Andrea Ignatti: Nem tudo que reluz é ouro

Quando as coisas ou as pessoas não são o que parecem ser, esse aforismo é que parece ser a coisa mais certa: nem tudo o que reluz é ouro. Porque brilha muito além do valor que tem.

Mas eu vou trocar as ideias, vou trocar de ideia, trocar o roteiro, trocar o papel. Permitam-me.

Jogos Pan-Americanos, por exemplo. Terminaram neste domingo (11 de agosto) com o Brasil na segunda posição: 55 medalhas de ouro ― um recorde, aliás. Ouro vale mais que prata, certo? E prata vale mais que bronze, certo?

Mas pergunte aos atletas brasileiros das outras 45 modalidades que ganharam a prata e das outras 71 que conquistaram o bronze e que, embora tenham olhado automaticamente para o lado mais alto do pódio enquanto o adversário recebia a outra medalha, se é realmente apenas o ouro que reluz. Ei, olha lá no fundo, lá dentro do teu coração, olha a circunferência toda da medalha no teu peito ― não olha pro lado, não ― e diz: a lágrima que escorre no teu rosto também reluz teu esforço, tua vontade, tua superação, teu cansaço, tuas fomes, tuas sedes, tuas dores. E, assim como a medalha de ouro no peito de outros, reluz uma alegria, mesmo que distinta porque distante ― porque simplesmente reluz num tempo e num espaço diferentes. Talvez não hoje, talvez não agora, talvez não no mesmo ritmo em que reluzem os ouros, os diamantes.

O vôlei masculino do Brasil, outro exemplo. No último jogo do ano pela disputa por uma vaga nas Olimpíadas em Tóquio no ano que vem, perdia por 2 sets a 0 da Bulgária, lá na casa deles. Eles pegavam todas as bolas, viravam todas, buscavam todas, ganhavam todas. Ginásio lotado, torcida gritando o tempo todo. Brasil virou, virou, virou! 3 sets a 2! Não, não houve medalha, nem de ouro, nem de prata, nem de bronze, nem troféu algum! Mas, sim, houve muito olhar reluzindo ― de emoção a 100%, e muito choro extravasando isso.

O que existe de valioso e de valoroso não é necessariamente assim palpável, visível, delimitável. Nem tudo o que reluz é realmente ouro. O olhar reluz. A alma reluz. O coração. E o esporte sem isso, meu caro, não vale nem o ingresso, nem o chute inicial, nem o aquecimento, nem o treino, nem o bate-bola, nem o amistoso. Essa luz é que vale ouro.

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