Fabio  Muniz: A vida é breve e as estações são lindas

– “Papai, porque este ano passou rápido? ” A minha filha Sophia me pergunta enquanto vamos para a escola.

– “Boa pergunta, Sophia. Você sabe por que? ” Eu lhe pergunto olhando bem em seus olhinhos.

“Não sei papai. Mas acho que este ano passou voando. Já estamos no outono, as folhas estão no chão, a neve vai chegar, e logo será o Natal!!”

Depois de alguns dias…

– “Papai quero crescer logo! Quero crescer rápido!! Por que eu demoro para ficar grande? ” A minha filha Júlia me pergunta com uma voz de choro e irritada por não ter uma resposta enquanto eu dirijo o carro e ela me observa do banco de trás.

– “Júlia, o papai pensava a mesma coisa quando tinha a tua idade. O papai não via a hora de poder dirigir, ir na universidade, se casar, morar fora do Brasil…”

– “Mas, papai está demorando demais. Eu não quero esperar!!”

– “Quando você menos espera, você se dá conta que já é hora de ir na universidade, viajar sozinha, e dirigir. E mais ainda, você é quem vai dirigir o carro, e o papai estará no banco do passageiro velhinho, velhinho”. Eu lhe respondo carinhosamente, com um sorriso no rosto e com a consciência de que a vida é breve e as estações são lindas.

É outono. Chegou. As folhas estão no chão. O sol brilha e me dá muita energia enquanto estamos todos bem agasalhados. É a minha estação preferida, porém o inverno está às portas. Na realidade, paradoxalmente percebo que os dias de sol estão se reduzindo, reduzindo…

As folhas de outono se esparramam pelo chão dos parques de Lyon.

Eu sou apaixonado pelo frio ainda que tenha crescido dentro de um clima absolutamente tropical. No entanto, eu vivi suficientemente fora do Brasil para dizer que nestes últimos 20 anos eu experimentei o significado de saber que a primavera carrega o cheiro das flores, o verão nos traz um calor convidativo para o mar, o outono nos mostra que as flores e folhas têm os seus ciclos de vida, e o inverno nos abraça para dentro, para um aconchego do lar, e para o descanso.

Pois bem, você me pergunta: “Fábio, você acaba de descrever as estações do ano, mas a tua coluna de hoje não quer falar das estações da vida?”

Exatamente. Ambas são belas. Ambas são únicas.

Elas carregam as suas alegrias, as suas transformações e os seus processos.

Aliás, me parece que a Sophia começa já a perceber a velocidade da vida. Ainda que tenha apenas 9 anos, a sua rotina com as atividades escolares, aulas de música, atividades na igreja, viagens pra lá e pra cá, e entre outras idas e vindas, ela me diz: “Papai, o ano nem começou, e já acabou…”

Por outro lado, a minha filhinha menor, ainda vive no mundo mágico e na ansiedade de crescer porque o tempo não passa, mas na verdade, o tempo não para. Quando ela menos esperar, ela aprenderá este valor absoluto da existência. O tempo não para.

Isto posto, eu te pergunto: Como você tem vivido as tuas estações? Como você tem encarado os dias de sol, e outros dias que não têm tanto sol? Como você aprecia cada cheiro, cada encontro humano, cada troca de olhar? Como você está passando por esta existência curta e que frequentemente nos visita com cardos e abrolhos?

Eu te convido a caminhar entre as flores e sentir os cheiros das tuas primaveras. Eu te convido a curtir todos os teus verões. Eu te convido a apreciar os teus outonos, porque as folhas caem irremediavelmente. Elas caem. Eu não consigo evitar que elas caiam. Eu te convido a abraçar os invernos. Eles parecem tristes e de profunda solidão. Todavia, nós precisamos dos invernos. Nós precisamos de encerrar ciclos e processos. Eles carregam a beleza singular, e o propósito único tanto quanto cada estação da existência nos ensina a ser melhores seres humanos. Cada uma delas nos ensina que há tempo para saudar e abraçar o novo que acaba de chegar, e ao mesmo tempo, ambivalentemente somos convidados a dizer, “até breve”, pois mais um ciclo acaba de terminar.

No belo Parc de la Tête D’or, as cores do outono se encontram com o frio do inverno que está na iminência de nascer.

O tempo não para. A vida é breve. As estações são lindas.

Quando eu era menino, eu ouvia o Cazuza cantar, e não entendia: “Eu vejo o futuro repetir o passado. Eu vejo um museu de grandes novidades. O tempo não para. Não para não, não, não, não, não para”.

Hoje já não sou mais um menino. Então, eu entendi que… “O tempo não para!”

Até a próxima.

Escrito em Rochetaillée-sur-Saône

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagens: Arquivo pessoal do colunista

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