Fábio Muniz: Perdão: Um caminho à ser lembrado na Páscoa

Bom dia a todos vocês!

Eu espero que vocês tenham passado uma ótima Páscoa.

Eu sempre gostei de chocolate. Cresci comendo ovos de Páscoa. Gostava de todos os tipos: branco, ao leite, crocante, e por aí a minha lista vai…

No entanto, com o meu colesterol alto e um estômago muito sensível, as “delícias pasqualinas” se reduziram a um pedacinho de ovo que pego das crianças.

Ora, a Páscoa tem o seu significado mais claro quando se escreve em Inglês, “Passover”. E você me pergunta: “Fábio, porque o melhor significado encontramos na palavra inglesa?”  A razão é simples. “Passover” é literalmente passar por cima.

De modo que o significado se amplia quando se entende o contexto no qual estamos imersos. Dito isto, este significado se estenderia para passar por cima, e cuidar, proteger de todo mal, e justificar, fazer a propiciação, e cobrir.

Pois bem, e qual contexto estamos falando?

O contexto segundo a tradição judaica tem a ver com a saída do povo judeu do Egito.

Eu não preciso escrever o que você já sabe: a história de Moisés, o povo escravizado por 430 anos no Egito, e as tão conhecidas 10 pragas que foram enviadas ao Egito até que Faraó cedesse e permitisse que o povo judeu saísse das suas terras.

De modo que é exatamente na última praga que o “Passover” toma lugar na história dos judeus em terras egípcias. Você se lembra?

Êxodo 12:13: Representação – O sangue nos umbrais da porta- NTLHO sangue nos batentes das portas será um sinal para marcar as casas onde vocês moram. Quando estiver castigando o Egito, eu verei o sangue e então passarei por vocês sem parar, para que não sejam destruídos por essa praga. Fonte: https://www.projetoadoradores.org/

Na casa onde houvesse o sangue do cordeiro nos umbrais da porta, o anjo da destruição passaria por cima, seria um “Passover”, seria uma “Páscoa”, sendo assim, todo e qualquer animal, e sobretudo, os filhos, os primogênitos de todas as casas e famílias, seriam guardados, seriam cobertos, seriam protegidos, desde que e tão somente se houvesse o sangue do cordeiro nos umbrais da porta.

Na realidade, todos nós precisamos deste “cobrir” em um grau maior ou menor. Todos nós precisamos desta “Páscoa” para sermos cobertos dos nossos equívocos conscientes e inconscientes. Todos nós que somos frágeis, limitados, cheios de paradoxos e ambiguidades. Enfim, todos nós que somos seres humanos.

Um dos primeiros símbolos desta cobertura, desta “Páscoa”, deste vestimento consciente que o ser humano percebeu que não se bancava por si mesmo, e não tinha como se justificar, e portanto, necessitava de tal garantia, ocorreu como arquétipo no jardim do Éden segundo a tradição judaica-cristã.

Representação: Adão e Eva se cobrindo com folhas de figueiras. Fonte: Igreja Universal do Reino de Deus

Ora, Adão e Eva se sentiram nus e se cobriram com folhas de figueiras. Do ponto de vista psicológico, eles se cobriram porque se sentiram culpados, inadequados, incoerentes, e perdidos com as suas limitabilidades.

As folhas não eram suficientes para cobrir o perdão. Diz o texto do Gênesis que Deus matou um animal, cobriu os dois com a pele do mesmo, derramou o sangue do animal, e o “Passover” tomou lugar no Éden do Gênesis.

De modo que na fé cristã, este arquétipo de Adão e Eva, e a viagem pela Páscoa do Egito, chegam no seu ponto convergente quando João Batista diz sobre Jesus, “Eis aí o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”

Já não são mais folhinhas. Já não são mais pragas e umbrais…

Representação: Crucificação de Cristo. Fonte: Crux Sacra Formação

 

 

Chegou a Páscoa dos judeus na Palestina dos dias de Jesus há 2000 anos, e sendo assim, ele Jesus, foi morto para que na tradição da fé cristã, a Páscoa fosse celebrada com a sua morte, com o perdão, com a propiciação, com a cobertura, com a redenção das nossas doenças culturais, da nossa pequenez e mediocridade humana, e com a redenção dos nossos equívocos conscientes e inconscientes. E mais ainda: segundo as narrativas dos Evangelhos e da fé cristã, Jesus o Cristo, ressuscita dentre os mortos no terceiro dia.

Eu escrevi este texto de uma maneira sintética e simples. Na verdade, poderia ser um preâmbulo de um livro de centenas de páginas. No entanto, neste momento de Páscoa eu gostaria de lembrar apenas a frase que Jesus mencionou ao ser morto. Você a conhece?

Podemos lê-la no chamado Evangelho segundo Lucas: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.”

Ora, nestes dias de guerra e tanta polarização. Nestes dias de tanta brutalidade nas ruas e inimizades gratuitas. Nestes dias de tanta inveja e busca pelo poder. Nestes dias de tanta ganancia e falta de paciência. A impressão que tenho é que perdão é uma palavra esquecida, obsoleta, e perdida no nosso vocabulário.

De fato, não percebemos que Jesus está nos ensinando a perdoar mesmo quando os nossos ofensores não nos tenham pedido perdão.

Isto posto, a proposta do perdão está para além das minhas emoções e sentimentos. Perdão é uma decisão. Se eu estivesse naquela cruz, eu certamente não estaria sentindo nenhum desejo de perdoar. Nenhuma emoção. Por isso, perdão é uma decisão.

Decisão para que eu não me torne refém da amargura. Decisão para que eu aprenda o caminho sobremodo excelente que é o amor. Decisão para que eu não fique sequestrado e tampouco refém dos meus ofensores mesmo que eles não estejam “nem aí para mim”. Decisão para que eu aprenda que eu fui perdoado e sou perdoado todos os dias.

Eu posso imaginar quantas vezes por dia a minha esposa, Johnna, tem que me perdoar e “passar por cima” de coisas que nem eu mesmo me dou conta. Coisas nas quais machucam sem eu perceber, coisas nas quais mostram a minha fragilidade, coisas nas quais mostram a minha necessidade de ser perdoado.

Perdoar: o livramento da alma. Fonte: Folha Vitória

Perdão é um caminho a ser lembrado na Páscoa, mas é uma trilha que nos leva por pegadas da compaixão e estradas da misericórdia que seguirão nos ensinando uma lição muito simples: na jornada desta existência se quisermos viver bem e em paz com nós mesmos e com o nosso próximo, o caminho será feito e coberto, pelo perdão.

 

Perdão e Felicidade. Fonte: O melhor com Deus

 

 

 

 

 

 

 

 

Fábio Muniz

Collonges-au-Mont-d’Or

**O conteúdo e informação publicado é responsabilidade exclusiva do colunista e não expressa necessariamente a opinião deste site.

Imagem de Capa: Maxta: com o perdão da palavra.

2 respostas

    1. Obrigado, Armandão.
      Que possamos viver está síntese todos os dias. Que todos os dias seja uma “Páscoa” para cada um de nós.
      Um forte abraço.
      Fábio

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