Andrea Ignatti: Sonho de consumo

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Ter feito os três gols da vitória do Athletico Paranaense sobre o segundo maior campeão da Libertadores é provavelmente uma daquelas histórias que Marco Ruben não imaginaria contar. Nem nos mais profundos sonhos, talvez nem contra o Boca Juniors.

O Palmeiras, que sonha em ser campeão paulista, certamente não imaginava perder na Libertadores para o vigésimo-segundo colocado do Campeonato Argentino.

O Inter viveu noite de sonho com recorde de torcedores no Beira-Rio contra o River Plate, também pela Libertadores. Sonho de consumo é ter um De La Cruz pra bater falta no time da gente, assim, a la Messi. Ou um estraga-prazer, para os colorados. O sonho estava indo tão bem!…

Levir Culpi, que anda tendo pesadelos, daqueles bem comuns na vida do treinador de futebol aqui no Brasil, transpirou mares que Minas Gerais não tem pra vencer o time venezuelano. Cai-não-cai, cai-não-cai: nem da cama, nem do cargo, por enquanto.

O Cruzeiro sonha 100% com a classificação na Libertadores: 100% de aproveitamento, 100% de contentamento.

Na Copa do Brasil, zero pra cá, zero pra lá. Luverdense e Fluminense vão passar a semana sonhando com o jogo da volta. O Corinthians, que também sonha com o Paulista, tinha vantagem pelo jogo de ida e eliminou o Ceará.

Gabigol sonhou em fazer mais gols na temporada pra fazer o Flamengo avançar na Libertadores. Só fez o coração do Abel Braga assustar, poxa vida. Foi expulso sem fazer gol. Mas o sonho da Nação não acabou nem com o gol do Peñarol no fim da partida.

Seu sonho de consumo é ter Cristiano Ronaldo vindo jogar no seu time com um salário ínfimo? É seu time cogitar contratar Mourinho ou Guardiola sem precisar contar moedas? Ou simplesmente que seus jogadores não sejam vendidos e emprestados? Que seu time faça muito mais gols do que tome? Que seu goleiraço faça defesaças em todo jogo e seu artilheiro seja recordista de hat-trick em todo jogo também? É ter uma defesa fechada, um ataque veloz, toque de bola perfeito? Nunca ouvir falar em lesão, em desfalque por convocação? Ser campeão dessa amada Libertadores? Tudo bem, está tudo valendo!

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Meu sonho de consumo, romântica que sou, é ver meninos-fãs descendo de árvores, a pedido do treinador do time, pra assistir ao treino mais de perto, sem bronca. O mesmo treinador que mal acaba de sofrer derrota em clássico e tem a pacificidade de sacar umas selfies com os pequenos torcedores.

E, num sentimento inversamente proporcional, está também o sonho de nunca, nunca mais ver e ouvir sobre a violência — tenebrosa, absurda e triste, afinal — entre aqueles que imaginam que o escudo de um clube de futebol arma, apara ou ampara uma vida. Não vale o ataque porque não há chance de defesa. A violência não dá jogo: ela já começa perdendo simplesmente pelo fato de começar. Violência, no futebol, só da bola pra dentro do gol.

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