Quando soam as sirenes, fazem mais silêncio ou menos?
Se a chuva carrega o que é estático e o que é dinâmico, o que é o pânico? O que é crítico? O que define o atípico?
A vida corre ou a vida para? Atônita? Catatônica? Quem explica? Quem se explica?
E quando o juiz apita: o minuto de silêncio é hino, é grito de guerra?
Quem canta a minha dor, a sua, a de cada um?
Está tudo fora de tom, tom abaixo, desarmônico.
Muitos te abraçam, Rio, te lembrando em outros campos. Mas apedrejam ônibus de jogadores em São Paulo, num desenlace desse abraço. E eu ainda pergunto: que jogo é esse? A chuva vai, um dia, lavar essa alma, levar essa lama?
Quem respeita as nossas horas de silêncio?
Chuva de gols é homenagem?
Adiam o jogo por causa da chuva — e como é que eu adio o sofrimento que a chuva causou? Como é que se adia a vida?!
Jogam no campo mesmo encharcado — e, até aí, tudo igual: meus olhos também continuam encharcados de lágrimas. (E eu sei o que vai demorar mais pra secar.)
Não me afoguem as mágoas. Não soterrem minhas esperanças.
Se há clima pra alguma coisa? A previsão do tempo é essa: segue o jogo. A vida continua; digo, as que continuam.
“(…) Em busca do imenso, do silêncio mais intenso que está depois dos temporais”.