Fábio Muniz: Um sonho. Um inconsciente brasileiro. Uma oportunidade…

Bom dia meus amigos do portal Andreoli!

Eu não sei você, mas eu sempre fui apaixonado por entender os mistérios da mente humana. A vida me levou para outra categoria universitária e académica, mas eu quase comecei os meus estudos em psicologia e me imaginei no mundo da psicanálise muitas vezes. No Brasil, nos Estados Unidos, na França e até eventualmente em uma das universidades em Portugal. Mas, sempre por um motivo ou outro, a “bola bateu na trave” e eu continuei fazendo da psicologia e da psicanálise apenas um material de estudo, curiosidade, “hobby” enquanto converso com amigos psicólogos e continuo crescendo no conhecimento de uma área que parece o nosso universo: algo que segue em continua expansão.

O inconsciente coletivo de Carl Jung e as sombras que nos habitam tanto quanto os conceitos Freudianos relacionados ao complexo de Édipo e as diferenças do Super Ego, Ego e Id sempre me fascinaram…

Pois bem, vou seguir um pouquinho mais neste preâmbulo para você ter um melhor pano de fundo. Não existe ninguém que se apaixone por psicologia que não acabe lendo Freud.

Aliás, gostando ou não dos conceitos Freudianos, os clássicos Totem e Tabu e Interpretação dos Sonhos são livros indispensáveis na leitura psicanalítica. E mais do que isto: Quando eu morava em Barcelona, tive a chance de visitar a casa do Freud em Viena e viajar na esteira da sua história familiar: judaica.

Em julho de 2009 eu estive em Viena e visitei a casa onde Freud morou. Freud foi um austríaco neurologista, psicanalista e fundador da psicanálise. Ele viveu em Berggasse, Viena. Foi exatamente onde o livro “A Interpretação dos Sonhos” foi escrito. Freud fugiu para Londres devido a perseguição Nazista. Foi em Londres que ele veio a falecer em 1939.

Por outro lado, Carl Jung, discípulo de Freud, a princípio, fez a sua viagem na esteira familiar do mundo protestante…

Ora, conversando com tanta gente que eu encontro no mundo inteiro e que tem a ver com as instituições religiosas, cada vez mais tenho a opinião que o Ocidente da Terra foi o terreno absolutamente ideal para o nascimento da psicanálise partindo da premissa que as duas das maiores religiões monoteístas contribuíram para tal processo onde as repreensões do universo judaico-cristão “não toque nisto”, “não faça aquilo” exacerbaram as “taras” e as doenças da alma.

De qualquer forma, este é um tema que eu deixo para os meus amigos psicólogos e psicanalistas discutirem e concluirem com muito mais propriedade do que eu.

Isto posto, entramos no tema da coluna de hoje. Já são 17 anos que não vivo no Brasil. Destes 17 anos, eu tive a oportunidade de trabalhar com a língua Portuguesa, mas fora do Brasil:  2 anos na Flórida, Estados Unidos e outros 2 anos em Fujisawa, Japão. Nada mais do que isto. 4 anos. Ponto final!

Na realidade, eu passei 17 anos sem trabalhar, escrever ou usar a minha língua materna, o Português, servindo diretamente a comunidade brasileira do Brasil, até que um sonho começou a se tornar recorrente e eu me “angustiei”…

Aliás, eu sonhava que estava falando em Português e ninguém me entendia. A minha audiência era estrangeira. E eu acordava angustiado. Eu dizia para a minha esposa que não sabia o que fazer…

Uma vez…

Duas vezes…

Durante um ano…

Uma vez por mês, no mínimo…

O mesmo sonho recorrente. Às vezes, eu me dirigia à um teatro, e no caminho pensava no que falar, no que compartilhar, e então, eu dizia para mim mesmo que falaria e explicaria sobre as coisas mais extraordinárias da vida, as coisas do meu coração, tudo sem anotações…

Quando eu chegava no local, no meu sonho, eu olhava para o rosto de cada indivíduo, e me desesperava escrevendo o meu discurso, treinando a minha pronúncia diante de um público que eu percebia ser estrangeiro e que não falava Português…

E mais uma vez, acordava angustiado. Um sonho. Um inconsciente brasileiro…

Apesar das múltiplas culturas que temos navegado, diferentes passaportes e cidades, centenas de oportunidades, experiências inimagináveis e projetos dinâmicos, o meu inconsciente latejava e me falava de algo que eu não sabia como responder…

Em outras palavras, por mais que eu deite a minha cabeça em travesseiros de múltiplas culturas, países e idiomas, o meu inconsciente continua sendo brasileiro…

Até que uma conversa surgiu. O meu amigo Andreoli me disse do portal. Um convite apareceu. E portanto, eu voltei a escrever em Português depois de 17 anos.

Eu e o meu querido amigo Luiz Andreoli. Um bom papo e ótimo café na Ofner de São Paulo há quase 2 anos. Agradeço o carinho tanto quanto o convite para escrever no portal como um dos colunistas.

