Quase 10 mil quilômetros de distância entre Madrid e Buenos Aires, expõe mais que uma questão geográfica. Trata-se de um abismo histórico de uma vergonha sem precedentes no futebol sul-americano.
A América do Sul está vivendo uma falta de prestígio que mistura vergonha com indignação. E não apenas porque as autoridades policiais não souberam administrar com competência o confronto final da Copa Libertadores entre River Plate e Boca Juniors na segunda partida da decisão, no Estádio Monumental de Nunes.
Recordo-me a uma frase da minha saudosa avó que, com sua sabedoria popular, fazia usou de um ditado simples: “quando começa errado, não costuma terminar certo”. Pois foi exatamente isso o que aconteceu com a competição em 2018.
A entidade que comanda o futebol na América do Sul, não mediu esforços para termos uma final histórica na Copa Libertadores desta temporada. Clubes brasileiros foram sendo alijados da disputa, um a um, por “coincidências” no gramado, ou fora dele, para que a decisão fosse direcionada aos próprios interesses da Conmebol.
Lembre-se do Santos, penalizado pelo uso de um atleta irregular em uma partida, quando a própria Conmebol, consultada, não apontava irregularidade. Só para efeito comparativo, o River Plate também usou um jogador sem condições legais durante toda a primeira fase do torneio. Mas não foi punido.
Podemos citar os “apitos” que prejudicaram o Cruzeiro do zagueiro Dedé, expulso irregularmente no jogo de ida por um “erro” de interpretação do juiz da partida contra o Boca.
Não deixe passar a presença do técnico Marcelo Galhardo, quando mesmo suspenso, entrou no vestiário para orientar seus jogadores, na partida contra o Palmeiras. E por aí vai. Penalizar os argentinos? Não, não era a intenção dos dirigentes. Pelo contrário, abria-se o caminho para a “final histórica”.
Agora, 8 ou 9 de Dezembro, a final da Taça Libertadores de 2018, estava do jeito que eles sonharam: River Plate e Boca Juniores, dois dos maiores clubes da Argentina, pela primeira vez rivalizando numa final de Libertadores.
Havia temor, pelo retrospecto de violência das duas torcidas. Mas o primeiro encontro, em um jogo cordial e de alto nível, no Estádio La Bombonera, calou os críticos. Mas a consciência das autoridades, imagino, estava pesada, impregnada por suas falcatruas e falácias. E veio o jogo da volta. E veio a vergonha.
Quando apedrejaram o ônibus dos visitantes, a caminho do Estádio, já lotado com torcida única, não feriu-se apenas o psicológico e físico dos jogadores do Boca Juniores. Era uma punhalada nas pretensões da Conmebol de realizar “a final do século”.
Tentou-se adiar a partida por horas, depois por dias, sempre para o mesmo palco. Mas a prudência das autoridades não recomendou a nova tentativa de manipular tudo e todos. Estava nas mãos de quem armou tudo para esta final, ter que render-se a uma realidade: a soberba ímpar de manipular tudo e todos, mostrava-se, diante do mundo, uma certeza. A Conmebol perdeu. Foi embora o pouco prestígio que a entidade ainda achava possuir.
Ter que realizar o jogo em Madrid fere a América do Sul em sua alma, descredencia o continente, envergonha a Argentina, mas não só ela. Viramos motivo de piada para tudo e para todos. E a Conmebol que sonha em se tornar uma Uefa, terá que se contentar em ser pequena como a mentalidade dos seus dirigentes.
Não importa quem vai ganhar a partida da volta. Todos nós perdemos, não só pela distância que separa Buenos Aires de Madrid. O que são 10 mil quilômetros separados por uma ignorância administrativa deste tamanho? Que pena, Conmebol.