Fábio Muniz: A Páscoa se aproxima…

Você sabia que a primeira menção extra bíblica e uma das únicas referências sobre o povo de Israel em documentos egípcios, A Estela de Merneptá, data do século XIII a.C, e se encontra no Museu Egípcio do Cairo?

Você sabia que as datas do período do Êxodo são debatidas tanto quanto o nome do Faraó contemporâneo de Moisés?

Alguns datam o Êxodo Bíblico no século XV a.C, mas a maioria dos eruditos trabalha com a hipótese mais provável do século XIII a.C.

Ora, o livro do Êxodo nos mostra que os escravos hebreus estavam construindo as cidades de Pitom e Ramessés, e portanto, o nome mais cotado para ser o Faraó do Êxodo é exatamente o Faraó Ramessés II.

Na realidade, a importância de uma data precisa, do Faraó exato, se foram 8, 9 ou de fato, 10 pragas, qual foi o percurso do povo no deserto, o mar que se abriu descrito na tão conhecida passagem bíblica era o Mar Vermelho ou não, se os fenômenos ocorridos foram extraordinários, ou meramente fenômenos naturais, ou uma combinação de ambos…

Nada disso se torna uma condição Sine qua non para o evento ocorrido chamado Páscoa…

O livro do Êxodo Bíblico jamais pretendeu ser um livro de história, e sim um relato da proclamação da intervenção divina na libertação do povo hebreu das garras dos egípcios como forma de testemunho para as gerações seguintes. Simples assim. Escreveria por horas sobre este parágrafo. Tudo isto me fascina…

Talvez você me pergunte: “Fábio, afinal o que é a Páscoa?”

Antes de responder a tua pergunta, eu gostaria de construir um mínimo de contexto Bíblico e um pouco de pano de fundo ainda que seja superficial para entrar na tua questão.

Pois bem, eu já descrevi o mais básico dos básicos contextos do ponto de vista histórico, geográfico e alguns dos temas mais comentados entre os eruditos e estudiosos do Antigo Testamento Bíblico.

O que eu e você ainda precisamos saber é:

Deus ouviu o clamor do aflito e do oprimido. O sistema social era injusto. Deus conhecia as dores do cansado e do marginalizado. O povo hebreu estava sendo acachapado pelo espírito supremacista e megalomaníaco do Faraó que queria construir o seu nome na história dos homens. Deus viu o sofrimento do povo hebreu escravizado. Havia uma tirania malvada e perversa. Deus se compadeceu do povo hebreu que permaneceu no Egito sendo maltratado e aprisionado por 430 anos…

Você pode imaginar 430 anos? É aproximadamente a idade do nosso Brasil desde a vinda dos portugueses em 1500.

Isto posto, eu e você aprendemos que Deus é o Deus que ouve o clamor do fraco. Deus é o Deus que vê a angústia do pobre. Deus é o Deus que acolhe aqueles que ninguém quer acolher. Deus é o Deus que abraça aqueles que ninguém quer abraçar…

Na realidade, nem para Abraão, nem para Isaque, nem para Jacó, Deus se apresentou com um nome. No entanto, o livro do Êxodo nos conta a trajetória fascinante de um homem chamado Moisés e como ele se torna o protagonista de todo o cenário. Aliás,

Deus decide se apresentar com o Seu nome diante de Moisés e diz: “Eu sou o que sou”. Ele se apresenta como o SENHOR.

Eu não preciso dizer que o nome SENHOR não foi escrito em Português e nem tampouco LORD em Inglês, mas sim em Hebraico. De modo que há aproximadamente 6000 registros bíblicos da palavra, SENHOR, tal e como este que encontramos no Êxodo.

Ora, a composição deste nome é basicamente de 4 letras da língua Hebraica (YHVH) que pode ser vista como Yahweh ou “aportuguesando” chegaríamos ao nome Javé. No entanto, em muitas tradições este nome é visto como algo tão santo, tão sagrado ou tão misterioso que é considerado um nome impronunciável.

