Fábio Muniz: Sendo eternos aprendizes: Pais e Filhos, uma trilha pouco percorrida

…E converterá o coração dos pais aos filhos e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha e fira a terra com maldição.

Malaquias 4:6

Bom dia meus amigos queridos da jornada!

Você é pai? Você é mãe?

Se você tem o papel de pai ou mãe, você sabe muito bem que ser pai ou mãe é um dos papéis mais extraordinariamente belos da existência humana, tanto quanto paradoxalmente, um dos mais difíceis e complexos…

Ora, caso você não seja nem pai ou mãe, você é filho ou filha.

Portanto, é com você que eu estou falando também…

Este é um chamado para todos nós!

Esta é uma trilha que poucos percorrem…

Somos eternos aprendizes. Não nascemos sabendo. Não nascemos com um software instalado em nossos cérebros que nos ajuda a educar os nossos filhos. Não temos programações prontas para saber como responder aos nossos pais…

Eu me lembro que quando a minha primeira menina Sophia nasceu, eu já tinha lido muitos artigos na Internet, participado de cursos com a minha esposa, e depois a “formação acadêmica” seguiu crescendo exponencialmente…

Tal formação não parou mais…

Aliás, a minha querida esposa vem dos Estados Unidos e é apaixonada pela leitura e metodologia de um milhão de assuntos…

Eu sou apaixonado pela leitura também. No entanto, logo no início da nossa jornada como pais, eu percebi que as teorias ficariam muito aquém e abaixo daquilo que se tornaria uma esteira na existência de um aprendizado eterno e um caminho que poucos aprendem a trilhar: um caminho da humildade de saber que sabemos muito pouco e o que prevalece é a estrada do amor…

Dito isto, quando nasceu a minha segunda filhinha no Japão, a Júlia, eu já estava consciente do significado de ser pai. Mas, ainda não havia vivido a intensidade de ter duas meninas pequenas, viajar o mundo inteiro, transitar em 3 ou 4 idiomas, sem a ajuda dos meus pais ou sogros por vivermos longe deles, sem a presença de familiares, tio ou tias, primos ou primas, e jamais imaginei, que a Sophia com 2 anos de idade estaria voando para Fujisawa, Japão, tendo o número 33 como número de voos realizados até aquele dia…

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Pois bem, este preâmbulo é simplesmente para falar algo que tem a ver comigo e com você porque estamos em um terreno onde psicólogos do Mackenzie podem tentar nos ajudar, professores da Harvard podem opinar, filósofos e educadores da Oxford podem nos ajudar a entender…

No entanto, é apenas com os nossos erros e acertos…

É apenas com jornadas cansadíssimas e que parecem intermináveis…

É apenas sendo suficientemente honestos com nós mesmos, com os nossos filhos, com os nossos pais…

Aprendemos…

Aprendemos que os dias são longos e os anos voam…

Não há um dia sequer que eu não seja desafiado a converter o meu coração ao coração das minhas duas meninas, Sophia (8) e Júlia (5).

A Sophia já tem 8 anos. A Júlia acaba de fazer 5 anos. Parece que foi ontem…

Mas, quando o dia começa e quando o dia acaba, estamos exaustos…

Parece que nunca vai acabar…

O texto acima na coluna é um versículo da Bíblia Sagrada, vindo especificamente da tradição judaica-cristã, do chamado Velho Testamento…

A sua autoria está relacionada com o profeta Malaquias que viveu 5 séculos a.C. e resume um conceito válido para qualquer geração, cultura e idioma…

Este conceito não tem data de expiração!

Na realidade, a conversão dos pais aos filhos, e a conversão dos filhos aos pais tem a ver com o respeito…

Tem a ver com a paciência de escutar o papai ainda que ele me conte a mesma história 10 mil vezes…

Tem a ver com o fato de saber que a minha filha utilizará os meios tecnológicos com muito mais facilidade do que eu…

Tem a ver com as diferenças geracionais…

Tem a ver com a consciência de ser filho e poder dar saltos em conhecimento e “deixar para trás” papai ou mamãe em alguns assuntos que posso dominar, mas jamais estarei na frente deles quando o assunto for experiência na existência, trato da dor e da perda, e sobretudo sabedoria prática…

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Ora, melhorar os nossos pais em nós para não cometermos os mesmos equívocos é o significado de “Honrar pai e mãe…”

Ao mesmo tempo eu devo ter a consciência que as minhas filhas me melhorarão nelas mesmas…

Ser pai, ser mãe é fazer uma viagem ao passado e resgatar a nossa inocência infantil para poder se juntar aos nossos filhos, brincar com eles, rir com eles e viver um presente descomplicado que reflita o presente momento. Deixando para trás um passado que é imutável, tanto quanto a ansiedade de coisas futuras que nem mesmo sabemos se vão suceder.

 

Acabo de voltar da Grécia. Estive sozinho em Atenas e Patmos. Enquanto estava trabalhando, viajando, visitando lugares históricos, me reunindo com colegas de projetos…

Eu me lembrei com muito carinho da Johnna, Sophia e Júlia…

Você me perguntará: “E porque tal lembrança te veio na mente, Fábio?”

Centenas de vezes, eu esperei um momento assim para poder trabalhar em algum projeto, terminar uma reunião no Zoom, falar com alguém no telefone. Os dias são longos, e os anos são rápido…

Porque eu passei por algumas das ruas que todos nós, eu, a minha esposa, e as nossas meninas, tínhamos passado quando visitamos Atenas há aproximadamente 3 anos antes da era COVID-19.

Não preciso dizer que naquela primeira viagem não consegui produzir 1/3 daquilo que produzi nesta última semana, trabalhando intensamente na geografia grega e dormindo entre 4 e 5 horas por noite…

O privilégio é meu e teu de formar “príncipes” e “princesas”. O privilégio é meu e teu de sermos mentores, tutores, educadores da próxima geração.

Entender as estações da vida é uma sabedoria que todos nós somos convidados a abraçar. Entender que a vida com crianças pequenas, nos traz um outro ritmo de música, um outro tom, um diferente diapasão com respeito a ter crianças na adolescência ou em fase adulta…

Na realidade, o conceito é imutável: a conversão dos pais aos filhos e vice-versa é o único antídoto contra a maldição do desamor e desafeto, da divisão e do rancor.

Milhares de vezes somos surpreendidos pela criatividade e genuína alegria dos nossos filhos. Subitamente, a Júlia aparece e arranca risos dos “adultos-pais” que frequentemente perdem o bom humor entre o vai-e-vem do dia a dia. “Quem sou eu??” Ela mesma responde, “Sou o papai!!”

Nunca é tarde demais para que este processo se instale dentro de nós.

Seja eu ou você pai, mãe, filho ou filha.

Somos convidados a fazer esta jornada da conversão todos os dias, apesar de ser uma trilha pouco percorrida.

O processo desta conversão de pais aos filhos passa pela decisão intencional de parar o mundo para passar tempo com os nossos filhos. Paramos o celular, paramos o WhatsApp, paramos o Facebook, paramos o projeto no computador, paramos tudo para não perder um momento único e singular que temos no hiato da nossa existência entre eles crescerem e se tornarem adultos.

Boa semana a todos vocês!

Fábio

Collonges-au-Mont-d’Or

 

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Imagem capa: Foto divulgação Internet

Imagens: Arquivo Pessoal do Colunista

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