Andrea Ignatti: Pedra sobre perda

Se é difícil saber perder, imagine saber ganhar.

Quando a gente perde, sofre uma derrota, em qualquer circunstância, de qualquer nível, seja como for ou pra quem for, a gente não sabe de imediato nem o que pensar, pra onde olhar, pra que lado andar, o que fazer com as mãos, o que dizer se nos perguntam alguma coisa. Susto. Frustração. Surpresa. Falta de ar. Dói. Às vezes, a gente chora. Às vezes, a gente sente raiva. Por mais que a gente saiba que tenha se preparado para vencer, o sentimento é ruim. Existe tristeza, decepção, um monte de sentimento que a gente não queria ter.

Quando a gente ganha, a gente vira as costas pra comemorar. Vira as costas pra quem perdeu. O derrotado não faz parte da nossa festa, da nossa alegria, da nossa comemoração, dos nossos planos. Ele está triste e a gente está alegre: não combina. Ele é perdedor e a gente é vencedor: não somos iguais. Eles ficaram para trás. A gente seguiu. Tchau.

A tenista japonesa Naomi Osaka ― atual número 1 do ranking da ATP ― virou a mesa, quebrou a banca, chutou o balde, rasgou a fantasia. De todos nós.

Ao vencer a norte-americana Coco Gauff ― a fenomenal adolescente de quinze anos de idade que vem conquistando o mundo do tênis desde o ano passado ― Naomi a convidou para participar, junto com ela, da habitual entrevista que o vencedor concede à emissora de televisão, o que não é habitual.

Naomi não lhe virou as costas. Foi ao seu encontro. O momento era de consolo, não apenas pela amizade que ambas cultivam desde muito cedo. O mundo é de competição no esporte, no tênis. Mas Naomi tem outros olhos, outro coração ― e enxergou, naquele momento, mais do que a derrota da adversária, mais do que a própria vitória.

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Saber ganhar às vezes é tão difícil quanto saber perder. Às vezes, temos vergonha de sermos sinceros, de simplesmente demonstramos nossos sentimentos, de dizermos a verdade, de mostrar coração bom.

Naomi quebrou a cara daquele cara que alimenta os sentimentos da garota durante meses e, quando ela se declara, ele vira e diz que está saindo com outra, que não ia dar certo. Porque ele acha que apenas o sentimento dele é que vale, sem se importar com os sentimentos que fez despertar na garota, sem se dar conta do que isso significa na vida dela…

Naomi também virou o mundo de ponta-cabeça, como desabafou o tenista brasileiro Fernando Meligeni, em sua conta no Instagram ― e que, me permita, transcrever aqui um trecho:

“Naomi Osaka não venceu seu jogo. Venceu a estupidez humana, o chefe babaca, o poderoso que pisa no jovem aprendiz como se nunca tivesse jovem e inseguro. (…) Essas pessoas que pouco ou nada dão aos outros (…), que só pensam em dinheiro, que só querem subir custe o que custar. Hoje a Osaka fez um bem a humanidade. Deu um tapa na cara dos jovens mal educados que acham que podem passar por um experiente do seu meio debochando ou para um veterano que se acha mais que o jovem e não dá nenhum conselho.”

Como Naomi convenceu Coco a dar entrevista com ela: é melhor chorar tudo o que houver pra chorar naquele momento do que chorar no vestiário ou no chuveiro. Chorar junto. Pra nunca mais. Você vai lembrar da derrota, se é que vai lembrar, como aquele verdadeiro passo pra seguir adiante. Vai doer menos, bem menos, por causa de uma atitude grande, enorme.

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Essa é a pedra colocada sobre a perda. Assunto encerrado. Vitória dupla. Mas que ainda se fale muito sobre isso!

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