É por isso que eu estou aqui, e você aí, e temos um encontro uma vez por semana…

E depois, uma outra oportunidade, e outra…

Alguém me leu, a Jacira, que se tornou muito querida da nossa familia. Ela me leu no portal. Ela leu uma das colunas sobre o C.S. Lewis e o Tolkien. E então, ela me chamou para uma palestra no Seminário Teológico Batista de Perdizes.

Pois bem, eu estava cheio de alegria falando em Português. Eu nem me importava com o meu fuso horário: começamos à meia noite, e parei às 3 horas da manhã com 15 minutos de pausa…

Quem está na chuva é para se molhar…

Que alegria!

Outras oportunidades no Zoom. Outros convites…

Eu finalmente sendo eu. Falando a minha língua amada e materna: o Português!

Não me preocupando com pronúncias e metáforas que podem ser mal interpretadas…

E mais ainda: alguém me convidou para falar sobre a história da igreja na França e do Cristianismo no mundo pós-cristão. Uma palestra. Uma oportunidade. A única oportunidade, se tornou em duas, três…

Veio a surpresa, o Glauber, responsável pelo canal do Youtube Missões na Europa, me convidou para montar um curso de vários vídeos em Português focando na história da Igreja da Europa. Projeto que provavelmente será lançado no ano que vem…

Glauber é responsável pelo canal YouTube Missões na Europa. O meu vôo para Tampa passava coincidentemente por New Jersey onde ele mora. Tomamos um rápido café e nos conhecemos pessoalmente.

O fato é que nunca mais sonhei. O sonho acabou…

Não voltou mais…

Talvez você me diga: “Fábio, e o que isto tem a ver comigo?”

Ora, a gente sonha de olhos abertos. A gente sonha de olhos fechados. Você tem sonhos? Você presta atenção nos teus sonhos de olhos fechados ou abertos? Você tem perseverado nos sonhos de olhos abertos? Você tem dado atenção no que o teu inconsciente está falando, falando e falando…

Os sonhos sempre tiveram uma importância extraordinária no passado. Algumas vezes vista como mágica. Outras vezes recebidas como se fossem mensagens divinas. No mínimo, podemos discernir o que a nossa alma está gritando e latejando, pois em última análise, estamos recebendo informações as mais diversas e variadas do mundo exterior todos os dias, elas se imiscuem com o nosso mundo interior de pensamentos, projetos, desejos, e busca de felicidade, paz e serenidade.

Em uma das minhas palestras em Português no canal YouTube Missões na Europa, eu expliquei como a jornada do Cristianismo se tornou em um fenômeno político e gerou um contexto pós-cristão na França e Europa. Aliás, são 3 palestras. Deixo com vocês o link da primeira delas.

Eu hoje, fico por aqui, já escrevi demais…

Quem sabe encontro mais inspiração e voltamos a falar deste tema.

Um beijo grande a vocês todos, bons sonhos e até a próxima!

Fábio Muniz

Collonges-au-Mont-d’Or, França

 

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem: Arquivo pessoal do Colunista

 

4 respostas

  1. Fábio,
    Seu texto hoje me fez lembrar do sonho que tive essa noite. Meu subconsciente me fez sonhar com algo um tanto quanto dolorido pra mim. Era um sonho feliz, mas que de repente se tornava triste e me fez acordar angustiada.

    Não tenho o mesmo sonho sempre como você, mas o tema é recorrente nas minhas noites de sono. Fico sempre me perguntando: seriam esses sonhos um medo criado pela minha mente ou um aviso, como um presságio? Nunca sei como interpretar.

    Mas prefiro acreditar que sejam medos, como um alerta, de questões que precisam ser resolvidas quando se está acordado. Acordado não apenas no sentido literal, de olhos abertos. Mas acordado para si mesmo, para o seu coração, acordado para o mundo e o que acontece nele e especificamente no meu caso, acordada para o meu relacionamento com Deus.

    Um abraço!
    Adriane

    1. Adriane, olá!
      Obrigado por comentar. Falar de sonhos é falar de uma imensidão de possibilidades. Às vezes os sonhos refletem coisas que tem a ver com o nosso presente imediato e levamos as nossas imagens e impressões do dia a dia para o nosso inconsciente que acaba processando toda a informação acumulada enquanto dormimos. Às vezes tem a ver com um barulho ou movimento que acontece no quarto enquanto estamos dormindo, e o nosso insconsciente capta tal movimento e se transforma em sonho. Pode ser uma experiência do passado que volta para o nosso insconsciente porque de fato não foi resolvida. De qualquer forma, é com olhos abertos que as atitudes e decisões são tomadas. Ora, tais atitudes podem ter a ver comigo mesmo, com alguém, ou como você bem disse, entre eu e Deus. Que Deus te abençoe e continue iluminando a tua jornada. Até a próxima!
      Fábio

  2. Olá filho,graças a Deus q seus sonhos falando português,sua língua materna ,se tornou realidade. Hoje você falando português e escrevendo neste portal….ensinando a nós tds cono viver um sonho….esperar ele se tornar real.Amo acordar e lembrar meus sonhos.
    Deus te abençoe ricamente filho.
    Até a proxima

  3. Super Fábio, que bom que você teve um sossego do sonho que lhe causava angústia, e que bom que você escreve essa coluna semanalmente. Continue escrevendo e nos inspirando a sonhar….
    abraços,

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