Toda vez que eu exagerava em alguma coisa, meu pai dizia: “Comer cem gramas de macarrão faz bem, mas comer um quilo de uma vez certamente vai dar dor de barriga”.

Que Tite ia fazer coisa melhor que Dunga no comando da Seleção Brasileira, não tinha dúvida. Basta ver os caminhos percorridos pelos dois a partir de uma mesma referência. Ambos eram considerados retranqueiros. Dunga preferiu o rancor. Tite foi estudar.

Dunga escolheu o embate. Tite preferiu a estabilidade.

Mas o atual treinador da Seleção Brasileira está incomodado com a falta de equilíbrio que o bom futebol e as vitórias do time têm provocado na torcida e, especialmente, na cobertura da imprensa.

“Entendo a empolgação, as manifestações, mas me sinto pressionado em relação a isso”.

“O conjunto determinou um desempenho, e se vocês (jornalistas) puderem ajudar a diluir isso eu vou ficar feliz”.

As palavras ditas insistentemente por Tite deixam claro que ele também considera exagerado ser considerado o “salvador do futebol brasileiro”.

Quatro vitórias e o salto do quinto lugar para a liderança ganharam manchetes. Justas.

A geração considerada fraca, agora é formada por foras de série. Exageros…

Os 7 a 1 – pouco mais de dois anos após a tragédia – são tratados como coisa de um passado distante, que não volta mais. Perigo.

O caminho escolhido por Tite me parece certo. Mas é exagero considerar que o futebol brasileiro está redimido.

Nosso principal jogador, por exemplo – para mim, o único realmente extraclasse que temos – é campeão mundial da indisciplina, na comparação com jogadores que fazem parte do primeiro escalão do futebol mundial.

Somando jogos pelo Barcelona e pela Seleção, Neymar levou 28 cartões amarelos e um vermelho em 126 partidas desde o fim da Copa do Mundo-2014. No mesmo período, Lionel Messi levou 13 amarelos. Cristiano Ronaldo e Alexis Sánchez, 12. Andrés Iniesta, 10.

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Neymar ficou fora de quatro, dos 10 jogos feitos pelo Brasil nas eliminatórias, por causa de suspensões.

Exagero que compromete a imagem de quem quer ser o melhor jogador e também prejudica a Seleção que, um dia, jogou o melhor futebol do mundo.

A Alemanha precisou de décadas, para estabelecer e consolidar a evolução que fez dela campeã mundial com goleada histórica sobre o Brasil na semifinal.

Quatro vitórias sobre adversários do segundo escalão do futebol mundial não me parecem suficientes para tanta euforia.

A fome do brasileiro por um futuro melhor é tanta, que qualquer coisa boa é tratada como feito heróico. Exagero.

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