Foram as primeiras palavras que o Pachecão balbuciou no meio da madrugada, depois de horas em frente à TV, com olhar perdido, vidrado, como se estivesse em estado catatônico.
Já ia chamar uma ambulância do SAMU. Estava preocupado. Achei que o Pachecão tivesse tido um treco. Foi quando ele soltou: “Onde está o Mick Jager?”
– “Não entendi Pachecão. Onde está quem?”
– “O Mick Jagger”, ele repetiu.
– “Faltou ele. Faltou ele…” Ficou falando como se fosse um mantra.
– “O Lula é culpado. A Dilma é culpada. O Temer é culpado. O Nuzman é culpado por essa tragédia”.
Voltei a ficar preocupado com a saúde do Pachecão.
– “Culpados de que tragédia?” perguntei, tentando saber o que se passava na cabeça do Pachecão. Será que está ficando louco?
– “Pô, gastaram bilhões de reais para fazer a Olimpíada. Custava destinar uma verba a mais para trazer o Mick Jagger, botar uma camiseta canarinho nele e mandar o cara para todas as arenas torcer pelo Brasil?”
Foi aí que comecei entender o que estava acontecendo. O Pachecão passou o dia vendo as disputas olímpicas e estava traumatizado com as derrotas da meninas do Handebol, do futebol e do vôlei.
– “Pachecão, o Mick Jagger é um tremendo pé frio”, eu disse.
– “Que absurdo”, ele falou. E continuou a tese.
– “Você não leu na internet? Sabe para quem o Mick torceu na final da Eurocopa?” ele me perguntou. E já respondeu.
– “Para Portugal. E os gajos foram campeões em cima dos donos da casa, os franceses, em Paris. E o Cristiano Ronaldo lá, olhando no telão, todo pimpão com a taça de campeão na mão”, poetizou o Pachecão, numa rima não muito rica.
– “Então”, ele continuou. “Se o Mick Jagger tivesse vindo para cá torcer pelo Brasil, certamente as meninas do handebol, do futebol e do vôlei não estariam chorando pela derrota. As lágrimas seriam de alegria pela conquista da medalha de ouro”.
– “Mas Pachecão, tem dias que a gente ganha. Tem dias que a gente perde. Faz parte do jogo”, disse tentando chamá-lo à razão.
– “Mas não tem lógica”, gritou ele. “Elas ganharam de todo mundo na fase de classificação…”
Fato que não era bem verdade, já que o time feminino de handebol havia perdido para a Espanha, na fase de grupos. Marta e companhia tinham empatado sem gols com a África do Sul, em Manaus, no último jogo da primeira fase, e sofrido para superar a Austrália, nos pênaltis, e avançar para a semifinal. Para o Pachecão, um mero detalhe sem importância. O que ele queria mesmo era entender como – após ter feito cinco gols na Suécia, na primeira fase – a Seleção Feminina de Futebol não tenha conseguido fazer “umzinho” nelas, na semifinal.
– “Como acreditar que as meninas do vôlei, que não tinham perdido um set sequer, foram perder três para a China, a pior entre as classificadas para as quartas-de-final? Mesma coisa a Seleção de handebol. Foi derrotada pela Holanda, que se classificou na “bacia das almas”. Só pode ser azar, sentenciou o Pachecão.
– “Que falta fez o Mick Jagger”, concluiu.
Na mesma hora me veio à mente um ditado popular espanhol: “yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay (eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem). Por via das dúvidas, será que ainda dá tempo de chamar o Mick Jagger???