E mais do que isto, alguns rabinos judaicos entendem que tal pronunciação é um som como se fora da nossa própria respiração. O som da respiração seria a própria invocação do nome impronunciável de Deus: “YHVH, YHVH…”

E você me diria: “Fábio, o que isto tem a ver com a Páscoa e com o povo hebreu escravizado no Egito?”

Boa pergunta!

Espere mais um momento. Tenha paciência…

Eu disse que deveria te dar um mínimo de contexto…

Conquanto seja impossível saber o número exato de hebreus que marcharam do Egito em rumo ao deserto, este número é estipulado entre 2 milhões de pessoas.

Dito isto, você já parou para pensar em um clamor de 2 milhões de indivíduos?

O respirar de cada criança que chorava ao ver o pai sendo chicoteado era um “YHVH, YHVH…”

O respirar de uma esposa aflita que via o seu marido cansado de trabalhar e carregando centenas de tijolos e pedregulhos era um “YHVH, YHVH…”

De dia e de noite, trabalhando, sendo espancado, morrendo ou tentando dormir por alguns minutos, o respirar de 2 milhões de hebreus era uma constante oração e clamor diante de Deus: “YHVH, YHVH…”

Ora, você sabe muito bem o que aconteceu…

De fato, foi na décima e tão somente na última praga que o coração petrificado do Faraó foi despedaçado. Chegou a morte de todo primogênito. Chegou para todo boi. Chegou para toda vaca. Chegou para todo animal. Chegou para toda e qualquer família em toda a terra do Egito. Chegou para toda e qualquer casa que não houvesse a marca, o sangue do cordeiro aspergido nos umbrais da porta…

Pessach no Hebraico, ou Passover no Inglês é a nossa Páscoa no Português, pois significa literalmente passar por cima…

O anjo passou por cima, e todo aquele que estava coberto foi poupado e experimentou a redenção…

E talvez nos resta uma última pergunta: “Fábio o que isto tem a ver comigo em São Paulo, ou em Brasília, ou ainda neste condomínio de luxo na Barra da Tijuca, ou nesta casinha simples do interior da Bahia, ou ainda nesta cidadezinha do Paraná que tem apenas um semáforo?

Tem a ver simplesmente com o fato de que Deus ouve o clamor da mãe que acaba de ver a bala perdida atingindo o seu filho de 5 anos de idade no meio de uma favela no Rio de Janeiro e chora diante de Deus, e se angustia, e respira “YHVH, YHVH…”

Tem a ver com o pai de família cansado de ser humilhado pelo chefe faraônico e malvado. Tem a ver com a esposa cheia de agonia no coração pelo desprezo recebido do seu marido. Tem a ver com o desespero de uma filha ao ver a sua mãe esperando uma vaga na UTI lotada de gente com Covid. Tem a ver com cada ser humano que anseia desesperadamente sair de anos e anos de escravidão e passar pelo mar da dor em terra seca e chegar ao outro lado na terra prometida…

Se você está assim, eu te convido a pensar no significado da Páscoa.

A gente conversa mais sobre ela. A Páscoa se aproxima e no próximo encontro eu te prometo trazer o significado da Páscoa do ponto de vista dos cristãos.

O Museu Egípcio de Torino é considerado o mais antigo museu do mundo dedicado exclusivamente à cultura Egípcia. É também reconhecido como o segundo maior museu Egípcio ficando atrás apenas do museu do Cairo. Antes de fecharem as fronteiras entre a França e a Itália, tive a oportunidade de fazer uma visita nele e fiquei impressionado.

Desenho que mostra o trabalho escravo dos hebreus no Egito por 430 anos.

 

Até a semana que vem.

No mais, eu te desejo um ótimo dia!

Beijo grande a todos vocês.

Fábio Muniz

Lyon, França

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Imagens 10: Arquivo pessoal do colunista / Museu Egípcio de Torino

Imagens 11: Cedidas pelo colunista

 

 

3 respostas

  1. Explicação histórica, que bom que Deus teve piedade de nós e preparou o livramento JESUS CRISTO para responder aos nossos profundos respiros YHVH..YHVH !
    Excelente reflexão Fábio, continue escrevendo por favor.
    Abs,

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