Bom dia meus queridos amigos,
Jamais imaginei que, depois de tantos anos lendo sobre Bonhoeffer, visitando campos de concentração como Sachsenhausen (Alemanha), Auschwitz (Polônia) e explorando museus do Holocausto em diversas cidades europeias — depois de ver documentários, filmes e me debruçar sobre esse período sombrio da história — um dia eu estaria cara a cara com alguém que viveu essas experiências de tão perto.
Pois bem, Christiane Lasserre, nascida em 1940, filha de Jean Lasserre, é a minha “vizinha” — a apenas dez minutos de carro, do outro lado da ponte.
E talvez você me pergunta: “Fábio, como você chegou até ela?”
O seu neto, o meu querido amigo François, que participa das nossas Lectio Divina, e nos ajuda com os seus cantos gregorianos, marcou um delicioso encontro e café da manhã entre nós.
Christiane me contou que o seu pai, Jean Lasserre, ganhou uma bolsa para estudar teologia nos Estados Unidos. Lá, ele conheceu e se tornou grande amigo de Dietrich Bonhoeffer. Juntos, viajaram pelos Estados Unidos, México e Canadá, estudando e aprofundando as suas vocações.
Na semana passada, tive a honra de segurar em minhas mãos fotos tiradas por Jean Lasserre de Bonhoeffer, e fotos tiradas por Bonhoeffer de Jean.
E mais ainda, li diários datados de 1924, escritos por Jean, e ouvi histórias sobre tempos de fome e esperança — como no dia em que, com a chegada das tropas americanas à França, os soldados lançavam amendoins para a população faminta.
Na casa de Christiane, ainda hoje, uma latinha de “peanut butter” permanece sobre a mesa — símbolo simples, mas profundo, daquele dia de libertação do jugo nazista.
Christiane também narra como o seu pai, depois de voltar dos EUA, realizava reuniões na França ocupada, enquanto Bonhoeffer já se encontrava preso na Alemanha. Mal começavam as reuniões, os guardas alemães entravam na igreja para monitorar o que seria dito.
Pois bem, tocado por essa história, e pelos meus posts no Facebook e Instagram, um querido amigo e pastor em Minneapolis — profundo conhecedor da vida de Bonhoeffer — me enviou um trecho de uma carta que Dietrich escreveu a Jean Lasserre:
“Você me guiou no aprofundamento da minha teologia luterana, tornando-a mais prática, ao me fazer perceber a importância de uma obediência radical ao mandamento do amor. Para mim, foi como uma canção que penetrou mais profundamente em mim do que eu poderia ter previsto. Mais tarde, já na prisão, vi você como um verdadeiro santo. Foi você quem inspirou o meu livro ‘O Custo do Discipulado’. Aprendi contigo a olhar de forma renovada para o Sermão da Montanha, e despertou em mim o desejo de compreender a atualidade da graça divina.”
Bonhoeffer morreu em abril de 1945, apenas um mês antes do fim da guerra na Europa.
Hoje, Bonhoeffer é estudado e reverenciado nos seminários teológicos do mundo inteiro; há filmes, livros, dissertações sobre sua vida e obra.
Mas poucos conhecem a história de Jean Lasserre — e menos ainda sabem da amizade profunda que moldou a teologia prática e corajosa de Bonhoeffer.
Tive o privilégio de folhear os diários, tocar as cartas, e ouvir da filha de Jean os ecos silenciosos de uma fé vivida no risco e na esperança.
Isso me faz refletir: enquanto o mundo aplaude figuras públicas, Deus observa as sementes plantadas no anonimato — aquelas orações solitárias, feitas no silêncio dos quartos fechados.
Se aplicarmos a teoria dos seis graus de separação, posso dizer que hoje estou a três graus de Bonhoeffer… e a quatro de Adolf Hitler.
Tempo, espaço e culturas nos separam — mas num mundo globalizado, nossas histórias se entrelaçam de maneiras misteriosas e inesperadas.
Que esse entrelaçamento sirva para construir pontes, e não para alimentar a ganância, a soberba, o egoísmo ou a guerra.
Que haja paz.
Que as memórias do passado continuem a iluminar o nosso presente — e nos ensinem que a liberdade, a justiça e o amor continuam a ser atos de coragem diária.
Fábio
Collonges au Mont d’Or
Respostas de 3
“enquanto o mundo aplaude figuras públicas, Deus observa as sementes plantadas no anonimato — aquelas orações solitárias, feitas no silêncio dos quartos fechados.”
Lembrei de um hino: “Eu sou a semente do sangue daqueles que morreram sangrando …”
Feliz por sua rica experiência, meu irmão! Deus continue te mostrando cada dia mais os segredos da nossa história.
Um abraço.
Fillho…você nasceu e vive para ensinar esse mundo a caminhar com FE E ESPERANÇA…E ORAR MAIS E CONFIAR..QUE NOSSO REDENTOR VIVE E BREVE VOLTARÁ.
SUA EXPERIÊNCIA DE VIDA , ATRAVESSA OCEANOS, MARES E TERRAS
DEUS TE ABENÇOE RICAMENTE!!
ATE A PRÓXIMA
“Que esse entrelaçamento sirva para construir pontes, e não para alimentar a ganância, a soberba, o egoísmo ou a guerra.”
Como me agregou conhecer esta estória que faz parte da história de todos nós. Carregada de realidade, de vidas que importavam tanto e que o mundo não conheceu e quem sabe não conhecerá. Enquanto que, o outro extremo, busca ser conhecido por um nada que lhe é atribuído, na ausência da capacidade de ser alguma coisa que valha realmente a pena conhecer!
Que Deus nos ajude a agregarmos valor uns aos outros em meio ao nosso anonimato mais famoso de todos, conhecido nos céus!
Obrigada!