Andrea Ignatti: Vê-Agá-Ésse

Eu já vi esse filme. E nem foi ontem. E nem foi na TV por assinatura, nem on demand. Rodou em “vê-agá-ésse” e você também já viu. Só não deve lembrar. VHS. Lembrou?

Lembra, sim, porque o filme passa toda hora. Repete mais do que “A Lagoa Azul”, tempos atrás, naquela Sessão da Tarde. Repete mais do que hino da Espanha na Moto GP, na geração Marc Márquez. Repete mais do que o grito da Maria Sharapova quando bate na bolinha. Repete mais do que a música preferida nos aparelhinhos de som. Repete mais do que ‘meme’ chato na rede social. Repete mais do que “The book is on the table” na aula de inglês barata. Repete mais do que gol do Flamengo, ultimamente.

Repete tanto e há tanto tempo que parece que acontece desde os tempos das fitas de “vê-agá-ésse”! A tecnologia chegou, o VHS mofou, mas tem gente que adora carregar o peso do passado e não consegue desgrudar os olhos de lá.

A escolha de treinadores de futebol no Brasil é jogo de cartas marcadas. É tanto amor ao passado? É tanto medo do novo? É acordo de cavalheiros por aí também? “Me escolhe que eu te escolho”? “Não tem tu, vai tu mesmo”? É um patriotismo míope?

Oswaldo de Oliveira é uma das cartas que, no seu segundo jogo no comando do Fluminense, foi xingado pela própria torcida e só não entra no livro dos recordes por causa disso porque a habitual apatia lhe permite discorrer sobre a cultura do futebol e do torcedor brasileiro com a mesma emoção que o time vivencia na posição que ocupa na tabela do Campeonato Brasileiro.

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Mano Menezes é outra carta que não saiu do Cruzeiro depois de tantos anos porque estava ganhando tudo. Alguma coisa não funcionava pra ele por lá. Não deu 2 tempos ― e é contratado pelo time que estava hoje de manhã brigando pela liderança do Brasileirão. Ambos vencidos. Vencedores, sim; mas do passado. Hora errada para juntarem forças.

Tem muito VHS rodando na preleção, no vestiário, na sala de reunião.

Em tempos de VAR (que ainda nem funciona muito bem, convenhamos), falta arriscar o chute de longe. Bom, se for ver, até o de perto às vezes vai pra fora. Mas, no futebol, o negócio é chute pro gol, meu caro. Não recua, por favor.

Então para de ficar esperando a opinião dos outros, para de ficar correndo pro videocassete e mete a cara na tela desse VAR de uma vez por todas. E ajuda a fazer a coisa funcionar. O lance tá na tua cara. Lança teu chute PARA A FRENTE!

Esse filme, sim, eu quero ver! Bem moderninho: na tela do celular.

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