipe do VAR, tempo de voltar do VAR, tempo de gesticular, tempo de ratificar a própria decisão, tempo de voltar atrás, tempo de ir, tempo de vir, tempo de VAR.
Tempo de comemorar gol? Em dois tempos: o real e imediato ― e depois da VAR, se validar.
Viu a que ponto chegamos? Chora, chato.
A vida não tem VAR. Então, comemora o gol enquanto pode. Comemora na primeira, de primeira mesmo. A gente nunca sabe nem se vai haver segundo tempo.